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10 - MOISÉS FOI AKHENATON?

Atualizado: 7 de mai. de 2022


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gebhard_Fugel_Moses_erh%C3%A4lt_die_Tafeln.jpg


Durante aproximadamente dois mil anos o Velho Testamento foi a única fonte de informação para os relatos bíblicos, contudo, com a decifração dos hieróglifos egípcios e da escrita cuneiforme, vem crescendo o número de traduções dos registros (em papiro, argila ou pedra) que são ainda mais antigos do que os relatos bíblicos, com a vantagem de serem documentos originais e não simplesmente relatos feitos séculos depois. Estas traduções não dependem apenas da opinião do tradutor, pois são fortemente monitoradas por tradutores/pesquisadores internacionais, aumentando assim sua confiabilidade.


É fundamental lembrar que a escrita egípcia antiga foi decifrada por Jean François Champollion (1790-1832) por volta de 1822, não tendo ainda completado 200 anos, indicando que ainda há muito por decifrar em relação aos artefatos já descobertos, mas, sobretudo, quanto aos que ainda estão esperando vir à luz. Em relação à escrita cuneiforme, aconteceu o mesmo. A chave para decifrá-la surgiu sob a forma de três idiomas grafados em uma inscrição gravada na rocha de uma montanha da Pérsia. O texto estava escrito em persa, elamita e acadiano, sendo uma descoberta muito recente. Muitas informações ainda estão por vir e, certamente, terão um impacto tão grande quanto a descoberta do significado da palavra Shin’ar, Shinar ou Sinear referida no Antigo Testamento referindo-se à Suméria.


Em 1869 Julles Oppert sugeriu à Sociedade Francesa de Numismática e Arqueologia que esta deveria reconhecer a existência de uma língua e de um povo pré-akádico, chamado sumério e seu território Suméria. À exceção de ter pronunciado mal o nome (Shumer e não Sumer), Oppert estava com a razão. Shumer era o antigo nome da Mesopotâmia do Sul, tal como o Livro do Gênesis tinha claramente afirmado: “As cidades reais da Babilônia, Akkad e Erech eram a Terra de Shin’ar ou Shinar, o nome bíblico de Shumer. Uma vez iniciadas as traduções, abriram-se os diques. Tais escritas antigas começaram a ser comparadas com os relatos bíblicos. A decifração da escrita cuneiforme confirmou as narrativas bíblicas de que Assíria e Babilônia tinham sido precedidas por um reino chamado Akkad, fundado por Sharru-Kin, chamado de Sargão I no Ocidente. Qual não foi o espanto, porém, ao encontrar nas tabuinhas de argila escritas em cuneiforme uma história semelhante a de Moisés contada na Bíblia.

http://theancientneareast.com/649-2/


A verdadeira identidade de Moisés vem incomodando os estudiosos há milênios. Maneto, um sacerdote caldeu que viveu no 3º século aC, cuja obra está há muito desaparecida e cujos fragmentos foram preservados por Flávio Josefo nos seus relatos sobre a história dos judeus, se referiu a Moisés como sendo outra pessoa.


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flavius_Josephus_edition_of_1552.jpg


Flávio Josefo registrou in loco a destruição de Jerusalém em 70 dC em seu livro A Guerra dos Judeus e Antiguidades Judaicas. Apoiando-se em Maneto, Josefo relatou que um sacerdote egípcio chamado Osarseph havia mudado seu nome para Moisés.


Flávio Josefo conta que o vizir do faraó Amenófis III também se chamava Amenófis, dito "filho de Hapu" (1440-1360 aC), que desempenhou funções de comando militar e arquiteto e, à semelhança de Imhotep, foi transformado em uma divindade.


