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15 - CONCLUSÃO da primeira parte

Atualizado: 29 de jan. de 2022



O objetivo desta primeira parte do livro foi buscar entender os processos que levaram a Deusa Mãe ser transformada em Deus Pai e para isso foi necessário uma longa viagem ao passado a fim de juntar pedacinhos da história. foi preciso voltar à Ur mesopotâmica de Enhenduanna, que viveu em 2.300 aC e foi a primeira sacerdotisa cuja documentação comprova os ataques misóginos que sofreu. Nessa viagem revisitamos os texos bíblicos que falam de Abraão, sua saída de Ur e sua saga até chegar em Canaã. Descobrimos também que os papiros egípcios agora decifrados e os milhares de tabletes em escrita cuneiforme nos dão uma outra versão dos fatos relatados no Antigo Testamento. Foi preciso voltar no tempo para entender as migrações indo-arianas, que estabeleceram uma correia de transmissão entre a Índia e o Mediterrâneo, e perceber que os povos da antiguidade se misturavam mais do que se poderia supor, como atualmente é comprovado pela genética, promovendo mudanças brutais nas relações sociais e religiosas, assim como nas concepções de ‘mãe’ e ‘pai’, que promoveram severas repercussões no relacionamento entre homens e mulheres ao longo das civilizações.

O texto se apoiou em arqueólogos como Israel Finkelstein e outros, que discordam da existência de um povo judeu, concluindo que estes e os palestinos são o mesmo povo que professam religiões diferentes. Na companhia de Marija Gimbutas, James Mellaart, Riane Eisler, entre tantos outros arqueólogos que pesquisaram as relações entre homens e mulheres, descobrimos que no início das culturas agrícolas da velha Europa que tais relações eram igualitárias até o surgimento da propriedade privada, da “cerca”, e junto com ela o domínio patriarcal sobre a mulher, escravos, jovens e velhos.


Descobrimos também que a dominação patriarcal sempre esteve associada a organização militar, ambas socialmente estratificadas, promotoras da violência institucionalizada e do ego exacerbado de indivíduos que, por se tornarem vencedores, contaram a história a seu modo. Resumindo, o domínio patriarcal surgiu com a propriedade privada, simbolizada pela cerca, e sempre contou com o exército, um grupo armado que sustenta os interesses dos dominantes sobre os demais.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Private_Land_(geograph_2408309).jpg

Nesse novo cenário pós propriedade privada e criação do exército, as decisões mais fundamentais deixaram de ser tomadas pelo coletivo, pelos anciões do grupo ou da tribo, e passaram a ser prerrogativas do proprietário, que contava com os préstimos do comando militar para proteger a ordem e os interesses dominantes.


A busca desenfreada por riqueza, por se apossar daquilo que é do outro, foi a característica principal dos conquistadores, desde as milenares invasões indo-arianas até a configuração do nosso mundo atual. Esse modus operandi pode estar associado à cobiça, inveja, desejo, mas também pode ter surgido em decorrência de períodos de fome provocados por secas, inundações, terremotos, ou outro desastre natural qualquer, com capacidade de promover enormes movimentações populacionais.


https://kenh14.vn/kham-pha/nhung-su-that-khong-ngo-ve-thoi-an-long-o-lo-20130817101742354.chn

Observe que o alvo mudou. E com ele a história humana também.


Os instrumentos de caça que serviam para abater um animal e alimentar a tribo rapidamente se transformaram em artefatos de guerra usados para matar opositores em disputa pelos bens que estavam ‘dentro da cerca’, inclusive a mulher. Em qualquer guerra, desde os tempos mais primitivos, as mulheres sempre foram estupradas pelos vencedores. Era a suprema forma de demonstração de poder e dominação do mais forte, além de humilhação do vencido.


Marija Gimbutas sustenta que as ondas de invasões indo-iranianas que existiram entre o Vale do Indo e as estepes ucranianas, posteriormente espalhadas por todo o Mediterrâneo, alteraram as pacíficas relações de gênero no período paleolítico. As ferramentas de caça se transformaram em armas e, por serem robustas, tendiam a durar mais do que outros artefatos, sendo um dos itens mais encontrados em escavações arqueológicas. É através desses artefatos que podemos entender os simbolismos e jogos de poder desde a mais remota antiguidade. Estas ondas migratórias deram origem ao surgimento de grupos de combate, precursores das forças militares. Muito do que sabemos da história antiga é a história dos militares. As inovações tecnológicas sempre estão relacionadas com as suas conquistas. O controle no mundo antigo foi e ainda é mantido através da força militar, que intensifica a subordinação da mulher ao homem, sempre associada as concepções religiosas dos dominantes. Será mero acaso? Os estudos dizem que não!


Desde a década de 1980, a teoria feminista vem contribuindo com estudos que correlacionam o patriarcado, a cultura militar e a propriedade privada, que está na origem do sistema capitalista, apontando para a ligação entre os valores que unificam todos estes sistemas hierárquicos. O militarismo não se resume às instituições militares, mas trata-se de um sistema de controle social. O militarismo é essencial para o patriarcalismo porque configura-se como uma escola permanente de subordinação, controle e obediência, ensinando que os homens mandam e as mulheres obedecem. O patriarcado é a alma do militarismo, porque neste sistema, o poder masculino se exerce a partir da violência e do silenciamento das mulheres e dos mais fracos, que representam a primeira manifestação deste “outro” a ser dominado e controlado. Por meio do exército se tenta legitimar o poder, o culto ao chefe, a obediência sem questionamento, a violência física contra o inimigo e sua morte, que servem ao militarismo, tanto quanto ao capitalismo e ao sistema patriarcal.

http://sementeia.org/2019/01/brasil-2019-o-que-o-feminismo-tem-a-dizer-sobre-a-militarizacao/


Durante os milênios do paleolítico os homens estavam acostumados ao uso de instrumentos pontiagudos e cortantes para caçar animais, porém, depois do surgimento da agricultura e pastoreio os homens passaram a usá-los para combater seus semelhantes, o que levou ao surgimento da imposição do poder do mais forte, dando início ao processo de escravidão do seu semelhante e da dominação masculina sobre a mulher.


