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Os 7 DEMÔNIOS QUE JESUS EXPULSOU DE MARIA MADALENA


Louis de Boullogne - 1700 - fr.wikipedia.org


O cenário por trás da cena.

A Palestina é uma estreita faixa de terra entre a África e a Ásia. Há milênios ela serve de rota comercial entre esses dois continentes e ainda hoje ela é alvo de disputas internacionais. Já deu para perceber que o problema político na Palestina sempre foi e continua sendo muito grande.



Não bastassem os problemas oriundos da situação geopolítica, desde sempre os judeus estiveram divididos em tribos, e grupos dentro das tribos, além das facções políticas. As relações das tribos judaicas entri sempre foram espinhosas. Sem compreender a disputa política de um povo dominado por diferentes impérios e, pior, um povo que lutava em disputas sangrentas entre si, fica impossível compreender a razão pela qual eles tanto sonhavam com a volta do Messias.

Aquilo que os romanos mais temiam era o restabelecimento de um reino judeu independente. Embora Jesus dissesse que seu reino não era deste mundo, os judeus esperavam a vinda do MESSIAS que viesse libertá-los do jugo romano.

Jesus era descendente de Davi eMaria Madalena era descendente dos Hasmoneus.Para nós essa informação não quer dizer nada, no entanto, situada no contexto político da época, passamos a compreender o verdadeiro sentido de muitas passagens, tanto canônicas quanto apócrifas, incluindo o tema da expulsão dos 7 demônios que atormentavam Maria Madalena.


Muito se fala na Bíblia dos fariseus, saduceus, macabeus, zelotes e essênios. Elas eram apenas seitas religiosas? A resposta é Não!

As seitas judaicas eram agrupamentos políticos que se organizavam para conquistar suaindependência frente aos invasores. Os habitantes da Palestina estavam cansados de serem dominados e sonhavam com a volta do Messias.

Sem a compreensão da situação política no tempo de Jesus, não dá para compreender o Casamento Dinástico, cujo objetivo era propiciar a vinda do Messias, assim como não dá para entender a linguagem cifrada usada nos textos canônicos e menos ainda nos apócrifos e nos pergaminhos.


Há um certo consenso que os MANUSCRITOS DO MAR MORTO foram redigidos pelos Essênios, que viveram em Qumran desde o século II aC, até 70 dC. Os Essênios, tinham conceitos muito diferentes das outras seitas judaicas, tanto em relação às Leis Mosaicas, quanto ao posicionamento político para combater o Império Romano.



Barbara Thiering (1930-2015), historiadora, teóloga e exegeta bíblica australiana, professora da Universidade de Sydney, Austrália, especializada nas origens da Igreja Cristã primitiva, trabalhou com os MMM de forma inovadora. Ela escreveu o livro: Jesus, o Homem, onde analisa diversos pergaminhos, entre eles: Regra da Comunidade, o Manual da disciplina e o Pergaminho da Guerra que descreve em detalhes a luta entre os Filhos da Luz e os Filhos da Escuridão. Algumas tribos ficaram ao lado dos romanos, enquanto outras lutavam pela libertação do jugo imposto por eles. Foi no contexto dessa guerra que aconteceu a expulsão dos demônios. E ela apresenta uma hipótese realmente inovadora.


Ela desafiou a ortodoxia cristã, defendendo que os Pergaminhos trazem respostas alternativas às concepções teológicas. Sua análise foi rejeitada tanto por estudiosos do Novo Testamento quanto por estudiosos do judaísmo, mas isso não é novidade.


Thiering explica que a narrativa bíblica foi escrita em diversas camadas: na superfície a escrita é para os leitores comuns, com conhecimento limitado, na parte oculta há uma escrita cifrada, com informação política codificada. O código aparece nos codinomesusados nos Pergaminhos. Certamente como meio de proteção da integridade física e da própria vida dos revolucionários, tal qual a esquerda usa em qualquer lugar do mundo.