Josefo conta ainda que o faraó Amenófis, queria ter uma visão dos deuses, mesmo que em sonho, entretanto, um conselheiro lhe disse que ele só seria capaz de ver os deuses se purgasse o país inteiro dos ‘leprosos’ (leia-se ‘impuros’, nome atribuído aos que haviam negado os tradicionais deuses egípcios em favor de um deus único, Aton). O conselho foi aceito. Finalmente, após os “leprosos” terem passado anos miseráveis nas pedreiras, o faraó ouviu suas súplicas e deu-lhes a cidade de Avaris, no delta do Nilo, que estava abandonada depois da expulsão dos hicsos. Josefo continua explicando que estes homens eram liderados por um sacerdote chamado Osarseph, o qual ordenou a seus seguidores que continuassem adorando o deus único {leia-se Aton}, que não adorassem os ídolos do Egito {Amon e os demais deuses}. Ele ordenou também os adoradores do Deus único deveriam formar uma comunidade, misturando-se apenas entre si, vindo daí o hábito do casamento interjudeus.


Ao analisar a palavra hebraica ADONAI, que significa ‘meu Senhor’ Ahmed Osman diz que o sufixo ‘ai’ pode ser removido uma vez que se trata de um pronome possessivo hebreu, que significa ‘meu’, ‘minha’. Então resta ADON (Senhor) que, como foi corretamente notado por Sigmund Freud, é a palavra hebraica para ATON, pois o ‘t’ egípcio se torna ‘d’ em hebraico e a vogal ‘e’ se torna ‘o’. Portanto, Adon, o Senhor de Moisés, é o mesmo Aton, de Akhenaton.

Ahmed Osman.
Moisés e Akhenaton: A história secreta do Egito no tempo do êxodo.
SP: Ed. Madras, 2005. págs 37, 173
(daqui em diante a referência será feita apenas ao número da página, sendo o livro o mesmo)


Ahmed Osman explica que todos os fragmentos disponíveis da obra de Maneto chegaram até nós por meio de outros autores, principalmente Flávio Josefo e pelos cronologistas cristãos Sextus Julius Africanus (3º século dC) e Eusébius (4º século dC), e de outros autores gregos e latinos como Plutarco e Syncellus, patriarca de Constantinopla (600 dC). Todos relacionam os fatos que culminaram com a expulsão dos hicsos, assentados há séculos no delta do Nilo, e, posteriormente, com os fatos registrados na Torá como o Êxodo judaico conduzido por Moisés/Osarsiph. Como se constata, há muito que se diz que Osarsiph e Moisés são a mesma pessoa. O elemento inovador é o paralelismo que autores estão fazendo atualmente sobre a vida de Moisés/Osarsiph com a vida de Akhenaton e o resultado surpreende.


Essa comparação só foi possível depois que os papiros e inscrições nos templos e tumbas do Egito começaram a ser decifrados. A escrita hieroglífica foi decifrada em 1822 por Champollion, mas somente no século XX houve ampliação do número de pessoas capacitadas para essa tarefa. O resultado foi o aparecimento de inúmeros trabalhos de decifração dos textos egípcios. A partir de então começaram os estudos traçando o paralelismo entre os textos bíblicos e egípcios. Daí a pergunta inevitável: Ossarssiph, Moisés e Akhenaton foram a mesma pessoa?


Na concepção de Ahmed Osman, sim. No entanto, outros autores trabalham com hipóteses diferentes.


Sigmund Freud, por exemplo, afirmou que Moisés foi um egípcio da entourage {comitiva, entorno, pessoa próxima} de Akhenaton, porém não avançou no estudo para definir quem exatamente ele foi, apenas levanta uma hipótese:


“Entre os que compunham o entourage de Akhenaten havia um homem talvez chamado Tuthmosis, como muitas outras pessoas daquela época; o nome não é de grande importância, exceto o fato de que seu segundo componente deve ter sido ‘-mose’. Achava-se ele numa elevada posição e era um adepto convicto da religião de Aten, mas, em contraste com o rei meditativo, era enérgico e apaixonado. Para ele, a morte de Akhenaton e a abolição da religião deste significaram o fim de suas esperanças. Só poderia permanecer no Egito como fora-da-lei ou como renegado”.

https://elivros.love/livro/baixar-moises-e-o-monoteismo-sigmund-freud-epub-pdf-mobi-ou-ler-online


Voltaire (1694-1778), um dos mais importantes iluministas franceses, se interrogou: Em que língua Moisés falou aos hebreus? Se falava em egípcio, como era entendido pelos hebreus? Por que Moisés escolheu transmitir a Lei por escrito? Afinal, teria sido mais natural falar do que escrever, visto que a maioria era iletrada.


