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A Deusa Tríplice e o Islã



Por que os muçulmanos se tornaram tão violentos? Por que razão a mulher é tão inferiorizada no islamismo? Como sempre, a resposta para cada uma destas perguntas não é simples e a causa nunca é única. Não há como responder tais perguntas sem traçar um pano de fundo para o surgimento do islamismo.


Antes de existir as religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) existiam muitos deuses e deusas. Era o chamado politeísmo. Contudo, antes de existir o politeísmo, existiu a GRANDE MÃE e seu culto persistiu durante muitos milênios. O culto à Grande Mãe celebrava a MÃE NATUREZA. Não eram dois cultos diferentes, eram o mesmo culto, integrados. A Grande Mãe e a Mãe Natureza eram as duas faces da mesma moeda. Ambas personificavam o nascimento de tudo quanto há, seja uma flor, um pássaro, uma baleia ou um ser humano. Por essa razão o sexo era uma expressão da natureza. Nas religiões ditas pagãs, a mulher não era “demonizada”, o sexo não era “demonizado”, porém ambos foram demonizados pelas religiões monoteístas.


O fato de “dar a luz” revestia a mulher de muito poder e, ao mesmo tempo, de um profundo mistério, quase místico. Por isso, as religiões pagãs reverenciavam a mulher e seu poder de trazer novos seres ao mundo. A mulher e a natureza eram reverenciadas e respeitadas. Com o surgimento do monoteísmo, ambas foram dominadas e demonizadas.



A peça em ouro vista acima, hoje exposta em museu, foi desgastada por causa do costume dos muçulmanos de tocá-la e beijá-la. Tal peça foi substituída várias vezes e renovadas por outra feita em ouro ou prata. Elas encontravam-se (ainda se encontram) em um dos cantos da Caaba, centro de peregrinação na cidade de Meca, um dos lugares mais sagrados do Islamismo.



Em árabe, a palavra “Caaba”, significa “Cubo”. Caaba também pode significar “Casa”, pois este era o formato tradicional das moradias.


Sítio arqueológico de ÇatalHuyuk, Turquia


Esse tipo de construção foi encontrado em vários sítios arqueológicos do período neolítico, desde Çatal Huyuk, na Turquia até Harapa no Vale do Indo, passando pela Península Arábica. Muito antes do Profeta Maomé, o lugar onde está a Caaba já era um lugar de peregrinação. O comércio da cidade girava em torno dos peregrinos que vinham de toda a Península Arábica e se dirigiam ao santuário para prestar reverência aos seus deuses, sobretudo às deusas.


Al Lat, Al Uzza e Manat


Em Meca havia um santuário consagrado às deusas da lua: Al Lat – Al Uzza e Manat. Eram três, mas de fato era uma só, uma Deusa Tríplice. Elas representavam a mulher em suas três fases: a jovem, a mãe e a idosa, tal qual as três fazes da lua: Crescente – Cheia – Minguante. Elas são conhecidas por Deusa Tríplice, pois revelam as três faces da Deusa. Esse conjunto de três mulheres farão parte de inúmeras mitologias, com diferentes nomes (parcas, moiras, etc) todas responsáveis por tecer, sustentar e cortar o fio da vida.


Essas três Deusas eram chamadas de Al Lat (que se pronuncia Alá), Al Uzza e Manat. Al Lat, a donzela, Al Uzza, a mulher madura, e Manat, a idosa, e por isso mesmo sábia. Ela é tríplice porque os três ciclos da vida da mulher estão representados pelas fases da Lua. Na lua crescente, ela é a Donzela, na lua cheia, ela é a Mãe e na lua minguante, ela é a Anciã.


A Península Arábica foi tradicionalmente ocupada por nômades, que sabiam conviver com a dureza do deserto, já aqueles que vivam nas cidades litorâneas eram sedentários. As tribos nômades praticavam o comércio através do transporte de mercadorias pelas caravanas, além de viverem do pastoreio de cabras. Eram chamados de “Beduínos”, que deriva da palavra bādiyah, que significa "deserto". Portanto, beduíno é o povo do deserto.



