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História da Árvore de Natal - Ou de como o judaísmo perseguiu a Grande Mãe, as árvore e as mulheres.

Atualizado: 16 de nov. de 2023



Natal sem árvore enfeitada e panetone não é Natal! Além deles, os católicos costumam colocar na sala um pequeno presépio, muitas vezes reduzido ao Menino Deus em sua manjedoura. Porém, com a diminuição do número de católicos e o aumento do número de pessoas agnósticas, aqui e no mundo todo, a adoção do presépio na época natalina está cada vez mais em desuso, embora isso não tenha afetado o uso dos outros dois símbolos natalinos. Vale então fazer a pergunta: De onde vieram estes símbolos?


Embora sua origem seja muito mais antiga, o costume de enfeitar uma Árvore na época do Natal, tal qual conhecemos nos dias atuais, foi popularizado por uma rainha que quis agradar ao seu consorte e depois o mimo virou moda.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Christmas_Tree_-_Godey%27s_Lady%27s_Book,_December_1850.jpg

A Rainha Vitória e o Príncipe Albert foram protagonistas de um evento que viria a se tornar uma tradição nos festejos natalinos. Este evento foi devidamente registrado em uma gravura de 1840, que mostra os dois monarcas cercados pelos filhos em torno de uma Árvore de Natal. Na verdade, não fosse pela rainha Vitória, da Inglaterra, a monarca mais poderosa de seu tempo, as árvores decoradas teriam permanecido um costume obscuro, praticado nos países germânicos e eslavos, resquícios de costumes muito mais antigos retratados nas Escrituras.


O príncipe Albert era alemão e a rainha quis agradá-lo com uma tradição de seu país. Muito antes do surgimento do cristianismo, as pessoas no hemisfério norte usavam plantas vivas para decorar suas casas, principalmente as portas, para celebrar o Solstício de Inverno.


Imigrantes alemães já haviam trazido o costume das árvores de Natal para a Grã-Bretanha no início de 1800, mas a prática não pegou com os habitantes locais. Mas depois que a rainha Vitória começou a celebrar o Natal com um pinheiro enfeitado, os britânicos imediatamente reproduziram o gesto e a moda pegou.


Os ingleses vindos para a América do Norte eram menos susceptíveis à influência real, no entanto, foram eles que utilizaram o exemplo da rainha para criar a imagem de uma família feliz, de classe média, trocando presentes ao redor de uma árvore enfeitada. Embora nem todos os cristãos adornem suas casas com uma árvore, a influência exercida por nossa sociedade consumista transformaram a árvore de Natal em um símbolo usado na maioria dos lares, mesmo que seus usuários não saibam a origem desse costume milenar.


Só nos EUA, 35 milhões de Árvores de Natal são vendidas anualmente, juntamente com 10 milhões de árvores artificiais, que são piores do ponto de vista ambiental. Anualmente, 300 milhões de árvores de Natal são cultivadas em fazendas ao redor do mundo para sustentar uma indústria de dois bilhões de dólares.

https://www.zmescience.com/science/history-science/origin-christmas-tree-pagan/


A Árvore de Natal é uma sobrevivente!


O Antigo Testamento é um documento repleto de referências à árvore, não a de Natal, mas às árvores reverenciadas como símbolos da Deusa Mãe e da Grande Mãe Natureza. As árvores eram cultuadas como dignas representantes da Deusa, contudo, quando o deus único começou sua trajetória exclusivista, começou também o ataque misógino aos símbolos femininos, sobretudo às árvores.


Nas Escrituras as árvores foram consideradas “ídolos” que deveriam ser exterminados. Antes das escritas cuneiformes e hieroglíficas terem sido decifradas, era quase impossível entender o que exatamente queriam dizer as inúmeras referências bíblicas cheias de ódio e rancor para "árvores verdes", "postes sagrados" e "colunas sagradas",

em que os profetas bíblicos exortavam os israelitas para destruí-los a fim de que apenas um Deus fosse adorado. Todos aqueles que não o aceitassem nem o adorassem eram chamados de “pagãos”.