Em razão da repressão imposta pelo Império Romano, a estrutura hierárquica dos essênios tinha que ser protegida, as pessoas tinham seus verdadeiros nomes ocultados, explica Thiering. Elas são mencionadas nos Pergaminhos através de codinomes, tal qual os grupos revolucionários utilizaram aqui no Brasil durante a época da Ditadura Militar imposta em 1964, a fim de proteger os militantes que porventura viessem a cair nas garras dos torturadores.


Os essênios eram treinados no uso específico desse código alegórico encontrado nos Pergaminhos, e algumas vezes nos evangelhos, principalmente naquelas parábolas transmitidas para “quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!”


Os essênios chamavam os romanos de “Kittim”, antiga palavra usada para se referir aos povos do mediterrâneo. Eles sabiam o que significava Kittim, sem ter que dizer, romanos. Esse é apenas um exemplo para explicar o que Thiering fez.


Elacriou um código de identificação entre os codinomes e os personagens bíblicos, tal como se faz com as mensagens criptografadas usadas em tempo de guerra. Esse código foi chamado de TécnicaPesher, método usado pelos próprios Essênios.



Jesus era citado como “A palavra de Deus”.

O Imperador Romano era chamado de “Leão”. Portanto, “ser salvo da boca do leão” era escapar das garras do imperador e seus oficiais.


Os “pobres” não eram os cidadãos sem recursos, e sim aqueles que tinham sido iniciados nos altos escalões da comunidade e, por causa disso, já tinham abandonado suas propriedades e posses mundanas.


O símbolo doutrinal da comunidade era o “Caminho” e aqueles que seguiram os princípios do Caminho eram “Filhos da Luz”. Os noviços eram as “crianças”.


Os “cegos” eram aqueles que não partilhavam do “Caminho”, ou seja, aqueles que não pertenciam à comunidade e não enxergavam a Luz.

Os “Filhos da Escuridão” eram os judeus que toleravam ou até mesmo ajudavam os romanos. Assim, a “cura de um cego” poderia significar que alguém se “converteu e entrou no Caminho”. Já os “Impuros” eram os gentios não circuncidados.


O “Mestre da Justiça” é a figura mais importante na Comunidade dos Essênios, mas sua identidade não foi identificada. O historiador Flavio Josefo será o primeiro a mencionar os Essênios. Descrevendo-os como uma ordem que havia se afastado do judaísmo tradicional, pois seus costumes eram muito diferentes dos seguidores ortodoxos das Leis Mosaicas. Seus pergaminhos vão desde o ano 150 aC até 70 dC. Certamente o “Mestre da Justiça” foi um dos idealizadores da Comunidade, mas não se sabe quem foi. Os Essênios se organizavam em várias comunidades, e a de Qunran ficou famosa por esconder centenas de manuscritos que foram encontrados 2000 anos depois..


O “Sacerdote da iniqüidade”: era o principal oponente do “Mestre da Justiça”. O “Homem da Mentira” também se opunha ao “Mestre da Justiça”, porém não fica claro se o “Homem da mentira” e o “Sacerdote da Iniquidade” eram a mesma pessoa. Ainda não foi possível identificar quem foram.


O principal trabalho de Bárbara Thiering foi sua tentativa de descobrir a identidade por trás desses codinomes comparando-os com os personagens canônicos. Outro resultado do trabalho de B. Thiering foi relacionar os escritos de Flavio Josefo (A Guerra dos judeus 75dC e Antiguidades Judaicas 94 dC) com os Manuscritos do Mar Morto, buscando correlacionar as lutas e os grupos oponentes dentro do judaísmo e dentro das próprias fileiras das comunidades de Qumran. Assim como a totalidade dos judeus não era homogênea, os Essênios também não eram. Existia muita divergência entre eles, como é normal entre grupos humanos. As análises dela geraram muita polêmica, como esperado.

