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VESICA PISCIS



A vesica piscis é a interseção de dois discos com o mesmo raio, de tal forma que o centro de cada um fica no perímetro do outro. A área central é chamada de “mandorla”, palavra italiana que deu origem a “mândola”, que significa “Amêndoa”. Essa área ogival é formada por dois triângulos equiláteros e quatro segmentos circulares iguais, que aparecem em azul no desenho abaixo.



A linha central horizontal dá origem ao quadrado, que equivocadamente está desenhado voltado para o lado de cima, quando esotericamente deveria estar voltado para baixo, pois o quatro e o quadrado simbolizam a matéria. Esse espaço da “amêndoa” também constitui o primeiro passo para a construção de um triângulo equilátero com régua e compasso, como vemos no terceiro desenho acima. Dessa geometria da criação vem a ideia do Arquiteto do Universo.

Em latim, "vesica piscis" significa literalmente "bexiga de peixe", pela semelhança da forma com a " bexiga natatória " encontrada na maioria dos peixes. Os dois arcos centrais que se cruzam em uma das extremidades, estendendo-se além do ponto de encontro, assemelham-se ao perfil de um peixe, símbolo usado desde o Cristianismo Primitivo.

Albrecht Dürer (1471-1528), pintor, ilustrador e matemático alemão, que viveu na Renascença, foi buscar na tradição dos geômetras medievais o termo, “bexiga de peixe”, para designar as figuras que resultam da intersecção de dois círculos.

Entretanto, a origem desse símbolo não é medieval, ela vem do antigo Egito, pois seu símbolo foi encontrado no Templo de Osirion pelos arqueólogos Flinders Petrie e Margaret Murray, quando eles estavam escavando o Templo de Abidos, entre 1901-1903. Acidentalmente eles descobriram o Osirion, um Templo que fica por atrás e abaixo do Templo de Seti I em Abydos. O Osirion foi construído em um nível mais baixo do que o Templo de Seti e é muito mais antigo; ele foi feito com enormes blocos de granito vermelho, extraídos de Aswan, que fica a mais de 300 km de distância. Suas colunas podem chegar a cem toneladas, impressionam e deixam muitas perguntas ainda sem resposta.

Crédito:

Em uma dessas colunas os arqueólogos encontraram um estranho desenho, duplicado, que recebeu o nome de FLOR DA VIDA. Embora haja uma discussão infindável sobre a origem dos desenhos e de como elas foram feitas, o fato é que o desenho estava lá quando o templo foi escavado. Depois dessa descoberta em 1902, os estudiosos das chamadas ciências ocultas começaram a correlacionar as novas descobertas com os seus conhecimentos. Então, muita coisa passou a fazer sentido desde então, incluindo esse estudo feito por Albrecht Dürer. Eles significam os primeiros movimentos do ABSOLUTO – do UNO – para a criação do mundo material. O vésica piscis simboliza o ventre da “Mãe Cósmica”, o ovo da vida, o fruto da vida, a flor da vida..



Leonardo da Vinci também conheceu e usou esse símbolo em suas obras, fascinado com as propriedades matemáticas que ele contém. A imagem da Flor da Vida é formada por círculos distribuídos uniformemente com espaçamentos iguais. A partir do centro de cada um são criados seis novos círculos, formando sete na primeira volta, sendo que o primeiro representa a própria Essência Divina.



O peixe está relacionado ao cristianismo e aparece em diversas parábolas bíblicas. Os primeiros cristãos o utilizavam, incluindo os cristãos gnósticos. De origem muito antiga, o vesica piscis foi encontrado em inúmeros sítios arqueológicos espalhados pelo mundo, inclusive na Cidade Proibida, na China cuja construção começou no ano de 1406. Contudo, ele foi imortalizado nas catedrais góticas, séculos antes.

Abade Suger e a nave da Catedral de Saint Denis. França


Abade Suger (1080 - 1151) foi prior da basílica Saint-Denis desde 1122 (ano de nascimento de Eleanor de Aquitânia) até sua morte. Hábil diplomata, foi conselheiro de Luís VI e de Luís VII, primeiro marido de Eleanor. Suger assumiu a Regência da França durante a Segunda Cruzada, quando o rei e a rainha se afastaram para ir à Terra Santa. Suger era téologo, gostava de poesia e, como patrono das artes, organizava espetáculos litúrgicos. É considerado o primeiro mestre-de-obras da arquitetura gótica, pelas inovações promovidas na Basílica de Saint-Denis. O Abade Suger entrou em contato com os segredos da simbologia da vesica piscis através de Eleanor de Aquitânia.