A palavra “paganus” tem duplo sentido, significa “camponês” e “rústico” e é derivada de “pagus”, que significa “aldeia”, portanto “paganus” é simplesmente o “aldeão”. No latim clássico a palavra pagão era utilizada para denominar um civil, alguém que não era um soldado nas legiões romanas. Em torno do século IV, o termo paganus começou a ser utilizado entre os cristãos no Império Romano, para se referirem a uma pessoa que não era cristã, que ainda acreditava nos antigos deuses.


O historiador Peter Brown observa: A adoção da palavra latina paganus pelos cristãos como um termo pejorativo abrangente para politeístas, representa uma vitória imprevista e de longa duração de um grupo religioso, que adotou o uso de uma gíria do latim originalmente desprovida de significado religioso.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paganismo


O paganismo se fundamenta no coletivo. Os pagãos, ou seja, os aldeões ou camponeses, reverenciavam o clã e a aldeia, os anciões e as crianças, os homens e as mulheres. Repartiam o trabalho e as responsabilidades, todos eram importantes e todos cuidavam de todos. Não havia viúvas e crianças abandonadas, todos eram responsáveis por elas. Não havia velhos e mendigos abandonados, todos pertenciam ao coletivo e este cuidava de todos. Os pagãos reverenciavam também tudo o que estivesse relacionado com a Mãe Natureza: Árvores, frutos, rios, água, rebanho, sangue, Sol, Lua... tudo era sagrado.


No entanto, depois do aparecimento do Deus Único e do individualismo que veio de quebra, o coletivo foi passado para o segundo plano e cedeu lugar à primazia do indivíduo, do proprietário, do dono e do poder do mais forte. O velho, o fraco, a criança e a mulher deixaram de ser importantes como SERES HUMANOS, reduzidos à mera propriedade do Pai. A aldeia cedeu seu lugar para a “FAMÍLIA”, a nova “célula da sociedade”, e dentro dela uma figura ainda mais importante, o PATER FAMILIAS, aquele que detinha o PATRIO PODER.


Para galgar esta posição, o homem, feito à imagem e semelhança do Deus Único, conquistou seu lugar com base na destruição dos símbolos femininos, ou apossando-se deles quando não podia destruí-los. Foi exatamente isso aconteceu com as milenares tradições de reverenciar as árvores, postes e colunas sagradas, feitos de troncos de árvores ou modelados em argila, símbolos que representavam a Grande Mãe.


Poste ou Coluna Asherah. Pinterest

A Grande Mãe era adorada nos bosques e nas florestas, cada árvore simbolizava a Mãe Natureza, a seiva de cada árvore representava as águas do útero da Grande Mãe: mares, rios e cachoeiras eram sagrados.


Um dos títulos da deusa cananeia Asherah era Elat. Esta palavra significa “deusa”, o feminino de El, que significa deus. Curiosamente, a palavra Elat foi traduzida na Bíblia como “terebinto”, uma grande árvore de sombra encontrada em Israel. A razão disso é que, com o apagamento dos símbolos femininos, Elat foi traduzido como “bosques” ou “árvores”, sem entender que árvores e bosques representavam a Deusa Mãe.

https://thequeenofheaven.wordpress.com/2010/10/27/asherah-part-i-the-lost-bride-of-yahweh/


Na sua louca competição pela supremacia, o Deus Único foi usado pelos fanáticos monoteístas para promover todo tipo de barbárie, destruição e até morte, cujos relatos estão no Antigo Testamento. Mas a lembrança dos símbolos da Deusa Mãe permaneceram até os dias atuais, mesmo que seu significado tenha sido esquecido, reaparecendo apenas recentemente.



A Bíblia diz que os santuários e templos no topo das colinas foram construídos para Asherah, a Deusa Mãe reverenciada em Canaã. As pessoas realizavam rituais de servir vinho e fazer bolos em sua homenagem.