É possível que ela tenha acertado algumas vezes e errado outras. Contudo, sua Técnica Pesher – ou seja – a identificação do personagem por trás do codinome é fantástica. Chegar a uma conclusão consensual no meio acadêmico já é uma outra etapa. Exige mais estudos, muita pesquisa, muito debate e longo tempo para que uma nova tese seja digerida e aceita.


Apenas an passant vale lembrar que o autor da Teoria da Deriva Continental, ou Teoria das Placas Tectônicas, proposta por Alfred Wegner, não foi aceita pela academia quando foi lançada, sendo reconhecida apenas anos depois. Foi preciso que acontecesse uma mudança de mentalidade na academia para que sua teoria fosse aceita. No caso de Thiering, será necessário suplantar os dogmas da Igreja para que se consiga fazer pesquisa e apresentar resultados que contradizem os cânones, sem ter que ser mandado para a fogueira.


Para entender o que os pergaminhos dizem exige um código de decifração. Foi isso que B. Thiering tentou fazer. E esta é uma tarefa que mal começou. Portanto, alunos de História, de Ciências das Religiões e alunos de Teologia também, mãos à obra, há muito por fazer. Mas, para que a pesquisa dê frutos, é necessário cabeça aberta e ser capaz de enfrentar a maré de crítica que certamente virá.



Quando os essênios escreveram e esconderam seus pergaminhos, o Império Romano dominava a Palestina com mãos de ferro, daí a necessidade de escrever em códigos, para não colocar as pessoas e a própria causa em risco. Mas, o problema é ainda maior quando se sabe que, quando os Evangelhos canônicos foram formalmente escolhidos no século I, esta escolha aconteceu em um ambiente totalmente controlado pelos romanos. Assim, muito do seu conteúdo estava “encoberto”. Quando a informação poderia significar uma ameaça política, seja de que grupo viesse,elaestava codificada e velada. Então, temos diferentes códigos sendo usados ao mesmo tempo, complicando ainda mais o xadrez. Temos aqui um problema que dobrou de tamanho.


Há duas codificações sobrepostas: a dos pergaminhos e a dos cânones. Ambas pelo mesmo motivo: driblar o Império Romano.

Não foi por acaso que Jesus costumava falar através de parábolas, “para aqueles que tem ouvidos ouvidos para ouvir” - para aqueles que entendem o código.


Somados aos problemas acima, ainda há aqueles relacionados com a tradução da própria lingua hebraica. O hebraico é composto principalmente de consoantes. As vogais apropriadas dependem do contexto. Assim, tomando uma linha específica de um pergaminho, este pode ser traduzido como "e o Príncipe da Congregação, o Ramo de Davi, o matará", ou alternativamente lido como "e mataram o Príncipe da Congregação, o Ramo de Davi".


Diante dessa constatação, creio que não dá para dogmatizar nenhum dos dois lados. É preciso ter bom senso. Através do conhecimento que temos hoje da escrita alegórica, simbólica e criptografada, tanto da bíblia quanto dos pergaminhos, podemos descobrir muitos significados ocultos, passíveis de novas interpretações.Mas, para isso temos que ter coragem para quebrar os dogmas.


Paolo Veronesi (1528-1588) Wikipedia.org


A primeira vez que Maria Madalena foi citada nas escrituras bíblicas foi quando Jesus está empreendendo sua viagem pela Galileia e algumas mulheres chegam até ele para serem curadas. Uma delas foi Maria Madalena, de quem Jesus expulsou sete demônios, como escreveu Lucas.


