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11 - AKHENATON E MOISÉS NÃO PODEM TER SIDO A MESMA PESSOA.

Atualizado: 29 de jan. de 2022



https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Amenhotep.jpg

Akhenaton, chamado Amenófis IV {em grego} ou Amenhotep IV {em egípcio}, foi faraó da 18ª Dinastia e reinou entre 1352-1338 aC. Ele é lembrado por introduzir o monoteísmo no Egito através da adoração ao deus único Aton e pela destruição dos demais deuses egípcios, sobretudo Amon, fatos que provocaram a maior revolução religiosa daquela época e talvez da história. No entanto, o motivo da luta travada entre os partidários de Amon e de Aton pode não ser exatamente religioso.


Da mesma forma que aconteceu com os primeiros patriarcas e promotores do monoteísmo, o faraó Akhenaton está envolto em mistérios ainda não decifrados. Alguns autores trabalham com a hipótese de que ele teve que abandonar o trono em favor de seu filho Tutankhamon, outros defendem que ele aliou-se à tribos beduínas e voltou ao Egito para reivindicar o trono. Durante estas andanças seu nome não podia ser pronunciado, tendo sido apagado dos monumentos e dos registros egípcios, sendo chamado de O Herege, O caído, O Leproso {lembrando que o termo "leproso" era um tipo de insulto e não simplesmente o nome de uma doença}. Alguns autores o identificarão com Moisés.


Tanto Akhenaton quanto Moisés nasceram no Gósen, que fica no delta do Nilo. Ambos instituíram a crença no Deus Único, ambos foram iniciados nos mistérios de ATUM, a divindade primordial venerada no Templo de Om, em Heliópolis. Ambos beberam da fonte trazida pelos "Reis Pastores" sediados em Avaris, chamados Hicsos. Será que ambos foram uma só pessoa?



A hipótese da conexão entre os hicsos e os hebreus foi levantada pelo historiador egípcio Maneto. Diz ele que no século 3 aC, houve uma massiva e brutal invasão do Egito por estrangeiros do leste {hoje Turquia e Iran}, a quem chamou de HYCSOS, que se estabeleceram em torno da cidade de Avaris, no delta do Nilo, conseguindo depois tomar o poder e governar o Egito entre 1630-1521 aC. Eles exerceram uma grande influência na história egípcia, mas acabaram sendo expulsos pelo primeiro faraó do Novo Reino, Amosis, que deu início à 18ª dinastia.


Segundo a Enciclopédia Britânica, os hicsos se originaram no norte da Palestina. Maneto descreve os hicsos como uma horda invasora de asiáticos, ou seja, vindos da Ásia Menor, hoje Turquia. Mas, outros se referem aos hicsos como sendo uma infiltração gradual de nômades ou semi nômades semitas que lentamente assumiram o controle da região do delta do Nilo e acabaram por tomar o poder. Com o colapso da 13ª dinastia, houve um vácuo de poder, o que pode ter levado à ascensão da 15ª dinastia, em Tebas, bem longe do delta do Nilo, mas os hicsos continuaram estabelecidos em Avaris. Porém, quando foram expulsos do Egito, todos os vestígios de sua ocupação foram apagados. Nenhum relato na perspectiva dos hicsos sobreviveu, prevalecendo apenas a narrativa dos vencedores. Além da unificação do país, certamente os faraós, o exército e o clero de Tebas estavam interessados em tomar posse do rico delta do Nilo e sua saída para o Mediterrâneo, a fim de facilitar as trocas comerciais com os demais reinos da região.


Em seu ‘Contra Apion’, Josefo debateu o sincronismo entre o relato bíblico do Êxodo e a expulsão dos hicsos. Josefo identifica o êxodo israelita com o primeiro êxodo dos hicsos, mencionado por Maneto, quando ‘reis pastores’ foram perseguidos pelo exército egípcio através da península do norte do Sinai. Josefo identifica um segundo êxodo mencionado por Maneto quando um renegado sacerdote egípcio chamado Osarseph liderou 80 mil ‘leprosos’ a se rebelarem contra o Egito. Muitos estudiosos interpretam que os termos “leprosos e sacerdotes leprosos” não se referiam literalmente aos portadores da doença, mas sim aos ‘impuros’, por estarem propagando um novo sistema de crenças, estranho e indesejável. Depois das tentativas de seu avô, de seu pai e de seu irmão, Ahmosi I conseguiu finalmente expulsar os hicsos. Ahmosi iniciou o que ficou conhecido como o Novo Império, unificou novamente o Egito e foi sem dúvida um grande guerreiro e estrategista.

https://en.wikipedia.org/wiki/Hyksos
http://www.skeptically.org/oldtestament/id4.html



Escultura de madeira da tumba de Mesehti – 11ª Dinastia – Museu do Cairo.
https://antigoegito.org/soldados-e-armas-egipcias-2/

Até o faraó Ahmosi (1550-1525 aC.) o exército egípcio não detinha um poder expressivo. Era pequeno, composto por camponeses e agricultores chamados quando havia necessidade de montar um grupo de defesa, não recebiam remuneração, não possuíam armamentos nem armaduras e sua função era manter afastados os assaltantes, ou invasores políticos, além de proteger as caravanas comerciais.