Karl Leonhard Reinhold (1757-1823) foi um filósofo austríaco, grande divulgador das ideias de Immanuel Kant, fundamentou o idealismo alemão. Reinhold publicou em 1788, Os Mistérios Hebreus: A Mais Antiga Maçonaria Religiosa sob o pseudônimo de Decius. Reinhold defende a ideia que Moisés formulou seu sistema religioso com base no sistema egípcio.


Friedrich von Schiller (1759-1805) foi um dos grandes homens de letras da Alemanha do século 18 e um dos principais representantes do Romantismo alemão. Sua amizade com Goethe rendeu longa troca de cartas que se tornou famosa na literatura alemã. Schiller defende a tese que Moisés era um egípcio nato.


Segundo Yerushalmi, historiador israelense, tanto a ideia de Moisés ser um estrangeiro, quanto a ideia de que o monoteísmo tem origem egípcia, já são encontradas em muitos outros autores anteriores a Freud. Goethe já havia especulado que Moisés podia ter sido assassinado, embora ele tivesse em mente um ato político cometido por um impaciente Josué. Antes de Freud, James Breasted e outros egiptólogos sustentaram que o monoteísmo provinha do Egito. Ao contrário da impressão que Freud deixa no leitor, a ascendência egípcia de Moisés não é novidade. Tal hipótese já foi sugerida por pessoas tão diversas quanto o sociólogo Max Weber, o apóstolo antissemita de Bayreuth Houston Stewart Chamberlain. (YERUSHALMI, 1991/1992, p. 26).

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-48912013000100010

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) dedicou um ensaio histórico ao mesmo assunto e se esforçou para reconstruir o itinerário seguido pelos hebreus durante o Êxodo. Freud cita o estudo de Goethe, que destaca os defeitos de caráter de Moisés: sua violência às vezes sanguinária, seu autoritarismo e seus erros estratégicos, que fazem com que pareça provável a hipótese de que Moisés tenha sido assassinado por seus próprios seguidores.


Thomas Mann (1875-1955) escritor e crítico social do Império Alemão, Nobel de Literatura de 1929, tratará da história de Moisés, onde é apresentado como um homem violento, mas também um herói, cujo gênio e instabilidade podem ser explicados pelo cruzamento das duas culturas das quais ele emergiu.


Segundo esses vários autores, a vida de Moisés está indissociavelmente ligada aos fatos que aconteceram no Egito na época da expulsão dos hicsos; da religião trazida pelos hicsos, fortemente implantada no delta do Nilo durante séculos; do monoteísmo de Akhenaton que também teve sua origem nos hicsos; e da ascensão do carneiro, símbolo do deus Amon, vencedor da guerra conduzida pelos governantes de Tebas.


Tendo sido Moisés um personagem ativo nesses acontecimentos, sobretudo os últimos, realmente ficou difícil transformá-lo em um judeu puro sangue, por mais que aqueles que redigiram a Torá se esforçassem. No entanto, por mais encoberta que seja, a história sempre deixa rastros.


Embora inúmeros autores clássicos tenham mencionado a sincronia entre o monoteísmo de Akhenaton e o monoteísmo de Moisés, foi a descoberta do sítio arqueológico de Tell el-Amarna a grande responsável pelas revelações que possibilitaram a comparação entre estes dois personagens: Akhenaton, fundador do monoteísmo egípcio e Moisés, legislador no monoteísmo judaico.