Em sua versão matemática, o estudo desse símbolo foi preservado pela Biblioteca de Alexandria e espalhada pelo mundo através dos árabes, tendo sido levada pelos mouros para a Península Ibérica. No entanto, como já vimos, naquele tempo os mouros e judeus trocavam seus conhecimentos.

Rabi Rashi. https://www.nli.org.il/en/discover/judaism/figures/rashi


Rabi Rashi (1040-1105), nasceu, viveu e faleceu em Troyes, comentarista clássico da Torá e do Talmud, organizou o alfabeto hebraico e desenvolveu uma interpretação geométrica a partir da Vesica Piscis. Ele foi Mestre da Escola Rabínica de Troyes, cidade que fica no condado de Champagne, do qual Marie, filha de Eleanor seria condessa em anos vindouros. A Escola Rabínica de Troyes ficou famosa pelos seus estudos cabalísticos. Troyes também emprestou seu nome a Chrétien de Troyes, responsável por escrever o romance mais importante do ciclo do Graal. Lancelot, o cavaleiro da charrete.


Dos estudos sobre a simbologia da Vesica Piscis realizados entre os mouros e os judeus medievais, surgiram os primeiros projetos para colocar em pedra tais conceitos, secretamente reservados aos mestres construtores,organizados nas GUILDAS, nome dado às corporações de ofício no século XII. Tanto os judeus quanto os muçulmanos mantinham estudos místicos, em grupos esotéricos (diferente dos exotéricos), cuja tradição nasceu no Egito. Tais conhecimentos místicos chegaram até a Idade Média, mas por causa da Inquisição eles tiveram que ser transmitidos secretamente, até mesmo dentro do próprio clero, por medo de serem interpretados como heréticos por seus oponentes, que eram maioria na época.

Os ensinamentos místicos foram compartilhados apenas por um pequeno grupo de prelados, por alguns Mestres construtores das catedrais e por poucos Mestres Artesãos das Guildas. Estes segredos deram origem às sociedades secretas, tais como a Maçonaria, Rosa Cruz e outras.


Os egípcios das primeiras dinastias tinham pleno conhecimento de que o finito não podeabranger ou dimensionar o infinito, que o imperfeito não pode definir o perfeito. Para eles, tudo começou na Mente de um ser, que a Maçonaria chama de Arquiteto do Universo;essa mente deu origem a tudo quanto há. Os egípcios a chamaram de NETER, uma palavra mal traduzida. A antiga religião egípcia, diferente do que muitos pensam, não era politeísta. Para eles, TUDO, absolutamente tudo, teve origem no UNO, na UNIDADE e para ela voltará um dia. A palavra neterse aproxima mais do conceito de ‘energia’, que afinal ainda carece de definição até os dias de hoje, apesar do avanço da ciência. OUNO não podia ser representado, porque não tinha forma, nenhum atributo lhe podia ser dado, pois era um oceano de possibilidades,todas IMATERIAIS. Tudo existia de forma latente na mente divina, mas nada existia fora de sua mente.

E la estava o UNO ou a UNIDADE, incriada, imortal, invisível, onisciente, onipresente, infinita. E o UNO começou a ficar entediado, porque nada acontecia fora de sua mente. Então, cansadodessa monotonia, desejou criar. E assim, “Deus quis ver a face de Deus. A mente divina está aqui representada como um ponto adimensional.

Esta mente superpoderosa começou por estabelecer uma emanação de si mesma, uma projeção a partir do seu centro, do seu querer, do seu desejo, então criou um espelho de si mesma, um novo círculo, que também possuía um centro, e entre eles um espaço. Os dois pontos centrais traçaram uma linha imaginária, que significa o querer de Deus. Obviamente esta imagem é didática, pois o Absoluto não pode ser limitado por nada.

Ao produzir uma emanação, a Mente divina gerou uma imagem de si mesma, como se fosse um espelho, um reflexo, o DOIS, a dualidade, a polaridade, a imagem refletida no espelho. Por isso Hermes Trimegistos diz que “O que está em cima é semelhante ao que está em baixo”, mas não igual ao que está embaixo. No mesmo instante e em decorrência de sua emanação, surgiu a intersecção, o TRÊS, o Filho, feito a imagem e semelhança do Pai, o único CAMINHO que leva ao Pai. E a mente de Deus continuou criando.