Contudo, para dar combate aos hicsos, foi necessário fortalecer o exército em Tebas e isso não poderia ser feito sem o apoio dos sacerdotes, que eram efetivamente a força por trás do trono. Diante da supremacia bélica das dinastias dos governantes hicsos os egípcios sediados em Tebas tiveram que se armar. É desta época a criação do primeiro exército do Egito, cujo patrono foi Amon. Os relatos de Maneto sobre o Egito são conhecidos apenas através das obras de outros autores, entre eles Flavius Josephus.


Entretanto, o empoderamento excessivo do exército, aliado ao poder cada vez maior do clero, mostrou seu lado pernicioso. O faraó foi perdendo gradativamente seu poder, submetendo-se cada vez mais às regras impostas pelo clero e pelo exército. O faraó foi ficando cada vez mais impotente, começando a ser transformado em um monarca sem poder, que hoje chamamos jocosamente de “rainha da Inglaterra”.


Data aproximada de reinado na 18ª Dinastia, mas ainda há muitas divergências quanto a elas.


Ahmósis I, (Nebpehti-re[1]) – 1550-1525 a.C.

Amenófis I, (Djeserka-re) – 1525-1504 a.C.

Tutemés I, (Akhperenre) – 1504-1492 a.C.

Tutemés II, (Akhperenre) – 1492-1479 a.C.

Hatexepsute, (Maatka-re) – 1479-1457 a.C.

Tutemés III, (Menkheperu-re) – 1457-1425 a.C.

Amenófis II, (Akheper-re) – 1425-1400 a.C.

Tutemés IV, (Menkhperu-re) – 1400-1390 a.C.

Amenófis III, (Nebmaat-re) – 1390-1352 a.C.

Akhenaton, (Neferkheperu-re-waenre) – 1352-1338 a.C.

Semencaré, (Ankhkeperu-re) – 1338-1336 a.C.

Tutankhamon, (Nebkheperu-re) – 1336-1327 a.C.

Aí, (Kheperkheperu-re) – 1327-1323 a.C.

Horemebe[2] (Djeserkheperu-re) – 1323-1295 a.C.

https://pt.wikipedia.org/wiki/XVIII_dinastia_eg%C3%ADpcia

Essa situação de “reina, mas não governa” perdurou até que Amenófis II, bisavô de Akhenaton, decidiu opor-se ao clero tebano e ao exército, ambos seguidores do deus da guerra Amon. Até onde se sabe, Amenófis II foi o faraó que deu início ao culto a Aton, que culminaria com a revolução religiosa promovida por seu bisneto. A história de Amenófis II {também chamado de Amenhotep II} é bem interessante.

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Amenhotep_II.jpg


O bisavô de Akhenaton, Amenófis II, foi filho de Tutmés III e uma esposa menor, Merytre-Hatshepsut e ele não era o primogênito. Devido a isso provavelmente, teve que enfrentar o clero tebano para ser considerado um herdeiro legítimo. Seu irmão mais velho, Amenemhat, filho da esposa principal, Satiah, ocupava originalmente esse posto. No entanto, a rainha Satiah e o príncipe Amenemhat morreram, o que levou Amenófis II ao trono. Ele, que também é chamado de Amenhotep II, nasceu e foi criado em Memphis, no delta do Nilo, e não em Tebas, a capital tradicional. Esse dado é muito importante, pois o delta do Nilo havia sido a região do Templo de Om, onde a ideia do Deus sem forma e sem nome era dominante. Essa situação era bem diferente de Tebas, onde o culto ao deus Amon, o deus da guerra, predominava.


Amenófis II, também teve que indicar um filho, Tutmés IV, que também não era primogênito, como seu sucessor ao trono. Dois irmãos mais velhos haviam falecido e assim coube a ele reinar. Porém, não antes de passar por um evento cerimonial a fim de ser legitimado pelos sacerdotes tebanos do deus Amon, condição para ser coroado.