Com ele iam algumas mulheres a quem tinha curado; entre elas estava Maria Madalena, a quem tinha livrado de sete demônios. Um dia serviu-se da seguinte parábola:

Certo homem foi ao campo semear. Quando lançava as sementes ao chão, algumas delas caíram num caminho e foram pisadas. Vieram as aves e comeram-nas porque estavam à vista. Outras sementes caíram em chão pouco fundo com pedras por baixo. Mal começaram a crescer, logo murcharam, morrendo por falta de umidade. Outras sementes, ainda, caíram entre moitas de espinhos, que em pouco tempo sufocaram os rebentos. Mas outras caíram em solo fértil, e quando cresceram deram uma colheita de cem vezes mais do que aquele homem havia plantado. Ao fazer esta ilustração, Jesus acrescentou: Quem pode ouvir, que preste atenção. Os apóstolos perguntaram-lhe o que queria dizer aquela parábola, e Jesus respondeu: Deus concedeu-vos a possibilidade de conhecer o significado destas coisas sobre o reino de Deus. Mas aos outros, fala-se por parábolas: 'Este povo ouve as palavras porém não entende, vê e não percebe'.Quem viu alguma vez cobrir, ou pôr debaixo da cama, uma lâmpada que tenha sido acesa para iluminar um quarto? É evidente que as lâmpadas são colocadas num lugar bem à vista. Assim, virá o dia em que tudo será trazido à luz e posto às claras diante de todos. Tomem, pois, cuidado no modo como ouvem, porque a quem tiver entendimento, mais será dado; a quem não o tiver, até o que julga ter lhe será tirado.


Embora as histórias bíblicas não deem o devido lugar à MM, os Pergaminhos afirmam que ela tinha uma posição de liderança, demonstrando uma visão espiritual maior do que a dos apóstolos. Quando perguntado “por que você a ama mais do que a nós?” Jesus respondeu: “por que não vos amo como ela? Quando um cego e um que vê estão juntos na escuridão, eles não são diferentes um do outro. Quando a luz vier, então quem vê verá a luz, e quem é cego ficará nas trevas”.


Mas, o que dizem os Pergaminhos sobre os SETE DEMÔNIOS?


Antes do casamento, as “Marias” ficavam sob a autoridade dos “Sacerdotes do Demônio”, cujo dever era “infernizar”, digo, “supervisionar” a mulheres celibatárias da comunidade, aquelas que estavam “guardadas” para um casamento dinástico.


Como o objetivo era a vinda do MESSIAS, a noiva não poderia engravidar fora do prazo rigidamente estabelecido, seja do “marido”, ou até mesmo de outro homem. A tarefa dos Sacerdotes do Demônio era garantir o cumprimento das regras.


O “Sacerdote do Demônio” é uma denominação alegórica encontrada nos Manuscritos do Mar Morto, equivalente ao nosso “Advogado do Diabo”. Citando Bárbara Thiering, Laurence Gardner diz que Judas Iscariotes era o “Chefe dos Demônios”. Judas era um dos apóstolos mais importantes do grupo de Jesus. A contabilidade era feita e supervisionada por ele.



Ainda segundo Bárbara, assim como existiam os sete Sacerdotes da Luz, representando as sete luzes da Menorá, existiam sete Sacerdotes do Demônio, encarregados das tarefas deste mundo: Arrecadar dinheiro, pagar contas, supervisionar o trabalho de redação dos pergaminhos e acondicionamento nos jarros para serem escondidos, e, ao lado de tudo isso, seguir passo a passo as jovens escolhidas para trazer o Messias ao mundo, sobretudo naquele período crítico entre o 1º casamento (setembro) e sua consumação (dezembro). A jovem tinha que ser vigiada incessantemente.


Por razões óbvias, diz Bárbara, ao chegar o momento para a consumação do primeiro casamento, “Jesus libertou Maria Madalena da supervisão dos Demônios”. É muito interessante a passagem de Lucas, pois, logo depois de mencionar que Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena, ele relata a parábola das sementes (outro símbolo relacionado à descendência) e conclui dizendo: Assim, virá o dia em que tudo será trazido à luz e posto às claras diante de todos.


Essa alegoria só podia ser entendida por aqueles que conheciam as tais Regras da Comunidade, aqueles que tinham ouvidos para escutar e entender, para aqueles que possuíam a chave da alegoria.