Molde para metal. Pinterest


Ao estudar o Antigo Testamento tomamos conhecimento que toda árvore representava a Deusa Mãe, cada árvore significava uma Asherah, nome da deusa mais popular em Canaã. Mas na impossibilidade de carregar uma árvore como amuleto de proteção, as miniaturas em argila ou metal foram popularizadas, como demonstram os moldes de fundição encontrados na antiga Israel e hoje fazem parte do acervo do Museu de Israel, em Jerusalém.


Não suportando tal atitude por parte dos “pagãos”, os monoteístas fundamentalistas passaram a quebrar, queimar e destruir todo objeto de culto a que eles chamavam de “ídolos”. E assim o fizeram porque foram orientados a fazê-lo. O Velho Testamento está repleto de testemunhos das barbáries cometidas em nome do Deus Único. Pela quantidade de profetas empenhados em estimular tais violências pode-se constatar que não foi uma questão isolada, mas uma norma a ser seguida, como veremos:



Deuteronômio é uma palavra grega que significa “segunda lei”, é o último dos cinco livros do Pentateuco. Nele encontramos um conjunto de ordens, verdadeiras leis a serem seguidas. Hoje poderíamos dizer que são assustadoras e profundamente semelhantes às práticas do terrorismo talibã.

Não farás para ti imagem de escultura. Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. [Dt 5: 8, 9] {Uma das 10 leis dada à Moisés}


Assim vocês tratarão essas nações: derrubem os seus altares, quebrem as suas colunas sagradas, cortem os seus postes sagrados e queimem os seus ídolos. [Dt 7:5] {grifo nosso}


Derrubem os seus altares, esmigalhem as suas colunas sagradas e queimem os seus postes sagrados; despedacem os ídolos dos seus deuses e eliminem os nomes deles daqueles lugares. [Dt 12:3]


Vocês viram nelas as suas imagens e os seus ídolos detestáveis, feitos de madeira, de pedra, de prata e de ouro. [Dt 29:17]


Eles o deixaram com ciúmes por causa dos deuses estrangeiros, e o provocaram com os seus ídolos abomináveis. [Dt32:16]


Provocaram-me os ciúmes com aquilo que nem deus é e irritaram-me com seus ídolos inúteis. Farei que tenham ciúmes de quem não é meu povo; eu os provocarei à ira por meio de uma nação insensata. [Dt 32:21] {grifo nosso}


Uma "nação insensata" existiu no passado bíblico tanto quanto existe ainda nos dias atuais. Qual é a diferença?



O vandalismo religioso não tem limites e é sempre chocante. O Templo de Baal foi destruído da mesma forma que as Estátuas de Buda no Afeganistão. Em março de 2001, por ordem do governo fundamentalista Talibã, foram destruídas as gigantescas estátuas dos Budas de Bamiã, sendo que a maior tinha 53 metros de altura e, das estátuas de Buda, era a mais alto do mundo. As estátuas de Bamiã haviam sido escavadas em nichos na rocha, por volta do século V.


Depois todo o povo foi ao templo de Baal e o derrubou. Despedaçaram os altares e os ídolos e mataram Matã, sacerdote de Baal, em frente dos altares. Ergueram colunas sagradas e postes sagrados em todo monte alto e debaixo de toda árvore frondosa. Pres­taram culto a ídolos, embora o Senhor houvesse dito: "Não façam isso". Abandonaram todos os mandamentos do Senhor, o seu Deus, e fizeram para si dois ídolos de metal na forma de bezerros e um poste sagrado de Asherah. Inclinaram-se diante de todos os exércitos celestiais e prestaram culto a Baal. Mesmo quando esses povos adoravam o Senhor, também prestavam culto aos seus ídolos. Até hoje seus filhos e seus netos continuam a fazer o que os seus antepassados faziam. 2 Reis 11:18 [17:10, 12. 16 e 41] Essa mesma narrativa encontra-se em 2 Crônicas 23:17 e 24:18 {grifo nosso}


O vandalismo no Antigo Testamento foi devastador e de fazer inveja ao Talibã já que este se restringiu ao Afeganistão e aquele se propagou pela civilização ocidental.