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Great_Sphinx,_Pyramids_of_Gizeh-1839)_by_David_Roberts,_RA.jpg

De acordo com a lenda, Tutmés IV, filho de Amenófis II, devia o trono a Esfinge de Gizé. Diz a tradição que num certo dia Tutmés sentou-se a sombra da esfinge, que nessa época estava coberta de areia tendo apenas sua cabeça de fora. O jovem adormeceu e teve um sonho no qual a esfinge lhe disse: “Dar-te-ei a realeza sobre a Terra; tu levarás a coroa branca e a coroa vermelha sobre o trono do Egito. A areia do deserto me atormenta, a areia por cima da qual eu estava em outro tempo. Ocupa-te de mim”. Tutmés mandou retirar a areia e restaurar a Esfinge. Entre as suas patas, mandou erguer uma estela, na qual narra o seu sonho. Em troca, a esfinge converteu-o no faraó Tutmés IV. Em seu reinado, o culto a ATUM, que havia sido intenso nas primeiras dinastias, foi retomado. Tutmés favoreceu o culto de Heliópolis confrontando Amon, o deus de Tebas. Tentando se livrar do poder crescente do clero nos assuntos de governo, Tutmés destituiu o sumo-sacerdote de Amon do cargo de Vizir, equivalente a Ministro da Fazenda, e se auto nomeou sumo sacerdote de Amon.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tutem%C3%A9s_IV

Graças à correspondência trocada com o reino de Mitani, foi possível conhecer as relações tensas do Egito com os seus vizinhos. A situação no Oriente tornou-se muito perigosa, pois apareceu outra potência muito poderosa, os Hititas. De índole guerreira e vizinhos do reino de Mitani, os hititas dispunham-se a conquistar a região, incluindo o Egito. Assim, Egito e Mitani aliaram-se para combater a nação hitita. Embora fossem inimigos ferrenhos de longa data, Egito e Mitani se viram obrigados a criar uma aliança estratégica na luta contra os hititas. E, para consolidar ainda mais essa aliança, combinou-se o casamento de Tutmés IV com Mutemwiya, provavelmente filha de Aratama I, monarca de Mitani, quando o faraó ainda era príncipe. Dessa união nasceu Amenófis III, pai de Akhenaton. Contudo, a necessidade de construir uma lenda, para legitimar seu direito de sucessão ao trono, indica que Tutmés IV não era o legítimo sucessor de acordo com as regras de sucessão da época. Além disso, ele confrontou diretamente o clero de Amon. Tutmés não se considerava filho de Amon e não devia o trono ao clero desse deus, por isso, o seu nome de coroação não se refere a Amon, uma vez que Tutmés significa “nascido do deus Tot”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tutem%C3%A9s_IV

Tuthmosis IV e sua mãe Tiaa (1419-1386 aC) - Avô de Akhenaton
http://www.ancient-egypt.info/2012/04/tuthmosis-iv-pharaoh-biography-1419.html

Como se vê, a revolução religiosa de Akhenaton começou com seu avô.


Tal revolução não se deu propriamente pela súbita conversão a outro deus, mas pela revolta contra a intolerância dos sacerdotes de Amon em aceitar os herdeiros ao trono que não estivessem dentro das regras estabelecidas por eles. Era preciso que o herdeiro fosse filho da Grande Esposa Real, que também desempenhava o papel de Grande Esposa de Amon nos rituais realizados nos templos. Caso fosse filho de uma esposa secundária, ele não poderia ser considerado o legítimo herdeiro, a não ser que o clero estivesse disposto a aceitá-lo, submetendo-o ao ritual de adoção. Esta “fragilidade” do herdeiro o tornava um eterno “devedor” do clero. Os sacerdotes o faziam se lembrar que estava ocupando o trono porque eles, os sacerdotes, haviam permitido que isso acontecesse. Daí a situação do “reina, mas não governa”.


No reinado de Tuthmosis IV, a mitologia centralizada em Rá, o Disco Solar, voltou a ocupar a posição de prestígio que havia perdido espaço desde a ascensão de Amon, patrono do clero e do exército de Tebas. Rá e Amon eram deuses solares, mas guardavam diferenças entre si. Rá era uma divindade sem forma física, já Amon era um deus guerreiro, cujo símbolo era o carneiro. Por uma estratégia dos sacerdotes tebanos, após a vitória contra os hicsos estes dois deuses foram associados em uma única divindade, Amon-Rá.