Apesar de estar relativamente próxima ao mar, a cidade de Meca situa-se num vale desértico da Arábia Saudita e é a principal cidade sagrada do Islã, pois ali nasceu o profeta Maomé e o próprio islã. Já os árabes que habitavam as regiões litorâneas eram sedentários e viviam do comércio de mercadorias, na maioria das vezes aquelas trasportadas pelos beduínos em suas caravanas. A convivência destes dois grupos nem sempre foi amistosa. Mas, nômades e sedentários faziam peregrinações e se encontravam em Meca.



De acordo com a tradição islâmica, a Caaba continha mais de 360 ídolos, que foram quebrados pelo Profeta Maomé, em nome de Allah, 0 Deus Único. Tais ídolos não ficavam exatamente dentro do espaço chamado "cubo", mas ficavam no espaço retangular em torno, instalados dentro dos nichos que circundam o espaço central. A destruição dos “ídolos” foi mais um capítulo da guerra religiosa contra a Deusa Mãe para substituí-la pelo Deus Único, pelo monoteísmo.



Tais “Idolos” geralmente eram representações da Deusa Mãe, venerada pelos árabes. Contudo, com a chegada dos deuses solares e do monoteísmo, a nova religião precisou sincretizar os símbolos da Deusa para poder se impor e ser aceita.


Na Península Arábica a Deusa Mãe chamava-se Al Uzza, a deusa dos Nabateus, tal como aparece em Petra. Uzza significa “Poderosa”. Uzza é o jeito árabe de dizer “Isis”, cujo significado é o mesmo: “Poderosa”. Uzza e Ísis também estão na origem do nome “Issa”, pelo qual Jesus é conhecido entre os árabes.


O Alcorão refere-se a Issa em quinze suras (capítulos) e em noventa e três versos. Ele é designado nesta escritura de várias maneiras, como al-Masih (messias), nabi (profeta), rasul (mensageiro), Ibn Maryam (filho de Maria) entre outras denominações.



A destruição de “ídolos” foi iniciada pelo judaísmo, continuada no cristianismo, chegando até nossos dias com o islamismo. A destruição dos símbolos sagrados é sempre a mesma. É bom deixar claro que não concordo com a destruição feita pelo Estado Islâmico, contudo, não há como negar que ele está colocando em prática aquilo que está escrito literalmente nos Livros ditos “sagrados”. Infelizmente, a destruição ainda é usada para destruir símbolos sagrados. Praticada em nome da religião, a destruição dos símbolos ainda segue presente até os dias de hoje.


Foto de Elisa Cabral - facebook


Os chamados “IDOLOS” muitas vezes eram literalmente “ÁRVORES”, em estado natural ou madeira esculpida. Ambas eram sagradas, seja peça entalhada, ou pelos frutos ou pela sombra que ofereciam.


Garimpo ilegal na Amazônia



O ataque mais furioso do monoteísmo se abateu sobre um dos símbolos mais sagrados do politeísmo, as árvores. Não é por acaso que, desde o Gênesis, o monoteísmo estabeleceu uma relação destrutiva com a Natureza, com as árvores, com os rios e igarapés, com lagoas e mares, com todas as águas, enfim, com todos os símbolos femininos. O Antigo Testamento está repleto de ataques ao feminino através do simbolismo das árvores, destruídas sem piedade.



O Antigo Testamento está repleto de ataques aos deuses e templos considerados pagãos. O mais explícito é o relato do confronto entre os sacerdotes do deus de Israel e os sacerdotes de Baal. Essa “quebra de braço” custou a vida de Jezebel e de centenas de sacerdotes ditos “pagãos”, cujo relato está em Reis 1 e 2.



A àrvore possui muitos simbolismos. Na Suméria encontramos a tradição da “Arvore da Vida”.



No Egito a árvore literalmente dá a vida. Mãe e árvore se confundem. Assim como o peito amamenta o recém-nascido, a árvore nutre seus filhos como se fosse uma mãe.


O monoteísmo, a crença no Deus Único, não era forte o suficiente para descartar a Grande Mãe – a Mãe Natureza. Para que o Deus Único fosse aceito foi necessário sincretizar na nova religião o conceito de Mãe Natureza, cuja vida está literalmente relacionada com o feminino. O simbolismo da “Árvore da vida” foi o sustentáculo para a concepção de várias religiões, monoteístas ou não. Para que as novas religiões existissem foi necessário adotar os símbolos da Grande Mãe, entre eles a árvore e o vésica piscis.