A propriedade privada foi a mãe da guerra! Os instrumentos de caça rapidamente se voltaram contra os próprios seres humanos, mesmo que fossem da mesma tribo ou clã. Primeiro, a luta foi corpo a corpo, depois a distância cresceu e vieram arcos e flechas, a tecnologia se aprimorou e surgiram as bestas e os bólidos, com a descoberta da pólvora chegaram as armas de fogo, estas evoluíram para canhões e depois os mísseis, e logo em seguida para a bomba atômica… o que mais virá? Com a evolução da tecnologia militar o ser humano está conseguindo matar maior número de semelhantes a uma distância cada vez maior, até mesmo de um país para outro, e com o avanço da robótica há possibilidade de se fazer o serviço sujo via controle remoto e drones.

Entretanto, na Natureza nada é estático, nada se cria e nada se perde, tudo se transforma! No capítulo que trata das grandes migrações, foi dito que ao longo de milênios e dos confrontos entre povos e civilizações surgiram os exércitos e com eles os primeiros relatos da subordinação da mulher ao homem. Do vai-e-vem dos povos também surgiram as religiões, formadas no caldo de cultura das diferentes civilizações. Assim como as camadas arqueológicas, as religiões foram se sucedendo, se ressignificando, se reconstruindo com base nas anteriores. E os símbolos da Grande Mãe foram se transformando. As primeiras representações da Grande Mãe remontam há 26.000 anos antes da nossa era. Elas eram a própria representação da maternidade, ainda misteriosa e incompreendida.


Deusa Hathor, com olhos de serpente e orelhas de vaca.

No Egito das primeiras dinastias, vimos que a Grande Mãe era representada com olhos de serpente e orelhas de vaca, um modo simples de explicar ao povo iletrado suas qualidades simbólicas: a sabedoria e capacidade de nutrir. Porém, por volta do 2º milênio antes da nossa era, os símbolos da Grande Mãe começaram a ser hostilizados pelos seguidores de uma nova religião, que exaltava o conquistador, o guerreiro, aquele que tinha poder sobre os outros homens e impunha sua vontade à força. Essa nova religião possuía outra divindade, que por sua vez era representada por outro animal, o carneiro, imortalizado como símbolo de guerra: o ariete.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:0869-Attack-on-the-walls-of-a-besieged-town-q75-500x412.jpg


Essa mudança de símbolos pode ser acompanhada nas Antigas Escrituras, quando relatam o sacrifício do cordeiro no lugar do filho de Abraão, que a Torá diz ter sido Isaque, filho de Sara, já o Alcorão afirma que foi Ismael, o filho primogênito do patriarca com Hagar. Contam os textos muçulmanos que Abraão viu através de um sonho que levava seu filho Ismael para ser sacrificado. No caminho, Deus enviou o anjo Gabriel para dizer a Abraão que ele havia concluído a prova e que no lugar do filho deveria sacrificar um cordeiro. O ritual de sacrifício do cordeiro é realizado ainda nos dias atuais, assim como a rememoração da saga de Hagar no deserto, passando fome e sede com seu filho Ismael, fazem parte da peregrinação anual que todo muçulmano deve fazer a Meca. Este evento chama-se Hajj e é um dos pilares do islamismo, junto com o testemunho, a reza, a esmola e o ramadã. Mas, a pergunta que não cala é:


Bezerro de ouro – jw.org

Nas Escrituras o Bezerro NÃO pode ser adorado e o Carneiro SIM. Por que?


http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/595881-descobrimos-os-verdadeiros-olhos-do-cordeiro-mistico-e-como-dizer-sao-estranhos

No Antigo Testamento, os bovinos eram considerados os animais mais apropriados para serem oferecidos em sacrifício, contudo, a partir de um certo momento o bezerro foi demonizado, repelido e declarado “ídolo”, bem como os seus seguidores de “idólatras”. Então o bezerro foi substituído pelo carneiro. Por que?


Assim diz o Senhor DEUS: No primeiro mês, no primeiro dia do mês, tomarás um bezerro sem mancha e purificarás o santuário. Ezequiel 45:18


E no mesmo dia o príncipe preparará por si e por todo o povo da terra, um bezerro como oferta pelo pecado. Ezequiel 45:22


Fizeram um bezerro em Horebe e adoraram a imagem fundida. Salmos 106:19

E naqueles dias fizeram o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo, e se alegraram nas obras das suas mãos. Atos 7:41


E disse a Arão (A-RAM): Toma um bezerro, para expiação do pecado, e um carneiro para holocausto, sem defeito; e traze-os perante o Senhor. Levítico 9:2


Então Arão (A-RAM) se chegou ao altar, e degolou o bezerro da expiação que era por si mesmo. Levítico 9:8


Então eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o e deram-mo, e lancei-o no fogo, e saiu este bezerro. Êxodo 32:24


Ora, vaca, bezerro e touro eram os símbolos da Grande Mãe. Quando o relato bíblico conta que Moisés ficou irado ao ver seu povo adorando um bezerro de ouro enquanto ele estava no alto da montanha recebendo as Tábuas da Lei, sua ira estava voltada para a adoração dos símbolos ditos pagãos e não os do Deus Único como ele queria. Sua indignação foi tamanha que ele arremessou as Tábuas, quebrando-as, assim como foram quebradas as árvores, postes e colunas que representavam a Grande Mãe.


Assim feriu o Senhor o povo, por ter sido feito o bezerro que Arão tinha formado. Êx 32:35


E os bois selvagens cairão com eles, e os bezerros com os touros; e a sua terra embriagar-se-á de sangue até se fartar, e o seu pó se engrossará com a gordura. Isaías 34:7


Ora, vaca, bezerro e touro eram os símbolos da Grande Mãe. Quando o relato bíblico conta que Moisés ficou irado ao ver seu povo adorando um bezerro de ouro enquanto ele estava no alto da montanha recebendo as Tábuas da Lei, sua ira estava voltada contra a adoração dos símbolos ditos pagãos, ou seja, da Grande Mãe. Sua indignação foi tamanha que ele arremessou as Tábuas, quebrando-as, assim como foram quebradas as árvores, postes e colunas, símbolos femininos.