Assim que ouviu as palavras e a profecia do profeta Azarias, filho de Odede, o rei Asa encheu-se de coragem. Retirou os ídolos repugnantes de toda a terra de Judá e de Benjamim e das cidades que havia conquistado nos montes de Efraim, e restaurou o altar do Senhor que estava em frente do pórtico do templo do Senhor. 2 Crônicas 15:8 {grifo nosso}


Josias despedaçou as colunas sagradas, derrubou os postes sagrados e cobriu os locais com ossos humanos. Além disso, Josias eliminou os médiuns, os que consultavam espíritos, os ídolos da família, os outros ídolos e todas as outras coisas repugnantes que havia em Judá e em Jerusalém. Ele fez isso para cumprir as exigências da Lei escritas no livro que o sacerdote Hilquias havia descoberto no templo do Senhor. 2 Reis 23:14, 24 {grifo nosso}


Retirou os altares dos deuses estrangeiros e os altares idólatras que havia nos mon­tes, despedaçou as colunas sagradas e derrubou os postes sagrados. 2 Crônicas 14:3


Quando Josafá, rei de Judá, voltou em segurança ao seu palácio em Jerusalém, o vidente Jeú, filho de Hanani, saiu ao seu encontro e lhe disse: "Será que você devia ajudar os ímpios e amar aqueles que odeiam o Senhor? Por causa disso, a ira do Senhor está sobre você. Contudo, existe em você algo de bom, pois você livrou a terra dos postes sagrados e buscou a Deus de todo o seu coração". 2 Crônicas 19: 1- 3 {grifo nosso}


Escultura do profeta Oseias, por Aleijadinho, em Congonhas, Minas Gerais, entre 1794-1804. Wikipédia

Oséias, um dos Doze Profetas Menores da Bíblia hebraica judaica, orienta o que seu povo deveria fazer em relação às nações politeístas. Não deixa de ser chocante!


Assim vocês tratarão essas nações: derrubem os seus altares, quebrem as suas colunas sagradas, cortem os seus postes sagrados e queimem os seus ídolos. [Oséias 7:5]

Derrubem os seus altares, esmigalhem as suas colunas sagradas e queimem os seus postes sagrados; despedacem os ídolos dos seus deuses e eliminem os nomes deles daqueles lugares. [Oséias 12:3]

Vocês viram nelas as suas imagens e os seus ídolos detestáveis, feitos de madeira, de pedra, de prata e de ouro. [Oséias 29:17]

Eles o deixaram com ciúmes por causa dos deuses estrangeiros, e o provocaram com os seus ídolos abomináveis. [Oséias 32:16]]


E são inúmeras as referências de violência e intolerância nas Escrituras:


O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. Naum 1:2


Não façam ídolos, nem imagens, nem colunas sagradas para vocês, e não colo­quem nenhuma pedra esculpida em sua terra para curvar-se diante dela. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês. Destruirei os seus alta­res idólatras, despedaçarei os seus altares de incenso e empilharei os seus cadáveres sobre os seus ídolos mortos, e rejeitarei vocês. Levítico 26:1 e 30


Assim, os israelitas se livraram dos baalins e dos postes sagrados e começaram a prestar culto somente ao Senhor. Eles clamaram ao Senhor, dizendo: 'Pecamos, abandonando o Senhor e prestando culto aos baalins e aos postes sagrados. Agora, porém, liberta-nos das mãos dos nossos inimigos, e nós prestaremos culto a ti'. 1 Samuel 7:4 e 12:10


Baalins é o termo usado nas Escrituras para se referir às divindades cultuadas pelos povos antigos, especialmente pelos Cananeus. A palavra “baalins” vem de Baal, deus cananeu, mas quando usada no plural se referia a todos os deuses, considerados falsos e “ídolos” pelos judeus.