Este movimento espiral continuou até completar a primeira volta, quando surge a Flor da Vida. E o movimento continuou até formar três voltas completas. Os movimentos da criação da vida são reconhecidos pela ciência na mitose, depois na divisão celular em quatro, oito até chegar aos milhares. Na horizontal representa a boca, de onde sai a palavra – O verbo se fez carne e habitou entre nós. Quando duplicado representa os olhos, porém quando está na vertical simboliza a consciência ou o terceiro olho. Este símbolo também é o peixe e o caminho. A vésica piscis também simboliza a passagem estreita por onde a mulher dá a luz.



O “Olho de Hórus” é um símbolo egípcio que traduz os primeiros movimentos da criação, assim como a união do Princípio Feminino e do Princípio masculino, sem a qual nada se cria. No antigo Egito a interconexão dos dois círculos primordiais era chamada de RU, que significa “portal para a LUZ”. É o portal por onde a mulher é fecundada e a mãe dá a luz. É o portal para a consciência, que simbolicamente é buscada através da visão, do olho que tudo vê, e da boca, que emite o som primordial. Além da UNIDADE, representada pela Iris, o Olho de Hórus traz o traço vertical = o obelisco, símbolo de sua potência criadora. Pela perfeição divina, o masculino se integra ao feminino, e gera a vida.


Os pontos A e B, simbolizam o “querer de Deus” – mas para criar ele aciona o Princípio Feminino e o Princípio Masculino que existem dentre de dele, assim como de todos nós. Se Deus fosse unicamente masculino ele não poderia ser ABSOLUTO, pois existiriam as mulheres e estas estariam FORA DO ABSOLUTO. Para ser ABSOLUTO, a divindade deve conter dentro de si o masculino e o feminino. Estes dois princípios estão representados na cruz formada pelos pontos A e B + C e D. A reta A e B simboliza o QUERER de Deus, por isso todo arco gótico trará essa pequena trave, símbolo do querer divino.



Já a linha que une os pontos C e D na vertical, simbolizam a potência divina, representada no obelisco, inegavelmente um símbolo fálico que se projeta para o azul do céu.



Estes símbolos estão representados na Cruz Ansata, que por sua vez é símbolo da união entre o masculino e o feminino, origem da vida e símbolo da primeira respiração. O símbolo do vescica piscis foi utilizado na construção das grandes catedrais góticas da Europa. Os Mestres construtores sabiam do seu significado, porém, pelas razões que já conhecemos, tiveram que guardá-lo como grande segredo, escondido até mesmo da maioria do clero, sob risco de acabar na fogueira.


O vescica piscis está na origem do arco gótico, maravilha talhada em pedra nas catedrais medievais. Este conhecimento hermético foi passado pelos gnósticos alexandrinos aos judeus, aos primeiros cristãos gnósticos e depois herdados pelos muçulmanos. Quando eles chegaram na Península Ibérica deram início ao ciclo de mudanças que estão na origem do Amor Cortês, do Trovadorismo, do Ciclo do Graal, do catarismo e das catedrais góticas. Contudo, era impossível explicitar seu significado naqueles tempos sombrios.

Notre Dame de Paris

As portas das catedrais eram verdadeiros PORTAIS que marcavam a passagem do mundo exterior para a luz interior, luz divina, luz que penetrava pelos magníficos vitrais e davam ao interior das catedrais uma característica mística. Tudo ficou em segredo. E não podia ter sido de outra maneira. Impossível revelar naquele momento o simbolismo da união entre o Sagrado Feminino e o Sagrado Masculino. E este aspecto sagrado da sexualidade ficou guardado a sete chaves pelos mestres construtores, sendo revelado apenas aos iniciados.



Porém, este segredo chegou na Península Ibérica através dos livros, tal como este abraçado carinhosamente pelo Cristo, em um gesto muito corajoso na época em que livros eram proibidos e queimados. Trazidos pelos mouros, herdeiros da Biblioteca de Alexandria, em Al Andaluz, um grupo pequeno e confiável de judeus, cristãos e muçulmanos discutiam entre si os antigos segredos do Egito.



Eleanor de Aquitânia amava os livros e conhecia esses segredos. Era preciso que outras e outros também o soubessem,então ela criou uma forma de repassá-los às outras mulheres corajosas e homens sensíveis, mais propensos a amar os livros do que a queimá-los, desejosos de amar e ser amado/amada.

Eleanor e sua filha, Marie de Champagne conheceram o segredo do vesica piscis,assim comoo papel destinado à mulher nesse modelo, tão diverso daquele imposto pela Igreja católica romana. Elas foram protagonistas de uma outra fidelidade. Da “Fidelidade ao Amor”, contrariando as leis impostas pela Igreja corrupta de Roma que exigia fidelidade ao marido arranjado e violento. Elas começam a entender que a indissolubilidade imposta pela Igreja tinha por objetivo preservar a posse de terras, sobretudo para os homens, enquanto a mulher ficava refém do contrato de casamento pelo resto de sua vida.