As árvores eram sagradas para os Celtas e povos nórdicos. As árvores, assim como o feminino, tinham profunda relação com as fases da Lua. Não por acaso o islamismo, assim como o judaísmo e o cristianismo, adotaram símbolos femininos como seus. Apesar disso, as três religiões monoteístas não pouparam esforços para destruir o feminino, as árvores, as florestas, os rios, os lagos, os mares e tudo o mais que representasse a Grande Mãe.


Os historiadores árabes contam que no ano de 630 Maomé ordenou ao seu comandate Khālid ibn al-Walīd que destruísse três árvores no alto de uma colina em um lugar chamado Nakhlah, conhecido por ser a morada da deusa árabe pré-islâmica Al-Uzza. O general Khalid ibn al-Walid, cujo nome significa literalmente "Espada Embainhada de Deus", foi reconhecido por sua proeza militar. Foi sob sua liderança militar que a Arábia, pela primeira vez, foi unida sob uma única entidade política. Comandando forças do nascente Estado Islâmico, foi vitorioso numa centena de batalhas. Cumprindo ordens de Maomé, o general Al-Walīd fez várias incursões até destruir tudo. Ao voltar ele disse a Maomé que a deusa nunca mais seria adorada. Ledo engano! A Deusa tríplice foi venerada em toda a Península Arábica desde antes da chegada do islamismo e continuou sendo adorada, mesmo que seus adoradores não soubessem (ou saibam), pois os símbolos que os muçulmanos veneram hoje são os mesmos que no passado.



Em Petra ela era venerada na forma de um rosto com grandes olhos. Seu rosto lembra um cubo, a casa, local de proteção e aconchego da família. Na cidade de Palmira ela portava um ramo em suas mãos, símbolo do trigo e vegetais que serviam para a alimentar a todos.


Logo após a conquista de Meca e a consequente destruição dos “ídolos” na Caaba, Maomé não poupou esforços para eliminar as imagens que lembravam as práticas pagãs. Mas não conseguiu. Os adoradores de Allah ainda amavam a Deusa. Como sempre o sincretismo foi a solução.



Os fragmentos da Pedra Negra, um meteorito que foi encontrado na noite dos tempos em Meca, e que era venerado junto com os ídolos da Caaba por ter “vindo do céu”, foram “envolvidos” por um escudo de ouro. Ora, tal escudo era o mesmo escudo da Deusa. Al Lat, a donzela, cuja virgindade está representada exatamente pelo seu escudo, em formato de hímen. Não por acaso esse símbolo foi adotado por Eleanor de Aquitânia quando ela esteve na Palestina durante a segunda Cruzada, sendo depois também adotado por sua filha Marie de Champanhe. (confiram nos posts do site)



Al Lat, a donzela guerreira. Al Uzza, a mulher madura. Manat, a mulher sábia. Tais ciclos se entrelaçam com os ciclos da Lua, com os ciclos das águas e das marés. Natureza e religião se entrelaçavam e estavam representadas nos símbolos femininos. Contudo, com a chegada do deus único, para se impor como nova religião, o monoteísmo teve que adotar os símbolos da deusa como se fosse seu. O vermelho da bandeira nada tem a ver com ideologia política. Ele simboliza o sangue, que é a fonte de vida. Simboliza o parto e a menstruação. Simboliza a própria Deusa Mãe. No Islã, a lua está representada em todas as mesquitas e minaretes.



Na Bíblia, El aparece na composição dos nomes dos anjos e arcanjos: Miguel, Rafael, Gabriel e outros. A palavra Ilah é de origem semita, significa "deus" "divindade", sendo usada com o mesmo sentido que Elah em armaico, El em cananita e hebraico, cujo plural é Elohim. El era o deus de Ugarit, na Mesopotâmia. Observe o penteado dele. Nada é por acaso. Aqui já havia um forte sincretismo com os símbolos da deusa suméria Ninhursag. El foi o Senhor Supremo e pai de outros deuses. Muitas vezes as imagens de El são confundidas com as de Baal.




A destruição a Hator, também chegou no Egito. A Deusa Mãe egípcia foi sistematicamente desfigurada. Ela sempre esteve presente nos capiteis das colunas, significando que era a Deusa Mãe quem sustentava os Templos.