Como judeu que era, e conhecedor do hebraico, Freud demonstrou que o nome ‘Moisés’ não é derivado do hebraico e sim do egípcio. Diz Freud: “A língua egípcia, assim como a semítica, não usa vogais em sua grafia. A palavra egípcia para ‘criança” ou ‘filho de’ é ‘ms’ que pode ser dito ‘mos’, ‘mes’, ou ‘mose’ e se encontra na denominação dos faraós tais como Ahmose, Tutmose ou Tutmés (Filho de Toth), Ramose ou Ramsés” (Filho de Rá). Ahmed Osman também analisou a origem do nome Moisés e confirma o que disse Freud, acrescentando que ao tirar as duas vogais ‘o’ e ‘e’ de ‘Moshe’ restam duas consoantes, ‘m’ e ‘sh’. Como a letra hebraica ‘sh’ é equivalente ao ‘s’ egípcio, fica demonstrado que a palavra hebraica se origina do egípcio. {Freud. Moisés e o monoteísmo, pág. 73}


Ahmed Osman diz que se admitirmos por ora o que ainda está longe de ser provado, que Moisés e Akhenaton foram a mesma pessoa, é possível traçar um breve esboço dos fatos históricos por trás dos variados e, às vezes, extravagantes relatos da vida do maior herói judeu, Moisés.


Se a teoria de Ahmed Osman estiver certa, Akhenaton e Moisés foram uma só pessoa e a história poderia ser contada assim: Akhenaton/Moisés, filho de Tiye e neto de José do Egito, foi rejeitado pelos sacerdotes de Tebas mesmo antes de nascer, pelo fato de sua mãe não ter linhagem real. {é fundamental ler o post sobre Yuya/José do Egito para entender o atual argumento}


Além de rejeitado, Akhenaton {que ainda não possuía esse nome} poderia ser assassinado. Diante do impasse, Tiye colocou seu filho recém-nascido num cesto e lançou-o às águas, para ser recuperá-lo em seguida com uma nova identidade. Quando foi o momento de assumir o trono Akhenaton/Moisés teve que levar o enfrentamento do clero tebano às últimas consequências e assim adotou o Deus único, Aton, em oposição ao deus Amon, sustentáculo dos sacerdotes tebanos. Na impossibilidade de manter a capital do Egito em Tebas, reduto do clero amonita, Akhenaton/Moisés decidiu construir uma nova capital para o Egito, Amarna, localizada a meio caminho entre Menphis e Tebas, fazendo dela seu próprio reduto. Seu governo durou cerca de 20 anos, durante os quais foi gradativamente perdendo poder até ser derrotado e banido.


Akhenaton/Moisés abdicou do trono em favor de seu filho, Tutankaton, reconduzido a Tebas como Tutankamon, numa clara demonstração do poder exercido pelos vencedores. Porém, Moisés/Akhenaton não abdicou da luta contra o clero amonita. Ele vagou 40 anos pelo deserto, junto com seus seguidores, buscando uma nova terra, Canaã, onde pudesse estabelecer o culto ao deus único e com ele reorganizar a resistência e retornar ao Egito para reivindicar sua volta ao trono.


A explicação da Torá para o fato de um líder hebreu, Moisés, ter sido adotado e criado como príncipe na casa real do Egito faz com que sua história tenha necessariamente que ser confrontada com os membros da realeza egípcia com os quais ele conviveu. Enquanto o 2º capítulo do Livro do Êxodo descreve a filha do faraó como sendo aquela que recolheu Moisés das águas, o Alcorão diz que foi a rainha, esposa do faraó. Como os dois livros sagrados devem ter tido a mesma fonte, é estranho que eles divirjam nessa questão importante.