[...] derrubou os altares e os postes sagrados, esmagou os ídolos, reduzindo-os a pó, e despe­daçou todos os altares de incenso espalhados por Israel. Então voltou para Jerusalém. Sob as suas ordens foram derrubados os altares dos baalins; além disso, ele despedaçou os altares de incenso que ficavam acima deles. Também des­pedaçou e reduziu a pó os pos­tes ­sagrados, as ima­gens esculpidas e os ídolos de metal, e os espalhou sobre os túmulos daqueles que lhes haviam oferecido sacrifícios. Porque me aban­donaram e queimaram incenso a outros deuses, provocando a minha ira por meio de todos os ídolos que as mãos deles têm feito, minha ira arderá contra este lugar e não será apagada'. Josias retirou todos os ídolos detestáveis de todo o território dos israelitas e obri­gou todos os que estavam em Israel a servirem ao Senhor, o seu Deus. E enquanto ele viveu, o povo não deixou de seguir o Senhor, o Deus dos seus antepassados. 2 Crônicas 34:4, 7, 25, 33 {grifos nossos}


Por causa de todos os seus ídolos detestáveis, farei com você ­o que nunca fiz nem jamais voltarei a fazer. Seus altares serão arrasados, seus altares de incenso serão esmigalhados, e abaterei o seu povo na frente dos seus ídolos. Porei os cadáveres dos israelitas em frente dos seus ídolos e espalharei os seus ossos ao redor dos seus altares. Onde quer que você viva, as cidades serão devastadas e os altares idólatras serão arrasados e devastados, seus ídolos serão esmigalhados e transformados em ruínas, seus altares de incenso serão derrubados e tudo o que vocês realizaram será apagado. Ali, nas nações para onde vocês tiverem sido levados cativos, aqueles que escaparem se lembrarão de mim; lembrarão como fui entristecido por seus corações adúlteros, que se desviaram de mim, e, por seus olhos, que cobiçaram os seus ídolos. Terão nojo de vocês mesmos por causa do mal que fizeram e por causa de todas as suas práticas repugnantes. E saberão que eu sou o Senhor, quando o seu povo estiver estirado, morto entre os seus ídolos, ao redor dos seus altares, em todo monte alto e em todo topo de mon­tanha, debaixo de toda árvore frondosa e de todo carvalho viçoso ­- em todos os lugares nos quais eles ofereciam incenso aromático a todos os seus ídolos. Ezequiel 5:9e 6:4, 5, 6, 9, 13


Há que se perguntar: Por que tanta ira? É certo "obrigar" pessoas a servirem uma determinada divindade? É justo "matar e espalhar os ossos dos inimigos"? Será que este verdadeiro terrorismo bíblico pode ter sido a milenar semente plantada, que hoje floresceu e frutificou, e que nós, por ignorância, atribuímos aos outros, aos quais chamamos de "terroristas" sem entender que tais "sementes de ódio" fizeram parte do nosso passado religioso? Será que o motivo de proibir a leitura da Bíblia durante muito tempo não terá sido exatamente porque a Igreja sabia das suas próprias contradições; sabia que as próprias Escrituras continham o germe da maldade e da intolerância, incompatíveis com a mensagem cristã?


Bem, se não temos respostas para estas perguntas, ao menos podemos buscar compreender o que eram estes "postes sagrados", essas "colunas sagradas" chamadas de "ídolos" e que tanto acendiam a ira dos monoteístas fundamentalistas que agiam em nome de Deus.


Se você pensou que tais denominações se referiam aos símbolos da Grande Mãe você está completamente certo.


Quando a festa acabou, os israelitas saíram pelas cidades de Judá e despedaçaram as pedras sagradas e derrubaram os postes sagrados. Eles des­truíram os altares idólatras em todo o Judá e Benjamim, e em Efra­im e Manassés. Depois de destruírem tudo, voltaram para suas cidades, cada um para a sua propriedade. 2 Crônicas 31:1 {g. nosso}


Pelo visto os "postes sagrados", árvores e florestas, dignos representantes do coletivo e da coletividade eram tidos como ameaça à propriedade privada desde aquele tempo.