Esse conceito sempre esteve presente na Caaba. O teto era e é sustentado por três pilares de madeira, símbolos da Deusa Tríplice. E para não deixar dúvida, o símbolo da virgem, o seu escudo, está representado no canto da Caaba e é adorado pelos fiéis em sua peregrinação anual para Meca, ou pelo menos uma vez na vida. Este escudo representa sua virgindade. Porém, ele também representa o Portal para o Nascimento, Portal para a Luz, Portal para a vida.



É dito que a Pedra Negra foi colocada intacta na parede da Caaba pelo Profeta Maomé em 605, cinco anos antes de receber sua primeira revelação. É dito que, após um incêndio, ou um terremoto quem sabe, a Caaba foi parcialmente destruída. Então os clãs de Meca se mobilizaram e a reconstruíram. Era o ano de 605 da nossa era, ocasião em que a Pedra Negra foi temporariamente removida para que a reconstrução fosse realizada. Terminado o serviço, os clãs começaram a discutir sobre qual deles teria a honra de devolver a Pedra Negra ao seu lugar. Sem acordo, eles decidiram confiar no destino. Esta tarefa seria do primeiro homem que entrasse no santuário. Essa pessoa foi Maomé, cinco anos antes de ter sua primeira revelação. Ele tomou um pano e pediu a cada chefe de clã que o segurasse em uma ponta. Depois colocou a Pedra no centro, pedindo aos anciões de todos os clãs que acompanhassem o cortejo para recolocar a Pedra Negra de volta no lugar, compartilhando com todos os clãs a honra de recolocar a Pedra Negra, venerada por todos, de volta ao seu lugar.



O Alcorão conta a história da Pedra Negra. A tradição islâmica diz que a Pedra Negra teria descido do Paraíso a fim de marcar o lugar onde Adão e Eva deveriam construir um templo, o primeiro da Terra. Inicialmente ela era branca e brilhante, mas ficou preta devido aos pecados humanos. O templo e a pedra teriam desaparecido durante o Dilúvio de Noé. Então, o anjo Gabriel teria revelado a Abraão o local original do templo de Adão, que ordenou a seu filho Ismael, pai dos povos árabes, que construísse um novo templo, a Caaba, para abrigar a Pedra Negra.



Um documento que registra as palavras e atos de Maomé e que serve de complemento ao Alcorão, relata que o costume de beijar e tocar a Pedra Negra ou seu “escudo” começou com o próprio profeta Maomé. Os estudiosos islâmicos contam que o Profeta Maomé nomeou a Pedra Negra de: ”A mão direita de Deus”, por isso quando o devoto toca a Pedra Negra ou seu “escudo”, está tocando a mão direita de Allah, firmando e renovando o pacto de fidelidade e submissão.



A palavra “Islã” significa literalmente “Submissão”, vindo daí a tradicional postura muçulmana para rezar, bem como o ato de reafirmar sua fidelidade ao tocar Pedra Negra e seu “escudo” durante a preregrinação.


De acordo com os historiadores, no final dos anos 950 a Pedra Negra foi roubada da Caaba por um clã que vivia no entorno de Meca. Eles exigiram um grande resgate ao clã dominante, os abássidas, para devolver a Pedra Negra. Acontece que esse roubo danificou a pedra, que foi devolvida em vários pedaços. Tais fragmentos são os que existem até hoje.


Estes exemplos demonstram que uma religião nascente sempre se apoia nos símbolos da religião predominante anterior. Fica evidente o uso da simbologia do “escudo” da deusa donzela como escudo para a Pedra que caiu do Paraíso, que inicialmente era branca, mas por causa do pecado original – sexual – se tornou negra. Que, o ritual de tocar o escudo e, por tabela, tocar a mão direita de deus, o devoto está renovando seu pacto de submissão e fidelidade a Allah.



Esse pacto é reproduzido até hoje, quando os muçulmanos fazem sua peregrinação à Meca. Inúmeros “escudos” já foram substituídos ao longo dos séculos devido ao desgaste do metal provocado pelas mãos de centenas de milhares de pessoas.



Semana que vem vamos tratar da lapidação, ou seja, do costume que ainda prevalece em muitos países muçulmanos de matar uma pessoa por apedrejamento, sobretudo mulheres, infelizmente mais um capítulo trágico do feminino na história das religiões.


Bibliografia


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