https://www.freebibleimages.org/illustrations/anv-birth-moses/


E Osman continua, depois de fazer uma análise linguística das palavras, filha, casa e rainha, que em egípcio antigo se escreviam todas do mesmo jeito, que há duas fontes de mal entendido: Em primeiro lugar, o escriba que fez o Livro do Êxodo enfrentou duas tradições – que a mãe de Moisés era uma israelita {filha de Yuya} e que ela era literalmente a “casa do faraó”. Despercebido, como já havia omitido da história de José no Livro do Gênesis que ele tinha uma filha chamada Tiye, a qual se tornou esposa do faraó, o escriba resolveu essa dificuldade inicial criando duas mães, uma hebraica que deu à luz Moisés, e outra real que o adotou e o criou como filho. O porquê de ele ter escolhido identificar essa mãe adotiva como uma princesa em vez de uma rainha está em uma explicação filológica. A palavra “filha” e a palavra “casa” eram escritas identicamente. A palavra “casa” era usada tanto no sentido de uma construção ou de “família”. (…) A própria palavra “faraó” significa literalmente “a grande casa” e a expressão para rainha era “casa da grande casa”, neste caso tratando-se de Tiye. (pág 63) A mãe real de Moisés, portanto, foi a rainha do Egito Tiye. (Osman, pág 65)


No entanto, Tiye era a Grande Esposa real, não por direito mas de fato, o que fazia com que ela não fosse aceita pelo clero de Tebas. Tiye possuía sangue israelita e egípcio e pelas leis sucessórias da época seus descendentes não poderiam ser os legítimos herdeiros do trono do Egito.


O Antigo Testamento diz que a vida de Moisés corria risco. O Talmude afirma que era a sobrevivência de Moisés que o faraó queria impedir. Isso pode sugerir que o próprio faraó, motivado pela ameaça do clero e para evitar problemas com sua sucessão, talvez possa ter instruído as parteiras a matar a criança de Tiye caso fosse um menino. Ao saber que a vida do filho estava em perigo, Tiye enviou o bebê pelas águas para ser mantido em segurança junto à comunidade israelita no Gósen. A história bíblica ainda deixa claro que o faraó estava com medo de Moisés. Por que este temeria Moisés se ele era simplesmente um filho de pastores desprezados? Como esse menino poderia representar uma ameaça à dinastia? (Osman, pág 70)


Como Tiye não era a legítima herdeira, diz Osman, ela não era considerada pelo clero tebano a legítima consorte do deus Amon e, consequentemente, seu filho não podia ser considerado Filho de Amon, não podendo assim ser aceito como herdeiro legal. Essa situação era enfrentada com a realização de uma cerimônia de adoção no Templo de Karnac, na qual o príncipe seria declarado Filho legítimo de Amon. No entanto, no caso específico de Akhenaton, a rejeição do clero se deu pelo fato de o príncipe ser descendente dos hicsos/israelitas, que haviam tomado o poder na região do Gósen e posteriormente expulsos. {Tiye era filha de Yuya/José do Egito}


Tendo sido rejeitado pelos sacerdotes de Amon, Akhenaton, por sua vez rejeitou o deus de Tebas e escolheu Aton, destruindo as representações de Amon, e por fim, estabelecendo Aton como o único deus do qual era filho. (pág 87)


Akhenaton/Moisés invoca o primitivo deus ATUN para sustentar sua concepção de deus único ATON. É importante lembrar que os hicsos faziam parte de um povo estrangeiro que governou o Egito entre 1.638-1.530 aC, mas que já estavam se instalando no Gósen desde séculos antes, sendo considerados por muitos autores modernos como a origem dos hebreus. Não por acaso eram chamados de “Reis Pastores”. Uma hipótese consistente é que eles trouxeram o culto solar de Ur para o Gósem, construindo o Templo de Om em Heliópolis. Uma indicação disso é o nome nativo do Templo de On: I͗wnw que significa “Pilares”, cuja pronúncia é incerta, podendo ser Iunu, Ōwn, Āwen, Awnu.


Esta reconstrução do portal do Templo de Om
foi elaborada a partir de fragmentos do início da 19ª dinastia,
hoje na coleção do Museu do Brooklyn
https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/3756

O Templo solar de Om ficava na cidade batizada pelos gregos de Heliópolis, a cidade do Sol. A palavra OM pode ser a transliteração de ATUM, forma como os hicsos/hebreus chamavam AUM, dita OM na mitologia védica, a divindade criadora de tudo quanto há.