Derrubem os seus altares, quebrem as suas colunas sagradas, cortem os seus postes sagrados e queimem os seus ídolos. Não ergam nenhum poste sagrado além do altar que construírem em honra ao Senhor, o seu Deus e não levantem nenhuma coluna sagrada, pois isto é detestável para o Senhor, o seu Deus. (Dt 7:5, 16:21)


O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. Naum 1:2


O bezerro não era apenas um ídolo qualquer, ele era o símbolo da Mãe Natureza, ambos estavam sendo destruídos. E a terra se fartou com o sangue da Grande Mãe (e das mulheres) e o Deus Pai se tornou um Deus de ira.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Creation_of_the_sun_and_moon.jpg


A passagem do politeísmo ao monoteísmo foi lenta e gradual, levou milênios para se concretizar e pode ser rastreada na troca dos símbolos e dos mitos ao longo das civilizações. Se durante milênios o culto à Grande Mãe permaneceu intocado, com seus rituais de fertilidade, houve um momento em que as pequenas mudanças introduzidas gradualmente foram catalisadas e explodiram numa grande transformação. Aí, mudaram os símbolos, os ritos, e a própria divindade.


Como a Grande Mãe {e toda a gama de deuses e deusas existentes} passou a ser depreciada e os rituais ancestrais demonizados, sobretudo aqueles relacionados à fertilidade, estes passaram a ser duramente combatidos e, no meio dessa guerra, os símbolos religiosos anteriores foram destruídos. Porém, por causa da resiliência daqueles que a cultuavam, e também pelo uso sincrético dos seus símbolos por parte daqueles que estavam trazendo a religião do Deus Único, os símbolos antigos foram ressignificados, ou substituídos por novos símbolos e novos significados, sem contudo apagar de vez os antigos, pois eles ainda permanecem.


Nesse processo, a adoração ao cordeiro passou a ser estimulada tornando o animal um símbolo do sacrifício perfeito, sobretudo no cristianismo. Contudo, o simbolismo do cordeiro tem origem muito mais antiga, como demonstram as imagens regatadas nas bibliotecas da Mesopotâmia, que eram cópias de antigos documentos sumérios.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Person_ibex_poppy_Dur_Sharrukin_AO19872.jpg

O cordeiro foi um animal sacrificial desde épocas bem remotas. Os hebreus certamente conheciam esta simbologia usada na Mesopotâmia de Abraão, que foi herdada dos sumérios, milênios antes. Na Suméria, o carneiro era a representação de um deus que se sacrificou para que os humanos pudessem ser criados.



O Enuma Elish, é o mito de criação babilônico. Foi descoberto por Austen Henry Layard em 1849 nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive {Iraque}, e publicado por George Smith em 1876. O mito relata que o deus Marduk resolveu criar os seres humanos mas precisava de sangue de um deus para os criar. Então, decidiu que uma divindade chamada Kingu deveria morrer, pois ele foi acusado de ser o culpado por lançar o mal sobre os deuses. Marduk o matou e mandou usar o sangue para criar o ser humano, a fim de que este servisse aos deuses, ou seja, realizassem o trabalho braçal que os deuses menores não queriam realizar, como demonstrado no Vaso de Warka.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Enuma_Elish


O Vaso de Warka mostra carregadores nus na segunda fileira transportando oferendas para a deusa Inanna na fileira superior. Inanna foi uma das mais importantes deusas da Mesopotâmia, representada na imagem por dois feixes de junco. Descoberto por assiriólogos alemães em Uruk entre os anos 1933 e 1934, este Vaso encontra-se atualmente no Museu do Iraque. É assim nomeado graças a moderna cidade de Warka.

https://hav120151.wordpress.com/2015/11/29/vaso-de-wark-tradicoes-da-fertilidade-e-do-amor-na-sumeria

https://hav120151.wordpress.com/2015/11/29/vaso-de-wark-tradicoes-da-fertilidade-e-do-amor-na-sumeria/

O relato babilônico é uma adaptação do mito sumério, muito mais antigo. No mito sumério o deus em questão é Enki, que foi auxiliado por sua meia-irmã Ninhursag. Um deus foi morto, seu corpo e sangue foram misturados ao barro de onde foi criado o primeiro ser humano, à semelhança dos deuses. Esse assunto foi extensivamente tratado por Zecharia Sitchin em seus livros Crônicas da Terra. Existe um vasto material a ser pesquisado sobre o tema, mas fica indicado aqui um bom resumo.


A informação a reter é a de que desde milênios antes do cristianismo, na Suméria, um deus foi morto e do seu sangue foi criado o ser humano. Festas e sacrifícios passaram a ser realizados em sua honra, tornando-se uma prática comum entre os povos antigos que habitaram a região. Sendo o sacrifício uma prática comum tanto entre os povos nômades, como entre aqueles que construíram as primeiras cidades, códigos de Leis e zigurates na Suméria, o sacrifício de animais no Templo de Jerusalém continuou sendo o eixo de sustentação das crenças e rituais judaicos, herdados pelo cristianismo.


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Duas vezes ao dia, toda manhã e início da noite um boi, bezerro, cordeiro {ou uma pomba se o ofertante era pobre} era sacrificado no Templo pelos pecados do povo (Êxodo 29:38-42).


Simbolicamente, a hora da morte de Jesus na cruz no Novo Testamento corresponde à hora do sacrifício vespertino que estaria sendo realizado no Templo. Os judeus da época de Jesus tinham conhecimento dos profetas que previram a vinda daquele cujo sofrimento traria a redenção para Israel, e que seria como um “cordeiro levado ao matadouro” (Jeremias 11:19; Isaías 53:7).


Quando Jesus se colocou como Cordeiro de Deus (João 1:29 1:36) Ele se assumiu como o sacrifício perfeito. Depois dele o sacrifício passou a ser simbólico. A hóstia é o seu corpo e o vinho é o seu sangue, simbolicamente representados durante a missa. A partir daí os sacrifícios literais nunca mais foram tolerados nas tradições cristãs. Quanto aos judeus, muitos judeus ortodoxos ainda sonham com a reconstrução do Terceiro Templo a fim de voltarem a realizar o sacrifício de animais, abolido desde a destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos. Para saber mais:


A substituição do animal sacrificial, do bezerro pelo carneiro, revela uma mudança de simbolismos, aparentemente inofensiva e sem consequências, porém, indica que nas entranhas do judaísmo estava sendo travada uma grande batalha, pouco ou nada conhecida. Essa história tem tudo a ver com Abraão {AB-RAM – Ram significa carneiro e Ab significa "filho de" ou "seguidor}. AB-RAM é o seguidor do Carneiro. Ab-ram - Abrão - foi transformado em Abraham = Abraão.