Outro exemplo de como B. Thiering encontrou as explicações para os codinomes. Nos pergaminhos aparecem as figuras de Trovão e Relâmpago. Aí Thiering pensou, eu já lí isso em algum lugar. Foi procurar e achou. Jesus se referia a Thiago e João Boanerges como “Filhos do Trovão”. Quem diz isso é(Marcos 3:17).


Se Thiago e João eram os “Fihos do Trovão”, o homem chamado de Relâmpago era Simão, o Mago, também chamado de Simão, o Zelote.



Ícone ortodoxo. Autor desonhecido. Wikipedia


Quem eram os Zelotes?

Fariseus, saduceus, macabeus, essênios, zelotes, sicários … Eram grupos políticos que sonhavam com a volta do Messias e lutavam contra o Império Romano. Mas a luta não era feita somente de sonhos, eles pegaram em armas. Dois grupos praticaram a luta armada: Os zelotes e os sicários.

Os zelotes faziam parte de um movimento político que promovia ações armadas contra o império romano. Eles apresentavam muita organização ao atacarem soldados e autoridades romanas. Embora andassem armados, os Zelotes se caracterizavam mais pela tática de incitar pacificamente a população judaica a se rebelar contra o Império Romano, porém, algumas vezes pela força das armas. A ação dos zelotes foi tão intensa que resultou na primeira guerra judaico-romana, relatada pelo historiador Flavio Josefo.


Diz Josefo que os zelotes faziam parte da comunidade essênia de Qunram. Simão, o "Zelote” foi assim chamado por Lucas 6:15 e no At 1:13. Talvez Pedro também fosse um Zelote, ou até mesmo um Sicário, já que ele também andava armado, pois ele não exitou em cortar a orelha do soldado romano, a qual Jesus recolocou no lugar. Os zelotes eram muito perseguidos pelos romanos, daí o medo dos apóstolos depois da crucificação de Jesus. E a perseguição não parou.


Fortaleza de Massada. Freepik



Em 70 dC, depois da destruição do Segundo Templo pelos romanos, os Zelotes se refugiaram na Fortaleza de Massada. Os romanos então construíram uma enorme rampa, destruíram a muralha e tomaram a fortaleza de assalto. De acordo com Flávio Josefo, os zelotas cometeram suicídio em massa para não serem capturados.




Ainda mais radicais que os zelotes, eram os Sicários. O termo vem de "sica", uma pequena adaga larga e curva, fácil de esconder sob a roupa, com a qual os sicários atacavam os romanos, porém, eles atacavam também outros judeus, considerados traidores da causa.


E havia um apóstolo Sicário entre os doze: Os romanos o chamavam de JUDAS SICÁRIO, (o homem da adaga). Este apelido passou para a história como SIKARIOTES, palavra que acabou se transformando em Iscariotes. Judas Iscariotes. Nos Manuscritos do Mar morto os dois apóstolos mais importantes na hierarquia são: Simão Zelote e Judas Iscariotes.


Simão, o Zelote - Caravaggio (1610) - Wikipedia


Em paralelo à atividade política, o grupo de Jesus também cuidava da estrutura sacerdotal dentro da comunidade de Qunran. Zadoque foi o Sumo Sacerdote de Israel no tempo de Salomão. Assim, dentro da comunidade dosEssênios, Zadoque era um posto, um cargo do alto escalão.


Melkisedeque também era um posto, ocupado por alguém encarregado de “fazer a guerra justa”. O título "Melquisedeque" ´é a junção de MIGUEL+ZADOQUE. O arcanjo Miguel foi o chefe do exército celeste e dos anjos fiéis a Deus, Miguel é o arcanjo da justiça. A palavra zadoque vem do hebraico TSADOC, que significa “Justo”. Segundo B. Thiering, o posto de Melquisedeque no grupo de Jesus foi ocupado por Zacarias, marido de Isabel, prima de Maria e pai de João Batista.