É importante conhecer como se deu a transição de ATUM para ATON. Akhenaton venerava Aton, mas não Atum, apesar de ambos terem o Sol como símbolo. Essa transição tem um papel fundamental para que se possa compreender como se deu a substituição do culto à Grande Mãe pelo Deus Pai, do culto lunar para o culto solar. Boa parte dessa história se passa na cidade de Ur, depois chamada de Akkad, transportada para o Egito pelas caravanas dos “hibirus” {beduínos}. A palavra hibirus é uma outra possibilidade para o termo "hebreu", ou seja, eram beduínos.


Ahmed Osman relata que o Talmude traz outra lenda para justificar a tentativa de matar Moisés no seu nascimento. O faraó (provavelmente Amenhotep III) teve um sonho em que estava sentado no trono quando viu um homem velho segurando um grande par de balanças. De um lado estavam os anciãos e as princesas do Egito e no outro prato da balança estava um carneiro que provou ser mais pesado. Então o faraó perguntou a seu conselheiro o significado desse sonho, o qual respondeu: ‘Um filho que nascerá em Israel destruirá o Egito’. Jetro, descrito como sogro de Moisés, entra em cena e aconselha o faraó a não oprimir os israelitas e permitir que partam para Canaã. Este conselho não agradou o faraó, que destituiu Jetro como seu conselheiro e ordenou que todos os meninos hebreus recém-nascidos deveriam ser mortos. (pág. 35)


Embora o Talmude não faça referência ao Ciclo de Ram, o carneiro aparece no sonho do faraó como um fragmento a mais neste quebra-cabeça.


https://www.mapadomeuceu.com.br/blog/constelacao-de-aries/


Sabe-se que o carneiro era o emblema do deus solar e guerreiro Amon, cultuado pelos sacerdotes de Tebas e elevado a divindade de todo o Egito depois da expulsão dos hicsos em 1530 aC. Akhenaton reinou de 1350-1336 aC, mais de dois séculos depois, contudo, a ameaça que os hicsos representavam ainda estava muito viva na memória.


A pele do carneiro também é chamada de Velo, origem do mito Velocino de Ouro.


Segundo a mitologia grega, Átamas, rei de Tebas, desposou Néfele e com ela teve Frixo e Hele. Mas, tendo repudiado a esposa, casou-se em segundas núpcias com Ino que, enciumada planejou dar cabo à vida dos enteados. {sempre a história da sucessão}


Ciente da desgraça que estava prestes a se abater sobre os filhos, Néfele, desesperada, enviou-lhes o Velocino de Ouro, presente que Hermes lhe havia ofertado. Tratava-se de um carneiro cujo pelo era feito de ouro. Nadava, corria e voava como nenhum outro animal podia fazê-lo. Montados sobre seu dorso, os jovens alçaram vôo e escaparam da morte. Porém, fim trágico teve Hele, pois durante o percurso, sofreu uma vertigem e caiu nas profundezas do mar onde morreu afogada. Chegando são e salvo à Cólquida, Frixo foi recebido por Eetes, que lhe ofereceu sua filha Calcíope em casamento. Agradecido, o jovem sacrificou o carneiro à Zeus , que por sua vez o transformou num símbolo de poder e prosperidade. Frixo arrancou seu pelo e o entregou a Eetes. O rei fixou o velo numa árvore, mais precisamente num carvalho, localizado no pomar dedicado a Ares e ali colocou como sentinela um terrível dragão que jamais fechava seus olhos em sono. {os símbolos remetem à tomada de poder do carneiro sobre o touro e do masculino sobre o feminino. Voltaremos a este mito}


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rembrandt_Harmensz._van_Rijn_079.jpg

Diz o Velho Testamento que Moisés nasceu judeu e foi criado como príncipe no Egito. Ele foi filho de Anrão {AN-RAM} e Joquebede e irmão de Arão e Miriã.