Contam os textos não bíblicos que milênios atrás houve uma luta feroz entre os seguidores do touro e os seguidores do carneiro. Essa luta provocou o fim da veneração do símbolo da Vaca, uma das mais antigas representações da Grande Mãe, posteriormente representada pelo Touro ou pelo bezerro, até que, por volta de 2 000 anos antes da nossa era, tal ciclo foi substituído pelo Ciclo do Carneiro. Tais fatos podem ser rastreados nas mudanças iconográficas ocorridas no Egito. No início era a Vaca. Provavelmente, uma mulher ser chamada de Vaca naquela época, deveria ser um elogio, pois esta esta a própria representação da divindade. Hoje ...


https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Nut_%28goddess%29

Uma cópia incompleta do Livro da Vaca Celestial foi descoberto pela primeira vez no santuário dourado de Tutankamon. Versões completas foram descobertas nas tumbas de Seti I (reinou de1.290 a 1.279 aC.) e Ramsés II (reinou de 1.279 a 1.213 aC). Cada versão foi encontrada em uma sala projetada exclusivamente para o Livro da Vaca Celestial, o que demonstra sua importância. Na tumba de Ramsés VI (reinou de 1.142 a 1.135 aC) foi encontrada uma versão escrita em papiro, agora no Museu de Turim. A linguagem usada no Livro da Vaca Celestial exibe raízes do período de Amarna, no reinado de Akhenaton. Contudo, os especialistas sugerem que o texto completo encontrado nas tumbas dos faraós tem origem bem mais remota, sendo cópia dos “Textos das Pirâmides”, descobertos em 1881 por Gaston Maspero. Por apresentarem uma síntese das crenças religiosas das primeiras dinastias do Egito, eles datam de 4.500 anos ou mais, considerando que estas crenças devem ter nascido muito antes.


Uma das hipóteses para a substituição da Vaca pelo Touro na representação imagética das últimas dinastias do Egito é que naquela época o poder de Amon, o guerreiro, já estava bastante consolidado, embora não tivesse conseguido apagar completamente os símbolos femininos que ainda estavam muito presentes.


Interessante é que o termo “Ka”, em egípcio, significa tanto o conceito de "força vital" quanto "touro". Na crença egípcia, o sêmen estava conectado com a vida e, até certo ponto, com o “poder ou domínio”. Pode-se inferir que o touro tenha sido um meio para expressar a força vital, da natureza, dos animais e dos humanos.

Wikimedia commons


Ápis foi retratado levando o símbolo de sua mãe, Hathor entre os chifres. Os nomes originais dos deuses Auset e Aser foram latinizados para Ísis e Osíris. Posteriormente, quando o mito de Osíris se consolidou, esses personagens míticos também foram associados ao touro, passando Osíris a ser chamado de Aser-hapi (Osíris-Ápis), que se tornou Serápis, que conquistou um lugar importante no Egito e na Roma antiga. Serápis é mencionado em 323 aC por Plutarco (Vida de Alexandre,) e Flávio Arriano (Anábase, VII, 26, 2). Em 389, uma multidão cristã liderada pelo papa Teófilo de Alexandria destruiu o Serapeum de Alexandria, mas o culto sobreviveu até que Teodósio I, em 391, interditou as religiões pagãs.


Deusa Hator protegendo o faraó. Templo de Thutmosis III
Wikimedia Commons


Hator, na forma de vaca, foi venerada desde o período pré-dinástico {anterior a 3 100 aC}, mas ela não reinou sozinha, o touro também foi venerado, pois ambos representavam a Grande Mãe, a fertilidade, numa época em que alimentar a tribo era tarefa grandiosa. Contudo, por volta de 2.000 aC, época das grandes migrações, é possível constatar a supremacia de Ápis em relação à Hator. Contudo, não faltaria muito tempo para o Touro ceder seu lugar ao Carneiro. É possível verificar essa substituição no corredor de entrada do Templo de Luxor, em Karnac, onde o carneiro passou a proteger o faraó e não mais a deusa Hator. A proteção que era dada pela Mãe - Mulher - Natureza, todas simbolizadas pela vaca, passou a ser dada pelo Pai - Homem - Guerreiro, simbolizado pelo carneiro.


https://commons.wikimedia.org/wiki/Commons:Quality_images_candidates/Archives_July_31_2015

Como já vimos anteriormente, com a expulsão dos hicsos e a fundação da 18ª dinastia, o deus Amon mudou de status. Com o aumento do poder da classe sacerdotal tebana, Amon deixou de ser uma divindade local para converter-se na de todo o Império. Para legitimar esta mudança Amon foi associado a Rá, o Sol, tornando-se Amon-Rá.


Vimos que as referências a Ra, Ram ou Rama existem desde a Suméria. Assim, a simbologia do carneiro NÃO foi uma novidade inventada pelos faraós, tal símbolo já vinha sendo utilizado por povos ancestrais. Existem registros das constelações celestes desde de 4.000 aC feita pelos sumérios, onde aparece o carneiro. O grande astrônomo grego Hiparco, inspirado no zodíaco sumério, manteve a divisão das constelações zodiacais em 12 partes iguais, de 30 graus cada, sendo que uma delas era o carneiro, chamado Áries pelos gregos, comprovando sua existência há muito tempo. Áries é formada pelas estrelas chamadas Hamal (Alpha Arietis), Sheratan (Beta Arietis) e Mesarthim (Gamma Arietis).



Vimos que Aríete é uma antiga máquina de guerra largamente utilizada desde a antiguidade para romper muralhas e portões de castelos, fortalezas e povoações fortificadas, constituído por um forte tronco de madeira resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava a forma da cabeça de carneiro. Este símbolo havia sido adotado pelos egípcios ao combaterem os hicsos e os expulsarem, sendo que foi nessa época que se deu a fusão entre Rá, o deus do Sol e Amom, o deus da guerra.


Ainda não há consenso entre os cientistas, mas, provavelmente, foi nessa época que se consolidou a exclusão da mulher no ato da criação. Assim surgiu Khnun, o deus carneiro, responsável por moldar em sua roda de oleiro os novos seres.