A vitória nos combates para expulsar os hicsos conferiu muito poder ao exército e ao clero, um poder demasiado, sempre crescente ao longo do tempo. Em nome de Amon-Rá, o clero e o exército passaram a impor as regras de governança, inclusive as de reconhecimento do futuro príncipe que estava na linha de sucessão, submetendo o faraó aos seus interesses. Buscando sair da tutela do clero de Amon, Tuthmosis IV adotou o antiquíssimo culto a ATUM, propagado sobretudo a partir do Templo de Om, em Heliópolis.


O sucessor de Tuthmosis IV e Mutemwiya foi Amenófis III. Da mesma forma que seu pai e outros faraós, a mãe de Amenófis III era uma esposa secundária, prenunciando muitos problemas para sua sucessão e para o seu reinado.


Na comemoração dos trinta anos do seu reinado, Amenófis III voltou a confrontar-se com o clero de Amon, declarando-se Filho de Aton, em mais uma tentativa de impor limites ao poder dos membros do clero amonita, cuja intervenção no governo era cada vez maior. Esta atitude do faraó não ficaria sem ser revidada, então o clero recusou-se a reconhecer como legítimo o filho da rainha Tiye, esposa secundária de Amenófis III, que ele elevou ao posto de Grande Esposa Real em detrimento de Sitamum, considerada pelo clero amonita a legítima herdeira.


Como se sabe, Tiye era filha do semita Yuya e da egípcia Tuyu, que não pertencia à nobreza. Segundo as regras da época, sua ascendência não lhe dava o direito de ser rainha, nem legitimidade para seus filhos herdarem o trono.


Segundo Ahmed Osman, quando a saúde de Amenófis III, pai de Akhenaton, se deteriorou e o poder de Tiye, aumentou na mesma proporção, ela arranjou o casamento de seu filho com sua meia-irmã e legítima herdeira, Nefertiti, provavelmente filha de Sitamum com Amenófis III {esta hipótese não está comprovada}. Ao assumir a co-regência, Amenófis IV adotou uma atitude agressiva contra o clero de Amon ao construir em Tebas um grande templo para Aton dentro dos templos em Karnak. Ele desdenhou dos sacerdotes amonitas ao não convidá-los para as cerimônias de inauguração do novo templo dedicado a Aton. Este foi o cenário para mudanças mais radicais que estavam por vir. Sem conseguir sucesso ao enfrentar a casta sacerdotal tebana organizada em torno de Amon, Amenófis IV, que significa “Amon está satisfeito”, mudou seu nome para Akhenaton “Espírito atuante de Aton”. Além disso, resolveu também transferir o centro do poder, localizado em Tebas, para uma cidade dedicada a Aton, que ele chamou de Akhetaton (Horizonte de Aton), hoje conhecida como Tell El Amarna. {pág 70}


Tell El Amarna a cidade construída por Akhenaton foi chamada por ele de Aquetáton, que significa "O horizonte de Áton", está situada na margem oriental do Nilo, a cerca de 312 quilômetros do Cairo, perto de Menphis, e a meio caminho de Tebas.

https://egiptoexclusivo.com/destinos/egipto-medio/amarna-beni-hassan-hermopolis/

É interessante observar que a nova capital foi localizada no centro das ‘Duas Terras’, como era chamado o Egito, sendo Avaris e Tebas os polos adversários naquele tempo. De um lado estava o delta do Nilo, reduto dos governantes hicsos, e no outro extremo Tebas, reduto do clero amonita.


Amarna foi a primeira cidade planejada do Egito. No centro encontrava-se o grande templo de Aton, que tinha cerca de oitocentos metros de comprimento por trezentos de largura. Seus pátios não tinham teto, a fim de reverenciar o deslocamento do sol, desde o nascente até o poente. Sua arquitetura era completamente oposta aos templos antigos, repletos de salas escuras e inacessíveis, sendo a menor de todas o Santo dos Santos onde se realizava o culto e acessível apenas ao Sumo Sacerdote e pequena parte do clero. Mas, em Amarna, essa estrutura ao ar livre permitia que os raios de Aton fossem presenciados e reverenciados por todos, razão da sua grande dimensão.


Em menos de duas décadas, Akhenaton perdeu a guerra travada entre o poderoso clero de Amon e os insurgentes seguidores de Aton. O novo centro do poder não resistiu e o faraó foi banido dos registros oficiais, sendo mencionado apenas como ‘herege’, ‘caído’ ou ‘inimigo’. O templo que ele mandou construir em Karnac, bem como qualquer menção a ele nos registros oficiais, não sobreviveram à fúria dos vencedores, que apagaram seu nome e os dos seus sucessores, na tentativa de fazê-los cair no esquecimento. A vida de Akhenaton começou a ser desvendada após a descoberta da tumba do seu filho Tutankhamon, e da identificação dos restos arqueológicos da cidade de Amarna, no século 20.