A Guerra dos cem anos começou por causa da disputa das terras de Aquitânia: elas ficariam com o rei francês ou com o rei inglês? Foi contra esse modelo de casamento que Eleanor, sua filha e as mulheres de Aquitânia se rebelaram. Elas ainda se perguntavam: Foi Deus quem uniu ou foram os interesses terrenos? É possível haver amor em um contrato de casamento desse tipo?

Catedral de Saint Denis


O Abade Suger, amigo e confidente do rei francês Luís VII e do pai dele (sogro de Eleanor de Aquitânia), decidiu reconstruir a grande Abadia de St Denis, anexada a uma residência real. Ela é o mausoléu dos reis franceses, que lá foram sepultados, sobretudo depois do século X até o século XVIII, incluindo os decapitados Luis XVI e Maria Antonieta.

As obras foram iniciadas em 1140 inaugurando o estilo gótico projetado pelo Abade Suger para a fachada de St Denis, substituindo o arco românico semi-circular, pelo arco ogival, e uma grande rosácea instalada na área central superior. Esta característica tornou-se dominante nas fachadas de estilo gótico da França, que logo expandiu-se para a Inglaterra e demais regiões. Este projeto tornou-se modelopara uma série de catedrais por toda a Europa.

As paredes maciças, em pedra, foram vazadas e preenchidas por grandes vitrais, que deixavam a luz entrar no ambiente. A roseta simboliza o mundo transcendente, representa a UNIDADE, o ABSOLUTO, por isso está sempre posicionada acima.

Crédito: Catedral de Chartres agoras.typepad.fr

O reflexo da Roseta representa a Flor da Vida, A Verdadeira LUZ, a Luz Transcendente, que foi plasmada no chão das catedrais em forma de labirinto, símbolo do caminho de volta para a UNIDADE DIVINA. O labirinto significa o mundo Imanente, criado, resultado das múltiplas emanações divinas, o nosso mundo, que nada mais é que o reflexo distorcido do mundo Transcendente, por isso ilusório e imperfeito. Caminhar pelo labirinto de uma catedral guardava o mesmo simbolismo que fazer uma peregrinação à Jerusalém, ou trilhar o Caminho de Santiago de Compostela. Seu significado é sempre o mesmo: a busca de si-mesmo, a descoberta de sua conexão com o divino, o mergulho no Oceano de Possibilidades e o encontro com a Unidade primordial. Esta é a origem da prece: “Eu sou um com a luz que brilha em minha alma, com meu Mestre e com todos os meus irmãos”.


Como todo símbolo, o vesica piscis está carregado de significados, que originaram novos símbolos, uns se sobrepondo aos outros, em camadas. O vesica piscis está na origem dos triângulos com o vértice para cima e para baixo, ambos com significados semelhantes = o nascimento. Nas catedrais, acima de cada portal, há um triângulo com vértice voltado para cima, indicando o caminho de volta para a UNIDADE. O vértice para baixo significa o nascimento terreno, a chegada no mundo material. O oco do arco ogival representa o útero, lugar onde é gerada a vida. O arco ogival simboliza a sexualidade sagrada, a união do homem e da mulher para criar uma nova vida.


O vesica piscis representa o Filho, aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. A Verdade está representada pelo livro, símbolo do saber e da consciência, que controla e comanda os instintos. Sabedoria não significa acúmulo de livros. Há pessoas que nem sequer sabem ler e são repletas de sabedoria. Consciência não está subordinada aos livros, mas eles ajudam, certamente.


O arco ogival também era chamado de arco gótico. O termo gótico só apareceu nos séculos XVII e XVIII referindo-seaos godos, povo germânico chamado de “bárbaro”, se contrapondo aos gregos e romanos, que eram considerados “cultos” na época do Iluminismo. Ao longo do tempo o termo foi ganhando novas conotações, ao mesmo tempo em que os segredos da vesica piscis foram sendo revelados.



Bibliografia:

1) Filipe Alberto da Silva, A figura da Mandorla e da Vesica Pisces. As suas possibilidades de construção. Universidade de Lisboa – Faculdade de Belas-Artes, 2013. in https://lusophia.wordpress.com/2021/07/16/notas-sobre-geometria-sagrada-por-vitor-manuel-adriao/

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