{Em "E a Deusa Mãe virou Deus Pai" tratamos longamente desta questão}


A Grande Mãe era adorada nos bosques e nas florestas, cada árvore simbolizava a Mãe Natureza, a seiva de cada árvore representava as águas do útero da Grande Mãe: mares, rios e cachoeiras eram sagrados, assim como o sangue menstrual de cada mulher.


Apesar do vandalismo adotado por nossos antepassados, o terrorismo contra a Deusa e seus símbolos não foi sem luta e resistência, como mostra o relato de Raquel:


Raquel tinha colo­cado os ídolos dentro da sela do seu camelo e estava sentada em cima. Labão vasculhou toda a tenda, mas nada encontrou. Raquel disse ao pai: "Não se irrite, meu se­nhor, por não poder me levantar em sua pre­sença, pois estou com o fluxo das mulhe­res". Ele procurou os ídolos, mas não os encontrou. Gênesis 31:19, 34, 35 {grifo nosso}


Uma das formas de depreciar a Deusa Mãe era chamar todas as mulheres de prostitutas. Como xingamento esta palavra também era dirigida aos homens.


Expulsou do país os prostitutos cultuais e se desfez de todos os ídolos que seu pai havia feito. Andou nos caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, e no pecado que ele tinha levado Israel a cometer, e assim, com os seus ídolos inúteis, provocou a ira do Senhor, o Deus de Israel. Ele se comportou da maneira mais detestável possível, indo atrás de ídolos, como faziam os amorreus, que o Senhor tinha expulsado de diante de Israel. Reis 15:12 [16:26] e [21:26]


É importante perceber que o termo “prostituição” é usado no sentido figurado, sendo mais um xingamento do que uma referência literal à sua prática.


Você apanhou as jóias finas que eu tinha dado a você, joias feitas com meu ouro e minha prata, e fez para você mesma ídolos em forma humana e se prostituiu com eles. "E você ainda pegou seus filhos e filhas, que havia gerado para mim, e os sacrificou como comida para os ídolos. A sua prostituição não foi suficiente? Assim diz o Soberano, o ­Senhor: Por você ter desperdiçado a sua riqueza e ter exposto a sua nudez em promiscuidade com os seus amantes, por causa de todos os seus ídolos detestáveis [...] "Mas eles se rebelaram contra mim e não quiseram ouvir-me; não se desfizeram das imagens repugnantes em que haviam posto os seus olhos nem abandonaram os ídolos do Egito. Por isso eu disse que derramaria a minha ira sobre eles e que lançaria a minha indignação contra eles no Egito. Eu disse aos filhos deles no deserto: Não sigam as normas dos seus pais nem obedeçam às leis deles nem se contaminem com os seus ídolos. Ezequiel [7:20], [8:10], [11:18, 21], [14:4, 6, 7], [16:17, 20, 36], [20:8, 18]


pois elas cometeram adultério e há sangue em suas mãos. Cometeram adultério com seus ídolos. Ezequiel 23:37


Tudo o que se relaciona à mulher foi deturpado, depreciado e demonizado pelo Antigo Testamento. Acusadas de "imoralidade sexual" elas foram apedrejadas até a morte. Essa misoginia foi estendida aos bolos e pães que elas ofereciam à Deusa Mãe.


[...] devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue. Atos dos Apóstolos 15:20 {grifo nosso]


Que comida "contaminada pelos ídolos" era essa?


No tempo das Escrituras havia o costume de preparar bolos e pães com frutas secas da região do Oriente médio. Estes bolos de tâmaras, passas, nozes e avelãs, muitas vezes temperados com um pouco de vinho, eram oferecidos pelas mulheres em rituais para a Deusa Mãe.


Há inúmeras passagens bíblicas que relatam as ofertas de bolos para a Deusa Mãe. Geralmente tais rituais eram realizados nos bosques, nas florestas, ou ao lado de uma Grande Árvore.