Akhenaton e Nefertiti foram retratados inúmeras vezes com a mesma estatura, pressupondo igualdade entre ambos, tal qual expressada por seu pai Amenofis III em relação à rainha Tiye. Nefertiti desempenhou um papel importante na adoração de Aton. As imagens mostram a rainha fazendo oferendas a Aton, um papel normalmente reservado ao faraó.


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Os estudiosos acreditam que Akhenaton instituiu a adoração Atom durante o terceiro ano de seu reinado, quando construiu três templos dedicados ao seu deus em Karnak, Tebas. Isso foi considerado uma afronta, pois Tebas venerava Amon-Rá desde muito tempo. Os faraós que sucederam Akhenaton destruíram os templos edificados por ele e reutilizaram os blocos em outras construções. Os arqueólogos conseguiram reunir alguns dos afrescos {pinturas em parede} desses templos destruídos e conseguiram provar o papel de Nefertiti no governo de seu esposo, pois tais afrescos a mostram realizando rituais com e sem a presença de Akhenaton. Algumas de suas filhas, sobretudo a primogênita, também foram identificadas em tais afrescos. Tais achados demonstram que a rainha e filhas estavam realizando atividades religiosas que eram consideradas exclusivamente masculinas.

https://www.ancient-egypt-online.com/nefertiti.html

A abolição dos deuses antigos não quebrou o poder dos sacerdotes amonitas e esta revolução durou pouco. Akhenaton governou por apenas 17 anos e, depois de sua saída misteriosa do trono, seu nome foi apagado dos registros e proibido de ser pronunciado. As referências a ele eram: Grande Herege, Faraó Herético e Faraó Rebelde.


Akhenaton foi substituído por seu Filho Tut-Ankh-Aton, logo obrigado a rejeitar Aton e a mudar seu nome para Tut-Ankh-Amon, tendo que voltar para Tebas. Seu reinado foi curto, ele morreu jovem e sem deixar descendentes. Sem um herdeiro na linha sucessória, a anarquia se instalou no Egito durante esse período e causou a queda da 18ª dinastia. Não precisa ser muito perspicaz para saber quais foram os grupos que saíram vencedores na batalha que se instalou para preencher o vazio deixado por Tutankhamon: O exército e o clero tebano, ambos sob a bandeira do deus Amon.

https://en.wikipedia.org/wiki/Ay
https://www.britannica.com/biography/Horemheb
https://www.britannica.com/biography/Ay-king-of-Egypt

Comunidade Teúrgica Portuguesa. Worldpress

Hoje se comprova que o monoteísmo de Alkenaton não surgiu com ele nem foi uma questão de fé. Ele não se “converteu” ao atonismo. Ele só decretou uma guerra a Amon, como forma de se defender dos ataques dos sacerdotes amonitas. Akhenaton foi vítima da perseguição dos sacerdotes amonitas, como seu avô antes dele, ambos empreenderam essa luta para se livrarem da tutela do clero e dos generais, unidos contra o faraó em nome de Amon.


Após a expulsão dos hicsos da região do delta do Nilo, os sacerdotes amonitas ganharam muito poder, sobretudo porque estavam aliados aos comandantes do exército egípcio. Essa associação foi forte o suficiente para ditarem as regras do jogo político e {por que não?} até mesmo para determinarem quem deveria assumir o trono, o que de fato aconteceu com o general Horemheb, que sucedeu Ay após a morte prematura de Tutankhamon, que ascendeu ao trono aos oito ou nove anos de idade e reinou menos de dez anos, numa época de grande tensão. O jovem faraó foi auxiliado em seus deveres reais pelos dois conselheiros mais próximos de seu pai, Akhenaton. Ay, o grão-vizir, depois Horemheb, o general dos exércitos. Ay, por ter idade avançada, governou o Egito por apenas quatro anos, tempo suficiente para retomar os antigos costumes religiosos e assim restabelecer o poder do clero amonita. Após sua morte foi substituído pelo General Horemheb. Uma vez no trono este se empenhou em eliminar todas as referências a Aton, assim como apagar os registros históricos dos faraós que o antecederam.


Para Charles Chandler, foi Horemheb quem baniu o Atenismo. Sob seu regime, ocorreu uma fuga por motivos religiosos. Eram os seguidores de Atom fugindo do Egito. Essa fuga pode ter sido a origem da narrativa recontada no Seder {jantar cerimonial judaico em que se recorda a história do Êxodo e a libertação do povo de Israel}. Na fuga, os seguidores de Atom estavam sob o comando de oficiais de alta patente de Amarna, sendo os principais candidatos o Príncipe Tuthmosis, irmão de Akhenaton, e o Vizir Ramose. Na hipótese de Chandler esses dois personagens passaram para a história como sendo os irmãos Aarão e Moisés.