O deus carneiro chamado Khnun era responsável pela criação dos seres humanos. No seu torno formava não só a carne dos humanos, mas também o seu "ka" {sua personalidade, sua alma}. No seu torno Khnun também criou o ovo que gerou Rá, que por sua vez gerou os outros deuses, dizem as inscrições. Khnun possuía os títulos de "Oleiro Divino" e "Senhor das coisas criadas por si mesmo". Khnum era também considerado o guardião da nascente do rio Nilo, outro símbolo feminino.



Muito antes do aparecimento de Khnun foi Nut quem deu nascimento ao Sol, chamado Atum e depois Rá. No Templo de Dendera há esta magnífica imagem da deusa Nut parindo o Sol, cujos raios abençoam Hator, com suas orelhas de vaca e olhos de serpente.

https://www.crystalinks.com/nut.html

Nut e Hator foram associadas ao nascimento de TODOS os seres vivos e os alimentavam. Mas com o surgimento das guerras tais concepções religiosas foram mudando, a Natureza foi sendo excluída do processo de criação e a gestação passou a ser tarefa dos poderosos representantes do sexo masculino. Ora estilizados como o deus oleiro Khnun, ou literalmente como o Deus Único judaico-cristão na criação de Adão e Eva, ou simbolicamente como no afresco em que os profetas aparecem dando nascimento à Igreja.


Patriarcas Abraão, ao centro, ladedos por Isaac e Jacob. Afresco de uma igreja ortodoxa em Maramures, na Transilvânia. Século quinze. (photo © Elena Malec)http://www.interbible.org/interBible/decouverte/comprendre/2013/clb_130301.html

Assim, gradativamente, a função de gerar a vida foi deixando de ser atributo feminino para ser função exercida por um ser masculino, e com exclusividade (!). Por esta constatação é possível afirmar que a concepção do “Deus Pai” judaico-cristão não foi exatamente uma inovação, ela teve antecedentes.


No Egito ou na Grécia, o símbolo do carneiro traz a marca da guerra, cujos vencedores escreveram a história ficando o seu ponto de vista como sendo a verdade. Inegavelmente, a guerra travada entre os faraós tebanos e os hicsos foi um marco na passagem do paganismo para o monoteísmo da 18ª dinastia, cujos eventos se desenrolam simultaneamente com as histórias de Abraão e Moisés. Segundo os textos não-bíblicos, a história dos hicsos se mistura dramaticamente com a história dos primeiros patriarcas.


Tal constatação só foi possível devido ao avanço da revolução tecnológica que trouxe nova dinâmica para a busca, troca de informações e comparação das informações reveladas pelos papiros egípcios, tabletes em escrita cuneiforme e os fabulosos manuscritos do Mar Morto e Nag Hamadi, que estão sendo comparados e confrontados com as Escrituras da Torá, Bíblia e Alcorão, possibilitando uma releitura.


Vimos que, apesar de nascido na Mesopotâmia, Abrahan é considerado Pai dos judeus, tanto quanto Pai dos muçulmanos. Segundo a tradição hebraica, seu nome significa "Pai de uma nação poderosa", ou "Pai de uma multidão", contudo, seu significado pode ser outro.


Segundo a concepção hebraica, a letra "H" foi adicionada ao nome de Abran por fazer parte de um dos nomes de Deus – YHWH. Contudo, na tradição hindu a palavra A’Bran é traduzida como Sacerdote de RAMA, ou até mesmo o próprio RAMA.


Dizem os textos não bíblicos que Ab-Ram/Abrão/Abraão foi um rei, guerreiro e alto sacerdote de uma nova religião. Ao longo deste livro vimos como os sacerdotes sempre se aliaram aos exércitos para combate o poder estabelecido, inclusive o simbólico, e que depois de vencer a batalha se instalam no poder impondo nova religião e novas regras de comportamento, sobretudo em relação a mulher.


Vimos também que as histórias da Assíria, Babilônia, Mitani, Egito e Canaã se tangenciam. Todos estas civilizações aparecem no Antigo Testamento e um importante personagem foi José {chamado "do Egito", embora fosse hebreu}. Estudiosos trabalham na hipótese de que ele tenha sido Yuya, o único semita a ter sido enterrado no Vale dos Mortos do Egito, desafiando egiptólogos e exegetas bíblicos. Moisés também era hebreu, segundo as Escrituras, mas foi criado como egípcio, embora muitos autores afirmem que ele era, de fato, um egípcio, como afirmou Sigmund Freud; ou que Moisés foi Ossarseph, como disse Maneto; ou que Moisés teria sido Akhenaton, na hipótese de Ahmed Osman; ou ainda que ele teria sido o general Ramose na opinião de Chandler. Onde estará a verdade? Ainda não sabemos!


Quanto à Grande Mãe vimos que, ao longo dos milênios, o desafio de promover boas colheitas para garantir a alimentação da tribo ou do clã, passou a ser menos importante do que ganhar a guerra. A seca e a fome impulsionavam as grandes migrações que movimentavam populações inteiras em busca por alimento, que, por sua vez incentivavam as lutas sangrentas para consegui-lo, contra os adversários que tentavam impedir os predadores. O maior problema era avançar sobre o inimigo ou se defender dele. Contar com uma divindade protetora, a Grande Mãe, era menos importante do que vencer a guerra. Foi nesse contexto que surgiu Amon-Rá, patrono do primeiro exército egípcio. Contudo, o exército considerado "profissional" só foi aparecer bem mais tarde, por volta de 725 aC, organizado pelos assírios.


A história das guerras nos mostra que conflitos armados permanentes ocorridos no chamado Crescente Fértil exigiram a criação de exércitos profissionais, que atuaram em guerras incessantes até chegarem aos dias atuais e ao ponto de constituírem uma nova época geológica, o Antropoceno.


Para alguns cientistas, a atuação humana sobre o planeta teria impactado a Terra, a ponto de justificar a adoção de uma nova época geológica. Cunhado pelo biólogo Eugene Stoermer na década de 1980 e popularizado em 2000, pelo Nobel de Química, Paul Crutzen, o termo Antropoceno possui raízes gregas: “anthropos” significa homem e “cenos” significa novo.

Há milênios os humanos vêm deixando um rastro de destruição no nosso planeta. Hoje consumimos milhões de toneladas de plástico; as indústrias e o agro negócio poluem o ar, as águas e tudo o mais que esteja à sua volta. Nossos mares se tornaram mais ácidos e nossa atmosfera está sobrecarregada de poluentes.