Após oferecer os holocaustos e os sacrifícios de comunhão, Davi abençoou o povo em nome do Senhor e deu um pão, um bolo de tâmaras e um bolo de uvas passas a cada homem e a cada mulher israelita. 1 Crônicas 16: 2,3


Imediatamente, Abigail pegou duzentos pães, duas vasilhas de couro cheias de vinho, cinco ovelhas preparadas, cinco medidas de grãos torrados, cem bolos de uvas passas e duzentos bolos de figos prensados, e os carregou em jumentos. 1 Samuel 25:18


Mal Davi tinha passado pelo alto do monte, lá estava à sua espera Ziba, criado de Mefibosete. Ele trazia dois jumentos carregando duzentos pães, cem bolos de uvas passas, cem frutas da estação e uma vasilha de couro cheia de vinho. 2 Samuel 16:1


Os habitantes das tribos vizinhas e também de lugares distantes como Issacar, Zebulom e Naftali, trouxeram-lhes muitas provisões em jumentos, camelos, mulas e bois. Havia grande fartura de suprimentos: farinha, bolos de figo, bolos de uvas passas, vinho, azeite, bois e ovelhas, pois havia grande alegria em Israel. 1 Crônicas 12:40 {todos os grifos são nossos}


Entretanto, o costume que era habitual no tempo do rei Davi, passou a ser um ato abominado, demonizado e proibido pelos monoteístas fundamentalistas que não conseguiam acabar, destruir, destroçar as imagens que simbolizavam a Deusa Mãe, nem os rituais a ela oferecidos.

Os filhos ajuntam a lenha, os pais acendem o fogo, e as mulheres preparam a massa e fazem bolos para a Rainha dos Céus. Além disso, derramam ofertas a outros deuses para provoca­rem a minha ira. Jeremias 7:18


um pedaço de bolo de figos prensados e dois bolos de uvas passas. Ele comeu e recobrou as forças, pois tinha ficado três dias e três noites sem comer e sem beber. 1 Samuel 30:12


E as mulheres acrescentaram: "Quando queimávamos incenso à Rainha dos Céus e derramávamos ofertas de bebidas para ela, será que era sem o consentimento de nossos maridos que fazíamos bolos na forma da imagem dela e derramávamos as ofertas de bebidas?" Jeremias 44:19

O nosso panetone nada mais é do que um pálido resquício de milenares costumes, em que as mulheres do Oriente Médio faziam ofertas para reverenciar a Deusa Mãe.



Juntos, a Árvore de Natal e o Panetone são símbolos milenares da Grande Mãe. O Princípio Feminino representa o coletivo, que acolhe, ao contrário do individualismo inaugurado pelo Deus Único que exclui. A Grande Mãe é generosa, pois como as árvores ela abriga, dá sombra e alimenta. O Deus Único é excludente.


Pensando bem, é provável que Jesus esteja mais perto dos símbolos da Grande Mãe do que do terrorismo fundamentalista do Antigo Testamento que fala e age em nome de Deus. Reverenciar outros deuses e, sobretudo, a Deusa Mãe provocava sempre muita ira nos profetas do Deus Único:


Por­que me abandonaram e queimaram incenso a outros deuses, provocando a minha ira por meio de todos os ídolos que as mãos deles têm feito, a chama da minha ira arderá contra este lugar e não será apagada'. 2 Reis 22:17 {grifo nosso]

E o Senhor ferirá Israel, de maneira que ficará como junco balançando na água. Ele desarraigará Israel desta boa terra que deu aos seus antepassados e os espalhará para além do Eufrates, pois provocaram a ira do Senhor com os postes sagrados que fizeram. Também construíram para si altares idólatras, colunas sagradas e postes sagrados sobre todos os montes e debaixo de todas as árvores frondosas. 1 Reis 14: 9, 15 e23