Arão, irmão de Moisés, foi separado para santificar o santo dos santos, ele e seus filhos, eternamente; para incensar diante do Senhor, para o servirem, e para darem a bênção em seu nome eternamente. 1 Crônicas 23:13


E o nome da mulher de Anrão era Joquebede, filha de Levi, a qual nasceu a Levi no Egito; e de Anrão ela teve Arão, e Moisés, e Miriã, irmã deles. Números 26:59


Assim como Abraão, antes Abrão – A’Bram - Ab-Ram, o nome do irmão de Moisés Arão {A-Ram}, que significa “Sacerdote”, também indica que ele “foi separado para santificar o santo dos santos”, ou seja, para ser um sacerdote.


A linhagem de Moisés foi sacerdotal. O escritor mais antigo a dizer que Moisés, antes de ser Moisés, havia sido o sacerdote “Osarsiph” foi Maneto, que viveu no terceiro século antes de Cristo, cujas obras foram perdidas, mas fragmentos delas permaneceram nos escritos de Fávio Josefo que escreveu a História dos judeus e viveu no ano 70 dC. Osarsiph é a forma helenizada para “Osiris-Ápis”.


Assim como Abraão {Ab-Ram} a história de Moisés está profundamente relacionada ao simbolismo do carneiro e ao legislador hindu, RAMA. Ambos estabeleceram novas leis para dar início à organização social e política de seus povos com base na teocracia.


Os nomes Anrão e Arão, também escritos como An-Ram, A-Rã, Harã, podem estar se referindo aos A-ram-eus uma civilização de longa história cultural que deixou uma língua, o aramaico, que continua sendo falada atualmente em algumas aldeias na região de Mosul, no Iraque e na Síria, perto da fronteira com o Líbano.


No Antigo Testamento Aram era o quinto filho de Sem, primogênito de Noé. Os Judeus usavam o termo Arameus para distinguirem os seus parentes mais afastados, chamados de “Povos de Aram”. Sendo os Arameus nômades durante grande parte da sua história, divididos num mosaico de tribos separadas, apenas unidas pela língua, não se conhecem os seus costumes e práticas sociais. No entanto, no 2.º Livro de Samuel há referência a “RAMÁ”, um reino na região de Damasco, Síria. Os habitantes de Ramaá podem ter sido os Arameus, povo que deixou uma forte influência linguística na região, principalmente na Palestina. O Aramaico, idioma semítico, com alfabeto próprio e mais de três milênios de formação, era, segundo se crê, a língua falada domesticamente por Jesus Cristo e boa parte dos judeus do seu tempo no Norte de Israel, já depois de ter sido assumida como idioma oficial por Assírios e Persas.

https://www.infopedia.pt/$arameus


Interessado na análise dos mitos antigos para compreender a psiquê humana, Sigmund Freud (1856-1939), Pai da Psicanálise, escreveu o artigo Moisés, um egípcio. Ao fazer tal afirmação provocou um intenso debate na Europa. Ainda em 1934 Freud escreveu mais dois artigos condensados posteriormente em um livro chamado Moisés e o Monoteísmo. Essa ideia já vinha sendo trabalhada desde 1909 ao orientar Otto Rank, que por sua vez estava trabalhando no livro “O mito do nascimento do herói”. Um dos personagens estudados por Rank, cujo nascimento foi revestido de grande peripécia, foi Sargão de Akad, fundador do Império Babilônico que governou de 2.334 a 2.279 aC e que foi também avô de Naram-Sin, aquele que inaugurou o uso do toucado real com chifres de carneiro. Sargão conquistou as principais cidades sumérias e estendeu seu reino da Mesopotâmia ao Mediterrâneo. Diz a lenda que quando Sargão nasceu foi colocado em um cesto de vime selado com betume e colocado nas águas do rio, tal como Moisés. Entretanto, Sargão foi anterior a Moisés em quase um milênio, indicando que esse mito já era conhecido desde há muito tempo.

https://elivros.love/livro/baixar-moises-e-o-monoteismo-sigmund-freud-epub-pdf-mobi-ou-ler-online


Um texto neoassírio do século VII a.C., que alega ser a autobiografia de Sargão, afirma que o grande rei seria o filho ilegítimo de uma sacerdotisa.