Assim como os homens eram chamados pelos nomes das linhagens a que pertenciam, as mulheres também eram nomeadas com títulos diferenciados. As mulheres descendentes da linhagem sacerdotal recebiam o título de Elisheba = Elizabeth = Isabel. Já as mulheres da linhagem real de Davi recebiam o título de Míriam = Maria = Mariamne. As descendentes das duas linhagens eram preservadas para o Casamento Dinástico, passando de noiva (almah = jovem) para a posição de “esposa e mãe”, porém, somente depois de consolidada sua gravidez, só então deixando de ser uma “almah” (jovem).


Fra Angelico (1400) - Wikimedia Commons


“Maria” era um tipo de identificação destinado às descendentes da linhagem real de Davi. Portanto, “Maria” significava que provinha de uma casa real. Madalena vem de Migdal, que em hebraico significa “TORRE”.

E a ti, ó, torre do rebanho, fortaleza da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém. Miquéias 4:8

Míriam de Migdal, era Torre do Rebanho, a Fortaleza de Sião. Esses títulos perderam o sentido original e Maria Madalena foi transformada em prostituta e pecadora arrependida.


O evangelho de Filipe, encontrado em Nag Hammadi, diz que Jesus beijava Maria Madalena com frequência. Na boca? Não sabemos! Um buraco no pergaminho destruiu a informação. Porém, ele menciona que a relação que Jesus estabelece com Maria Madalena desagrada os apóstolos.


Os discípulos se ofendiam com isso e expressavam seu desagrado: Por que a amas mais que a nós? Ora, se ela era a noiva-messiânica, encarregada de trazer ao mundo um descendente da linhagem real de Davi, por que é que os discípulos se ofendiam e se incomodavam tanto com a relação estabelecida entre Jesus e Madalena?


Ocorre que o problema não estava na relação de afetividade que o Mestre dispensava a ela. A pergunta: Por que a amas mais que a nós? Pode ser entendida como: Sendo ela apenas uma mulher, por que você a trata com maior deferência do que a nós, que fomos escolhidos para sermos os seus discípulos? A resposta vem da própria Maria Madalena.


Hernando o Fernando Yáñez de la Almedina - pintor renascentista - Wikipedia.org


No Evangelho de Maria Madalena, escrito entre 125 e 175 dC, é dito que diante do medo dos apóstolos depois da crucificação do Mestre, foi ela quem lhes deu ânimo. Então os discípulos se acalmaram e Pedro lhe disse:

“Irmã, dize-nos as palavras do Salvador que conheces, e nós não conhecemos”.

Isso indica que ela possuía um conhecimento uma informação que eles não tinham. E Maria Madalena se dispõem a contar aquilo que lhes havia sido ocultado. Quando ela terminou, André, irmão de Pedro, diz aos demais:

“Eu não creio que o Salvador tenha dito essas coisas”.

E Pedro completa:

Por que deveríamos escutar essa mulher? Será que o Salvador realmente falou com uma mulher em segredo, e não abertamente para nós, que somos seus discípulos?


Fica evidente que o problema não era a quem Jesus amava mais, ou onde ele a beijava, se na boca, ou na testa, o que é mais provável. Não era isso o que incomodava os apóstolos. Eles estavam incomodados com os “ensinamentos” que o Mestre havia passado somente para Maria Madalena, sua aluna mais aplicada, e não a eles, os “escolhidos”.


Mesmo que Maria Madalena tivesse sido escolhida para ser a Noiva-Messiânica de Jesus, descendente da linhagem de Davi e responsável por garantir a sucessão, na cabeça dos apóstolos ela era "apenas uma mulher" cumprindo um dever, uma tarefa, nada mais que isso.


Os casamentos dinásticos não envolviam sentimentos, nem preferências. Devia ser realizado como grande "Missão", é verdade, mas, não muito mais que isso. Afinal, eles, os apóstolos, tinham sido escolhidos pelo Mestre para continuar sua obra. Por que então o Mestre a amava mais que a eles, os escolhidos?