TUTHMOSIS - O SACERDOTE - FOI AARÃO


Chandler diz que não há registro da morte de Tuthmosis, único irmão mais velho de Akhenaton, o que é estranho porque tal registro teria legitimado sua sucessão. Segundo os costumes, deveria ter havido uma procissão fúnebre elaborada e o evento deveria ter sido bem anotado em registros públicos (como nas colunas em Karnak). O fato de que tal registro não foi feito abre a possibilidade de que ele não tenha morrido realmente, e de que todos sabiam disso, o que só poderia significar que ele preferiu ocupar o posto de de sumo sacerdote de Memphis, transferindo seu direito ao trono para seu irmão mais novo, Akhenaton.


Se Thutmosis foi Aarão, irmão de Moisés, isto faria todo o sentido quando as Escrituras relatam que ele teria sido instado a falar nos encontros com o faraó, que no caso poderiam ser Tutankhamon ou Horemheb. Os descendentes de Aarão/Thutmosis teriam sido sacerdotes hereditários, da linhagem COHEN (ou seja, kohanim). Como príncipe que era, Thutmosis/Aarão teria sido chamado de "sua alteza", sendo esta uma explicação para o significado do seu nome "altivo", "exaltado". Sendo sumo sacerdote em Memphis, ele começou seu ministério antes de Moisés. Na Torá, Aarão é chamado de profeta, mas pouco diz sobre seu ponto de vista religioso, que conflitava com os de seu irmão Moisés. Enquanto Moisés recebia os Dez Mandamentos, Aarão fez um bezerro de ouro, símbolo da Grande Mãe, para o povo a adorar. Fica claro que o posicionamento religioso dos dois irmãos era antagônico.


Resumindo, o conflito entre os irmãos Aarão e Moisés pode ser assim resumido: Aarão seguia o culto cujos símbolos estavam relacionados com o feminino {o bezerro}, já Moisés era seguidor do culto cujo símbolo era o carneiro, o deus guerreiro, masculino por excelência, conquistador, vingativo, ciumento e zeloso do poder que possuía.

Charles Chandler
Akhenaten, Moses, & Atenism
http://qdl.scs-inc.us/2ndParty/Pages/5678.html


RAMOSE - O GENERAL - FOI MOISÉS?


Ramose - Vizier of Amenhotep III and Akhenaten 1390 -1358 BC.

Sabemos que Ramose era filho de Nebi, o prefeito de Memphis. Ramose foi prefeito de Tebas e vizir do Alto Egito durante a última parte do reinado de Amenhotep III e no início do reinado de Akhenaton. Ele serviu durante os anos antes da "heresia" de Amarna, mas testemunhou o início da nova religião. Ele morreu antes da construção da nova capital de Akhetaton e foi sepultado em Tebas, cuja tumba inacabada (TT55) está entre as melhores do Vale dos Reis.


Há ainda o general Ramose, que era o comandante-em-chefe do exército egípcio sob Akhenaton, e cujo túmulo foi encontrado em Amarna. Alguns estudiosos acreditam que o general e o vizir eram a mesma pessoa, mas ainda não há confirmação. O que se sabe é que o súbito desaparecimento do vizir Ramose e a chegada de um comandante-em-chefe com o mesmo nome em Amarna, sem menção prévia em nenhum registro, pode ser explicado como sendo a mesma pessoa, que mudou de papel. Seria certamente estranho se alguém em Tebas, que encomendou um túmulo para ser feito no estilo que mais tarde dominaria a obra de arte em Amarna, não tivesse seguido Akhenaton para lá. Na verdade, isso sustenta a hipótese de que Ramose, vizir e general, foi o primeiro e mais ardente defensor das mudanças religiosas e culturais que foram marcantes durante o período Amarna, e talvez tenha sido uma das forças motrizes por trás da revolução religiosa desencadeada por Akhenaton.


Se Thutmoses foi Aarão e Ramose foi Moisés, pode-se deduzir que Ramose ("filho de Ra") teria mudado seu nome, já que "Ra" era o nome pagão do deus Sol. A mudança mais conservadora teria sido simplesmente abandonar o "Ra", deixando "Mose", em hebraico "Moshe", que em grego se torna "Moisés".

Charles Chandler
Akhenaten, Moses, & Atenism
http://qdl.scs-inc.us/2ndParty/Pages/5678.html

Diferentemente de Chandler, Sigmund Freud acreditava que Thutmosis, irmão de Akhenaton, poderia ter sido a pessoa que passou para a história como Moisés.