Apesar de tudo, assistimos inertes às profundas mudanças na nossa biosfera, como se nada de mal pudesse acontecer à nossa civilização. Porém, nem todos pensam assim. Essas transformações do planeta levaram a criação de uma Comissão Internacional de Estratigrafia pela Comissão Executiva da União Internacional de Ciências Geológicas, cujo objetivo é definir quando foi que começamos a deixar o Holoceno para trás e demos início ao Antropoceno. Para alguns cientistas foi no Neolítico, para outros na Revolução Industrial. Mas como a ciência trabalha com critérios e não com opiniões, todos os cientistas concordaram em estabelecer um parâmetro, que foi assim definido: seria necessário identificar um evento simultâneo que tenha deixado a sua pegada em TODO o planeta dando início ao Antropoceno. A data encontrada foi meados do século 20. Por quê? Porque os testes das primeiras bombas nucleares deixaram seu rastro em forma de pó radioativo pela maioria da superfície do planeta.


Os conflitos armados chegaram ao ponto de produzir uma bomba de destruição em massa, a bomba atômica, lançada em 1945 durante a Segunda Guerra Mundial.


Uma equipe liderada por Glenn T. Seaborg e Edwin McMillan na Universidade da Califórnia, Berkeley, sintetizou plutônio pela primeira vez em 1940. Traços de Plutônio na natureza foram descobertos subsequentemente. O Projeto Manhattan desenvolvido pelos Estados Unidos da América durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu armas nucleares pela primeira vez. Tais bombas tinham núcleo de plutônio.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Plut%C3%B3nio


E o que isso tem a ver com a transformação da Grande Mãe em Deus Pai?


A resposta é: TUDO!


Vimos que a destruição começou com as árvores e florestas, feita em nome do progresso. As árvores eram símbolos da Grande Mãe e as florestas o lugar para o seu culto. Quando o culto a Grande Mãe foi proibido e seus altares destruídos (2 Reis 23.4-7), os atributos da Deusa foram transferidos para YHWH, o Deus Único.


No relato bíblico, YHWH apareceu para Moisés na forma de sarça ardente. É muito interessante observarmos que árvore ou arbusto eram formas de representar a Deusa Mãe nas antigas civilizações. Não dá para passar despercebido que YHWH tenha usado um símbolo conhecidamente feminino, atribuído à Deusa para se comunicar com Moisés.

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Foster_Bible_Pictures_0060-1_Moses_Sees_a_Fire_Burning_in_a_Bush.jpg

A Sarça, chamada "Seneh" em hebraico, é a origem da palavra "Sinai". Ela é uma planta espinhosa da família das fabáceas, do gênero Acácia.


Esta árvore, também conhecida pelo nome de "Shittim", é citada na Bíblia várias vezes}, clara menção ao uso de um símbolo sagrado, até então usado como referência para a Grande Mãe. Se ela era a Deusa da Fertilidade, agora esse atributo é Dele, se ela era simbolizada pela Árvore Sagrada, agora a Árvore é Dele. Se a Natureza simbolizava a Deusa – e vice-versa – agora a Natureza tem que ser dominada pelo homem, feito à imagem e semelhança Dele. E disse Deus:


Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. Gênesis 1:26


Depois desta ordem, o homem passou a dominar a Natureza e os homens mais fracos. E todo homem, forte ou fraco, passou a se sentir no direito de dominar a mulher, como dominaria qualquer animal a que foi autorizado por Deus a dominar. Contudo, esse "poder" do homem faz pensar no significado do "poder do mais fraco".


O nome da deusa árabe Al Uzza vem da raiz izza/issa, que significa “poderosa”, numa clara alusão à Ísis, que também era representada pela árvore Acácia. Esta árvore ou arbusto é conhecida no Brasil como “Chuva de Ouro” e no Nordeste como "Jurema".


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Acacia_saligna(04).jpg


O simbolismo da acácia é muito interessante, pois, mesmo num clima de intenso calor e seca, seu verde persistente indica a luta pela vida, por este motivo, no Egito antigo a madeira da Acácia era usada para fabricar ataúdes e sarcófagos. Para os egípcios a acácia era uma árvore sagrada. A acácia é uma árvore de madeira dura, resistente à putrefação. Algumas espécies produzem goma-arábica, outras fornecem tanino, mas sua madeira é sempre de grande valor. Existem 400 espécies de acácias espalhadas pelo mundo, todas produzem flores e todas carregam um simbolismo místico. As Acácias sempre foram consideradas plantas sagradas por diferentes povos de todo o mundo.


Os egípcios e hebreus veneravam a "Acacia nilotica“ (Sant Shittim), os hindus, a “Acacia suma” (Sami), os árabes, a “Acacia arabica”. Na China antiga as acácias também eram associadas ao conhecimento, luz e verdade, é o princípio yang, visível e luminoso da realidade. Os índios brasileiros, principalmente do Norte e Nordeste cultuavam uma espécie de acácia, tradição que foi herdada e mantida até hoje por seus descendentes. A espécie nativa do nordeste Brasileiro é a Mimosa Hostilis e recebe o nome popular de “Jurema”. A cidade sagrada da Jurema é ALHANDRA, na Paraíba, antigo centro de romarias. Dentro de Alhandra estão outros três locais sagrados conhecidos por Acais, Tapuiú e Estiva, onde se encontram os túmulos de vários mestres juremeiros famosos: Maria do Acais, Damiana Guimarães e Zezinho do Acais.


Segundo John Hutton Balfour, (1857) As plantas da Bíblia. Árvores e arbustos, a árvore Shittah [Isaías 41:19] ou no plural "shittim" era usada no Tanakh para se referir a árvores pertencentes aos gêneros Vachellia e Faidherbia (ambas classificadas como Acacia), podem ser encontradas crescendo em estado selvagem no deserto do Sinai e no vale do rio Jordão. No Êxodo , os antigos israelitas receberam a ordem de usar "madeira de shittah" para fazer o Tabernáculo e a Arca da Aliança .


A palavra shittah, em hebraico antigo, foi traduzida como Sita ou Cetim. Na versão da Bíblia de João Ferreira de Almeida, Bete-Sita significa Lugar das Acácias.


... e o exército fugiu para Zererá, até Bete-Sita ... (juizes 7:22)

... plantarei no deserto o cedro, a árvore da sita, e a murta e a oliveira... (Isaias 41:19).