Não sigam outros deuses para prestar-lhes culto e adorá-los; não provoquem a minha ira com ídolos feitos por vocês. E eu não trarei desgraça sobre vocês'. Mas vocês não me deram ouvidos e me provocaram à ira com os ídolos que fize­ram, trazendo desgraça sobre vocês mesmos', decla­ra o Senhor. Profanaram o templo que leva o meu nome, colocando nele as imagens de seus ídolos. Uma espada contra as suas águas! Elas secarão. Porque é uma terra de imagens esculpidas, e eles enlouquecem por causa de seus ídolos horríveis. Jeremias 25:6, 7 – 32:34 – 50: 38


Para agir com justiça é preciso dizer que no Antigo Testamento também há relatos de personagens que não eram favoráveis ao vandalismo praticado e tentavam de alguma forma minimizar os danos, como Acaz, filho de Davi, ou o filho de Ezequias, embora seus atos tivessem sido reprovados nas Escrituras.

Tinha Acaz vinte anos de idade, quando começou a reinar, e dezesseis anos reinou em Jerusalém; e não fez o que era reto aos olhos do SENHOR, como Davi, seu pai. Antes ele andou nos caminhos dos reis de Israel e fez ídolos de metal a fim de adorar os baalins. 2 Crônicas 28: 1, 2

Reconstruiu os altares idólatras que seu pai Ezequias havia demolido, ergueu altares para os baalins e fez postes sagrados. Inclinou-se diante de todos os exércitos celestes e lhes prestou culto. Ele fez o que o Senhor reprova; à seme­lhança de seu pai, Amom prestou culto e ofereceu sacrifícios a todos os ídolos que Manassés havia feito. 2 Crônicas 33:3, 22


e os ídolos desaparecerão por completo. Isaías 2:18


Não, os ídolos não desapareceram por completo. Pela resistência de muitos, e sobretudo das mulheres, a destruição não foi completa e o medo não se espalhou por toda a Terra. Felizmente eles não conseguiram destruir os “ídolos” do Egito, tal como foi pretendido, pois do contrário não poderíamos conhecer essa antiga e incrível civilização.


Assim diz o Soberano, o Senhor: "Destruirei os ídolos e darei fim às imagens que há em Mênfis. Não haverá mais príncipe no Egito, e espalharei medo por toda a terra. Mas, porque os serviram na presença de seus ídolos e fizeram a nação de Israel cair em pecado, jurei de mão erguida que eles sofrerão as consequências de sua iniquidade. Palavra do Soberano, o ­Senhor. Ezequiel 22:4 – 23:7 – 30:13 – 44:12


E as ameaças não focavam apenas o Egito, o vandalismo judaico voltou-se também contra Nínive, capital do império Assírio e casa do rei Senaqueribe, durante o reinado bíblico do rei Ezequias e do profeta Isaías.


O Senhor decreta o seguinte a seu respeito, ó rei de Nínive: "Você não terá descendentes que perpetuem o seu nome. Destruirei as imagens esculpidas e os ídolos de metal do templo dos seus deuses. Prepararei o seu túmulo, porque você é desprezível". Naum 1:14


[...[ expulsem da frente de vocês todos os habitantes da terra. Destruam todas as imagens esculpidas e todos os ídolos fundidos, e derrubem todos os altares idólatras deles. Números 33:52


Certamente você nunca mais olhará uma Árvore de Natal enfeitada sem deixar de se lembrar que ela é o símbolo da Deusa Mãe desde tempos muito antigos. E ao se deliciar com o panetone natalino, ou mesmo oferecê-lo de presente, também se lembrará que há muitos milênios as mulheres preparavam bolos de passas, figos e tâmaras para oferecer à Deusa Mãe.


Que este Natal seja impregnado pela lembrança amorosa da Grande Mãe. Que as árvores sejam preservadas, que os campos sejam produtores de alimentos para todos, que a intolerância seja vencida pela compaixão, que a mentira virulenta seja banida, que a espiritualidade cresça, mas não necessariamente as religiões. Que os nossos olhos possam ver e nossos ouvidos escutarem os clamores da Grande Mãe.


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