Defendendo opinião diversa dos autores acima, Ahmed Osman acredita que Osarseph, Moisés e Akhenaton são nomes diferentes para a mesma pessoa. Segundo este autor, Akhenaton não morreu ao sair do poder no ano 17 de seu reinado, mas que ele fugiu para o Sinai acompanhado de seus seguidores, os adoradores de Aton, dando início ao que veio a se chamar Êxodo, conduzido por Osarseph/Moisés/Akhenaton, uma única pessoa.


Estes três personagens se vinculam entre si, podendo ser nomes diferentes para a mesma pessoa. Tal hipótese se apoia nos seguintes dados:

a) O nome da rainha egípcia que se tornou mulher de Moisés, Adonith (Aton-it);

b) Moisés permaneceu na memória egípcia com o nome de Osarseph, sacerdote de Heliópolis, do Templo de Om, que o liga a José do Egito, identificado como Yuya, o avô materno de Akhenaton.

c) O período de escravidão durou até que Osarseph/Moisés, promovesse a libertação dos israelitas conduzindo-os para o Sinai.


Há um grande debate sobre o Êxodo no mundo acadêmico. Para quem quiser se aprofundar no tema é possível fazê-lo a partir do blog de Airton José da Silva, professor de Teologia que faz uma análise das inúmeras correntes e autores.


Wikimedia Commons

Ainda segundo Ahmed Osman, Akhenaton nasceu no palácio real de verão, na terra de Gosén, onde os israelitas habitavam. Ao contrário do relato bíblico, Moisés nasceu dentro do palácio real. Era filho de Amenofis III e da rainha Tiye, filha de José do Egito/Yuya. O irmão mais velho e primogênito do casal desapareceu misteriosamente. Temendo pela segurança de seu segundo filho {Akhenaton} Tiye o mandou para a casa da família israelita de seu pai, José do Egito/Yuya, sendo esta a possível origem do relato bíblico para justificar a ascendência israelita de Moisés/Akhenaton, criado como príncipe egípcio.


Quando completou dezesseis anos Akhenaton/Moisés visitou a capital do Egito, Tebas e lá se encontrou com Nefertiti, provavelmente sua meia-irmã, filha de Sitamun {a esposa egípcia não escolhida para rainha e esposa principal} e de seu pai Amenofis III. Tiye {a estrangeira} encorajou o casamento de seu filho Akhenaton com Nefertiti, estratégia que permitiu que Akhenaton cumprisse as regras estabelecidas para obter oficialmente o direito de sucessão ao trono. Ocorre que o clero e o exército se opuseram a essa nomeação e desafiaram abertamente a decisão do faraó Amenofis III.


A resposta desafiadora de Akhenaton/Moisés ao clero amonita foi construir três templos para Aton. Um templo foi construído na extremidade traseira do complexo de Karnak, o outro em Luxor e o terceiro em Memphis. E afrontou ainda mais ao não convidar os sacerdotes de Amon para as festividades de inauguração. Para o ressentido clero egípcio, Akhenaton além de bastardo era um desafiante. No clima tenso que prevaleceu, Tiye apoiou o projeto do filho de deixar Tebas e edificar uma nova capital em Amarna, no Médio Egito, e lá estabelecer uma nova religião, baseada em um único deus, Aton.


Apesar de instalado em Amarna, as escaramuças com Tebas não cessaram, ao contrário. Akhenaton ordenou que suas tropas marchassem sobre Tebas e fechassem todos os templos, confiscassem suas propriedades e demitissem os sacerdotes, deixando apenas os templos de Aton. Essa atitude só pode ter criado uma crescente oposição à sua autoridade já rejeitada. A guarnição militar em Amarna possuía destacamentos de beduínos do Sinai e auxiliares estrangeiros, além de unidades egípcias. A lealdade do exército a Akhenaton foi assegurada pela pessoa de seu comandante Ay, tio de Akhenaton e irmão de Tiye, sua mãe. Ay ocupava os postos mais altos da infantaria e das carruagens, herdados de Yuya/José do Egito, pai de Ay e avô de Akhenaton.


A perseguição aos antigos deuses, no entanto, provocou uma reação de ódio na maioria dos egípcios, incluindo os membros do exército. A perseguição provocou reação contrária sobre os soldados uma vez que, eles próprios, tinham sido criados nas velhas crenças cujas imagens dos deuses tinham que destruir. Isso só fez acirrar o conflito.