Os apóstolos não entendiam a deferência com que o Mestre tratava Maria Madalena. Mesmo que tivesse havido um casamento-dinástico-messiânico, os noivos ficavam separados a maior parte do tempo, já que homens e mulheres da comunidade dos Essênios eram celibatários. O celibato devia ser interrompido por curtos períodos – apenas para aqueles que tinham obrigações dinásticas de trazer o MESSIAS ao mundo. Fora do cumprimento do dever, não havia convivência. Ora, pensavam os discípulos,se o casamento-messiâncio estava destinado apenas para a procriação, como explicar que ela, uma mulher, tivesse esse status todo? Nem mesmo sendo uma esposa-real, concluíam eles.


Gerard van Honthorst (1600) - Wikipédia.org


Em Pistis Sophia, um apócrifo do século III, Pedro apela a Jesus:


"Mestre, não podemos mais tolerar essa mulher. Ela não permite que nenhum de nós fale, enquanto ela fala com frequência”.


Não apenas ela fala, mas o Mestre aprecia o que ela diz. É Maria Madalena quem interpreta a maior parte dos ensinamentos de Jesus e seu entendimento é elogiado.


Contudo, não foi apenas Pedro que se insurgiu contra Maria Madalena. A Igreja se insurgiu contra todas as mulheres: Timóteo diz:

Que a mulher aprenda em silêncio, em total submissão. Não permito que mulher alguma ensine ou exerça autoridade sobre seu marido ou qualquer homem. 1 Timóteo 2: 11,12.


Jesus foi um revolucionário, não apenas na política, mas no tratamento dado à mulher. Naquela época, nenhuma esposa era tratada com reverência, nem por judeus, nem pelos romanos. Assim como os gregos daquele tempo, a esposa não passava de um “vaso” onde a “semente” masculina era depositada, e nada mais.


Gentleman como era, em público Jesus devia beijá-la na testa, com reverência, tal qual ainda hoje o noivo beija a noiva ao recebê-la no altar. Volto a dizer, o problema dos apóstolos não era o beijo, mas a importância que Jesus dava às intervenções orais de Maria Madalena. Ela compreendia mais que os apóstolos o que o Mestre dizia, e isso era insuportável para o machismo patriarcal dominante.


Autor desconhecido


Penso que houve sim um casamento-dinástico-messiânico entre Jesus e Maria Madalena, mas ele não seguiu o mesmo padrão que temos hoje de um casamento: um homem e uma mulher que se casam, e vivem juntos, numa casinha ao pé da serra e têm muitos filhos. Não, efetivamente não! É isso que os Manuscritos do Mar Morto dizem.


Os pergaminhos relatam que, para trazer o MESSIAS ao mundo, os descendentes das linhagens real e sacerdotal tinham por obrigação assumir esse dever. Uma vez cumprida a tarefa, ambos voltavam à sua condição de celibatários, como era obrigatório para todos os membros da comunidade de Qunran.


Acho provável que Jesus amasse Maria Madalena mais que aos outros apóstolos. Ela tinha uma capacidade intelectual muito aguçada, sendo a única que entendia o Mestre na profundidade que ele esperava. Se não a única, de longe foi a que mais compreendeu seus ensinamentos. Inúmeros artistas representaram MM com a mesma deferência do Mestre.


Iluminura medieval - fr.wikipedia.org


A melhor parte das hipóteses levantadas por B. Thiering não são suas conclusões, mas, sua tentativa de compreender os evangelhos de forma não dogmática, sem estar subordinada aos interesses da Igreja de Roma. Ela pode estar errada? Sim, pode. No entanto, isso não tira dela a importância de seu esforço em retratar a luta mortal travada entre o Império Romano, os judeus e suas seitas. Thiering nos mostra um Jesus humano, inserido nas lutas do seu tempo.


Iluminura medieval - fr.wikipedia.org

Jesus foi apenas um revolucionário político? Claro que não!

Jesus não estava blefando quando disse que o reino dele não era deste mundo, no entanto, enquanto viveu neste mundo ele lutou as lutas dos oprimidos, entre eles as mulheres.






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