Também farão uma arca de madeira de cetim. Também farás uma mesa (dos pães da proposição) de madeira de cetim. Farás estes varais (para transportar a mesa) de madeira de cetim... (Êxodo 25: 10, 23, 28)

Farás também as tábuas para o Tabernáculo de madeira de cetim. Farás também cinco barras de madeira de cetim. E o porás sobre quatro colunas de madeira de cetim. E farás para esta coberta (do Tabernáculo) cinco colunas de madeira de cetim. Farás também o altar de madeira de cetim. Farás também varais para o altar, varais de madeira de cetim. (Êxodo 26:15, 26,37 e 27:1, 6)


Conforme o Dicionário Brasileiro Mirador, cetim deriva do árabe zaituni e serve para designar um tecido de seda ou algodão macio e lustroso. Entretanto, considerando que os estudiosos concordam que a Arca, a Mesa e o Tabernáculo foram construídos com madeira de Acácia por ser resistente à putrefação, incorruptível e inatacável pelos predadores naturais, a “madeira de cetim” é madeira de acácia. Não por acaso a acácia também era usada na fabricação dos sarcófagos. Cenas de mumificação e inscrições egípcias mostram claramente a ligação entre a Deusa da Árvore e seu papel acolhedor depois da morte; ser sepultado em caixão de madeira simbolizava o retorno ao útero da Grande Mãe. Estas tradições egípcias foram incorporadas pelos judeus.

Lemos no Antigo Testamento que o Profeta Moisés veio ao Monte Sinai e viu um arbusto que estava queimando, mas não era consumido pelo fogo, e ouviu a voz de Deus que lhe dizia para ficar longe desse arbusto e tirar os sapatos. Moisés estava em pé na terra santa. “O anjo de Iahweh lhe apareceu numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse Moisés:


‘Darei uma volta e verei este fenômeno estranho, verei porque a sarça não se consome’. Viu Iahweh que ele deu uma volta para ver. E Deus o chamou do meio da sarça. Disse: ‘Moisés, Moisés!’. Este respondeu: ‘Eis-me aqui”. (Êx 3,2–4).


https://fasbam.edu.br/2021/04/07/o-simbolismo-e-o-significado-do-icone-da-sarca-ardente-da-mae-de-deus/


É importante observar que a planta escolhida nas Escrituras para representar Deus era do gênero Acácia, milenarmente identificada com a Grande Mãe. E este não é o único exemplo que aparece.


No Antigo Testamento um Pilar Asherah é uma árvore sagrada ou algo que a represente, também chamado de “poste” ou “coluna”, que ficava perto de locais religiosos cananeus para homenagear a Deusa Mãe Asherah. Sua adoração estava ligada ao culto de árvores em bosques sagrados pelos semitas, tradição que se estendeu até os celtas em toda a Europa. Bastava uma árvore frondosa para que a ligação mental surgisse, razão pela qual é dito no Antigo Testamento que Deus proibiu expressamente a presença de qualquer árvore junto ao Seu altar:


“Não estabelecerás poste-ídolo, plantando qualquer árvore junto ao altar do YHWH, teu Deus. (Deuteronômio 16:21) {grifo nosso}


O nome Asherah aparece quarenta vezes na bíblia hebraica, mas é muito reduzido nas traduções seguintes. A associação de Asherah com árvores na Bíblia Hebraica é muito forte. As árvores descritas como Asherá incluem videiras, romãs, nozes, murtas e salgueiros. O fato é que a nova religião, centrada em Yahweh, foi sendo construída e se impondo a partir da proibição a qualquer tipo de representação religiosa que não fosse Yahweh. De politeísta, Israel passou a ser monoteísta, mas não sem resistência, sobretudo das mulheres, mas também com a participação dos homens como se pode constatar nas palavras de Jeremias:


Quanto à palavra que nos anunciaste em nome do Senhor, não obedeceremos a ti; Mas certamente cumpriremos toda a palavra que saiu da nossa boca, queimando incenso à rainha dos céus, e oferecendo-lhe libações, como nós e nossos pais, nossos reis e nossos príncipes, temos feito, nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém; e então tínhamos fartura de pão, e andávamos alegres, e não víamos mal algum. Mas desde que cessamos de queimar incenso à rainha dos céus, e de lhe oferecer libações, tivemos falta de tudo, e fomos consumidos pela espada e pela fome. E quando nós queimávamos incenso à rainha dos céus, e lhe oferecíamos libações, acaso lhe fizemos bolos, para a adorar, e oferecemos-lhe libações sem nossos maridos? Jeremias 44:16-19 {grifo nosso}

Árvores, Grande Mãe e Natureza eram simbioticamente sagradas. Porém, lá pelo entorno do segundo milênio antes da era comum, chegou o tempo das grandes migrações. Havia muita seca e muita fome. Junto com o conquistador chegou também o deus da guerra, o único. O sagrado foi vilipendiado. Árvores, que eram sagradas, passaram a ser simplesmente combustível. A Natureza e a Grande Mãe foram subjugadas ao predomínio do mais forte e ao seu script: pilhar, tocar fogo, transformar tudo em terra arrasada e, finalmente, estuprar as mulheres, passou a ser o roteiro repetido à exaustão até os dias atuais.


Em seu livro, História das Florestas, John Perlin demonstra que a madeira foi a matéria prima que impulsionou a cultura desde o final do paleolítico até a chegada do combustível fóssil. Ao longo de dez milênios as árvores forneceram material para fazer o fogo: cozinhar cereais tornando-os comestíveis; assar carnes e peixes; se proteger dos animais; se aquecer no inverno e outros tantos usos. O fogo converteu o barro em potes de cerâmica para armazenamento e forjou metais. Não há dúvida sobre o progresso trazido por essa matéria-prima que parecia inesgotável.


A madeira foi a base sobre a qual as sociedades antigas foram sendo construídas. Baseado em pesquisa documental, Perlin observou que o primeiro relato escrito sobre desmatamento de florestas se originou no Crescente Fértil, em Uruk, há cerca de 4.700 anos. Após a derrubada das florestas teve início o processo de erosão do solo e sua crescente salinização impactando as colheitas. Os registros da época mostram que a desintegração da agricultura sumeriana ocorreu por volta de 2.000 aC, quando as safras de cevada entraram em franco declínio, provocando o colapso do Império Sumério e sua subordinação aos assírios.