Para Osman, os generais do exército de Akhenaton - Horemheb, Pa-Ramses e Seti - planejaram um golpe militar contra Akhenaton e ordenaram que as tropas do norte e do sul se movessem em direção a Amarna. Quando a parte insurgente do exército e as carruagens de guerra chegaram nas fronteiras de Amarna, Ay, seu tio, aconselhou Akhenaton a abdicar do trono em favor do seu filho Tutankhaten. Sabendo que não poderia fazer frente ao ataque, Akhenaton abandonou Amarna acompanhado de seus seguidores e se exilou em Serabit El-Khadem, sul do Sinai, vivendo entre os beduínos Shasus com quem formou uma aliança. Nesse ínterim, o trono do Egito foi ocupado por seu tio Ay e depois da morte deste por Horemheb. Quando soube da morte de Horemheb, Akhenaton decidiu deixar seu exílio e voltar para o Egito, a fim de recuperar seu trono.


{Serabit el-Khadim é uma localidade na península sudoeste do Sinai. Em seu livro Uma História do Sinai, Lina Eckenstein teorizou que este local é o histórico Monte Sinai, onde Moisés recebeu as Tábuas da Lei. Nesta localidade havia um templo dedicado a Hathor, cujo símbolo era a Vaca, razão pela qual o bezerro de ouro foi construído e aclamado pelos hebreus, enquanto Moisés se encontrava no topo da montanha, fato que provocou sua ira.}


Continuando, diz Osman, vestido de beduíno, Akhenaton/Moisés chegou à residência do general Pa-Ramsés. Akhenaton o desafiou. O general, tomado de surpresa, decidiu convocar uma reunião dos sábios do Egito. Na reunião, Akhenaton empunhou seu cetro real, que ele havia levado consigo para o exílio e, diante do rei deposto, os sábios se ajoelharam e declararam ser ele o legítimo faraó do Egito. O general Pa-Ramsés, que estava no controle do exército, se recusou a aceitar o veredicto dos sábios. Houve luta, mas Akhenaton/Moisés saiu ileso, porém, o general consumou o golpe e assumiu o trono como Ramsés I.


Apesar de estar com sua vida ameaçada, Akhenaton não aceitou a derrota e decidiu continuar desafiando o faraó Ramsés I. Então, reuniu seus aliados e cruzou as fronteiras do Egito até Canaã, onde estabeleceu um governo paralelo naquelas terras estrangeiras que faziam parte do império egípcio, a fim de preparar um grande exército de aliados que lhe permitisse voltar e recuperar o trono do Egito. Quando Ramsés I ficou ciente do plano de Akhenaton, decidiu sair à frente de seu exército e esmagar os insurgentes antes que eles cruzassem as fronteiras para Canaã. Nesse ínterim, o general-faraó Ramsés I morreu e foi substituído no trono por seu filho, também general, que subiria ao trono do Egito como Seti I.


Enquanto o corpo de seu pai era mumificado, o general Seti, agora faraó Seti I, pai do futuro faraó Ramsés II, saiu para perseguir Akhenaton e seus seguidores no norte do Sinai. Um confronto militar ocorreu. Seti I combateu Akhenaton em uma batalha corpo-a-corpo e foi capaz de danificar seu olho. Este confronto resultou na morte de Akhenaton. É provável que essa história real tenha passado para a mitologia do Egito como a luta entre Hórus e Seth, sendo Hórus o filho de Osíris e Ísis, e Seth, irmão de Osíris e seu tio. No mito, Hórus perdeu o olho esquerdo. Embora o mito diga que Hórus venceu a batalha, foi Seth quem matou Hórus. No confronto entre os faraós, Seti I matou Akhenaton. O relato histórico é sempre contado pelo vencedor, mas nesse caso, o lado perdedor também conseguiu construir um mito muito poderoso, que passou para a história sobrevivendo até hoje. A concepção de deus único defendida e propagada por Akhenaton/Moisés permaneceu na memória dos seus seguidores e um dia foi registrada em grandes rolos chamados Torá, diz Osman.


Ahmed Osman. Moisés e Akhenaton: A história secreta do Egito no tempo do Êxodo, Ed. Madras.




Como se vê, esta questão está longe de ser resolvida. Contudo, é inegável a sobreposição existente entre estes importantes personagens do monoteísmo judaico e do monoteísmo egípcio, a ponto de levantar a hipótese de que eles sejam a mesma pessoa, deve ser considerado. A sobreposição desses personagens, no entanto, permite que se compare a coerência dos atos praticados por ambos, a fim de comparar o monoteísmo praticado por um e outro.


Como foi a postura de ambos em relação à mulher, à Grande Mãe e aos seus símbolos?


Este será o próximo assunto.







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