Se o declínio da civilização Suméria começou com o desmatamento, Perlin explica que o mesmo se deu com a civilização grega. Estudos de amostras de pólen e de perfis de solos registram a destruição sofrida pelas florestas do Peloponeso. E novamente vieram as catástrofes como a erosão. Os desastres naturais parecem ter-se tornado mais comuns no Peloponeso durante o último período da Idade do Bronze como resultado do desmatamento. Como consequência, houve novo deslocamento do centro do poder, desta vez para a região de Troia, rica em suprimentos de cereais e madeira de lei. Na Ilíada se lê a respeito de “lenhadores derrubando frondosas árvores de carvalho, que tombavam com grande estrondo.” Segundo o autor, os navios da época não duravam mais que 25 anos: “os velhos navios necessitavam de reparos e precisavam ser substituídos. E mais florestas tombaram…” Neste conflito fratricida foram destruídas mais florestas gregas do que em qualquer outra época. Sem mais árvores para cortar, Atenas enviou uma frota inteira para transformar a Sicília numa colônia da cidade. Assim, o desmatamento das florestas da Itália tornou-se o objetivo da conquista. Como a Itália tinha madeira em abundância, os atenienses construíram uma enorme esquadra para atacar e subjugar seus adversários. O desmatamento, que não era restrito aos gregos, também foi usado por Espanha e Portugal seguidos de França e Inglaterra, países que usaram muita madeira para construção marítima na época dos descobrimentos.


Durante milênios a madeira e o carvão foram utilizados para atender quase todas as necessidades dos povos de então até serem substituídos pelo petróleo, que passou a ser explorado comercialmente a partir de meados do século 19, apesar de já ser conhecido há milhares de anos. O seu uso tornou-se imperativo com a demanda de combustível para iluminação e depois como combustível para motores. Durante a década de 1970, o petróleo correspondia a quase 50% do consumo de energia mundial, tornando-se o motivo principal de todas as guerras da atualidade. A história é fértil em demonstrar o que aconteceu com civilizações antigas que abusaram do meio ambiente, sendo esta a causa principal do seu desaparecimento.

A História Das Florestas – A importância da madeira no desenvolvimento da civilização. Editora Imago, 1992.

Clorofila e sangue humano têm estrutura molecular semelhante, exceto o elemento central que é o ferro para o sangue humano e o magnésio para as plantas.

A Clorofila tem 137 átomos em sua molécula!


Não, não é mera curiosidade. É algo a se pensar.

A relação que as religiões monoteístas estabeleceram com o meio ambiente, com a Natureza, foi a mesma que os homens estabeleceram com as mulheres. Tais relações foram exatamente as mesmas: dominação, posse, subordinação do outro aos seus próprios interesses, sobretudo os sexuais, violência, tortura e finalmente destruição e morte. A imposição do Deus Único teve um custo muito alto. Tal imposição foi feita em grande escala, destruindo os símbolos femininos, ato que se reproduz nas relações interpessoais, onde o homem se sente no direito de destruir e matar uma mulher, assim como faz com as árvores, com os rios e até mesmo com o próprio planeta...


Embora seja uma prática de longa data, nunca houve tantos casos de feminicídio como na atualidade. Os noticiários estão cheios de exemplos de rapto e morte de mulheres, jovens, meninas…


Apenas para citar um único exemplo, desde o início de 2014 até março de 2015 o Boko Haram sequestrou 2 mil mulheres, matou pelo menos 5,5 mil civis em 300 invasões e ataques durante seu avanço no nordeste da Nigéria, aponta a Anistia Internacional. O Boko Haram nasceu como movimento religioso em 2002 e dez anos depois passou a atacar escolas, professores e estudantes para impedir educação ocidental no país. Seu nome significa “a educação ocidental é pecado”. Em 2021, foi lançado o livro Bring Back Our Girls (Traga nossas meninas de volta) em que os autores Joe Parkinson e Drew Hinshaw mostram ao mundo as minúcias da vida das meninas capturadas pelos terroristas.


Boko Haram é apenas um exemplo da situação da mulher. Em grau maior ou menor esta situação se reproduz em todo o mundo, em todos os regimes políticos, em todas as crenças, sem excessão.


A instituição do monoteísmo e do Deus Único, não importa se egípcio ou judaico, foi a base para edificar o individualismo e com ele o poder do mais forte. A força física foi a medida para o estabelecimento das demais, sobretudo a força do dinheiro. Quem pode mais, chora menos! diz o ditado popular. E isso vale para as mulheres, para as terras indígenas, para os trabalhadores e trabalhadoras, para os pobres...


No entanto, tomar posse de algo e de alguém foi sancionado por ordem divina:


E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. Gênesis 1:28 {grifo nosso}

As religiões politeístas possuíam muitos deuses e deusas e eram profundamente ligadas à Natureza, que era sagrada. As religiões monoteístas nasceram associadas à sujeição do mais fraco e à guerra, sempre com base na dominação, no poder do mais forte. Iahweh era guerreiro por excelência: 262 versículos bíblicos se referem a Ele como “Senhor dos Exércitos”, bom exemplo de seu caráter belicoso.


As religiões judaico-cristãs ajudaram a modelar o mundo contemporâneo e o exacerbado individualismo em que vivemos, por isso elas têm uma responsabilidade muito grande, seja em relação à milenar subordinação da mulher ao homem, ou à destruição da Natureza. As religiões não produziram estas situações sozinhas, mas certamente ajudaram a instituir os preconceitos enfrentados pela mulher, consentiram e propagaram a falsa ideia da superioridade masculina. Valeu à pena?


Cabe a cada um de nós responder a esta e a tantas outras perguntas que ficaram sem respostas durante o longo trajeto que a humanidade percorreu para transformar a Grande Mãe em Deus Pai.


No entanto, mais importante que as respostas, são as perguntas. Já dizia um velho e querido Mestre: "Quem não faz perguntas, jamais obterá respostas!"


Eu gostaria muito de saber quais inquietações surgiram na cabeça de cada leitor. Que perguntas foram feitas? Que dúvidas vieram incomodar o sono ...


Se você gostou, envie suas perguntas, deixe seus comentários no final de cada texto e aperte o símbolo do coração até ficar vermelho. Isso ajuda a ampliar o alcance do blog para mais pessoas. Obrigada.

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