Minha mãe foi uma alta sacerdotisa, meu pai eu não conheci. Os irmãos de meus pais amavam as montanhas. Minha cidade é Azupiranu, que se situa às margens do Eufrates. Minha mãe, alta sacerdotisa, me concebeu, em segredo me pariu. Colocou-me numa cesta de juncos, e selou-a com betume. Colocou-me no rio, que se elevou sobre mim, e me carregou a Akki, o carregador de água. Akki, o carregador de água, me aceitou como seu filho e me criou. Akki, o carregador de água, me nomeou como seu jardineiro. Enquanto eu era um jardineiro, Ishtar me concedeu seu amor, e por quatro e [...] anos eu exerci o reinado.

King, L. W, Chronicles Concerning Early Babylonian Kings, II, London, 1907, pp. 3ff; 87–96.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sarg%C3%A3o_da_Ac%C3%A1dia

A história de Sargão é a de um enjeitado que se levanta de obscuro nascimento e se transforma em rei, ao contrário da história de Moisés que, sendo príncipe torna-se um enjeitado para criar um povo {ideia hoje contestada} e uma religião.


A Lenda de Sargão da Acádia diz que ele não conheceu o pai e que sua mãe era uma sacerdotisa. Por alguma razão obscura ela lançou o filho ao Eufrates dentro de um cesto impermeabilizado com betume. Vagando nas águas, o bebé foi recolhido e adotado por um jardineiro chamado Akki {origem do nome da dinastia Akkad}. Sargão se tornou jardineiro como seu pai adotivo. {Não por acaso o fundador do Império Babilônico, responsável por uma das maravilhas do mundo antigo, foi um jardineiro, embora não seja atribuída a Sargão sua construção}. Sargão é a grafia de Šarru-kēn, que significa “rei verdadeiro”, ou “legítimo”. Certamente a ênfase dada a verdadeiro e legítimo atesta a necessidade de afirmação de um poder obtido pela força e de modo irregular.


https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/38250/1/Arqueologias_de_Imperio.pdf

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sargon_I.jpg

Foi preciso construir uma narrativa em torno do nascimento heróico de Sargão a fim de legitimar sua ascensão ao trono e a construção do primeiro império, o Babilônico. Por incrível que pareça, a narrativa sobre o nascimento de Moisés muito se assemelha à de Sargão I, que viveu muitos séculos antes.

Ao trabalhar com a hipótese de que Moisés não era hebreu e sim egípcio, Freud contribuiu para abalar as representações que se têm de Moisés, como o ‘criador de uma nova nação’, e criador do ‘povo eleito’, herdeiro de uma terra por direito divino.


Diz a tradição que os rabinos tomaram para si a tarefa de contar a história da criação e do povo hebreu, e de registrar o conceito de Deus Único. No entanto, como a concepção monoteísta não é exclusividade do povo hebreu, visto que esse entendimento já existia em civilizações anteriores com as quais eles conviveram, os escribas hebreus tiveram que usar uma linguagem cifrada e propositalmente truncada, muitas vezes usando conteúdos emprestados, numa espécie de sincretismo com as crenças anteriores.


https://www.freebibleimages.org/illustrations/anv-birth-moses/


De acordo com a Torá, Anram e Joquebede, os pais de Moisés, o colocaram num cesto de vime e o deixaram a deriva, tendo sido salvo das águas pela filha do faraó, que o criou como se tivesse saído do seu ventre, com status de príncipe egípcio. Moisés foi educado pelos sacerdotes egípcios assim como os demais príncipes, sem distinção.


A história prossegue relatando que Moisés matou um feitor egípcio por este ter açoitado um escravo hebreu, ato que obrigou-o a abandonar o Egito e fugir para Midiã.


http://www.free-minds.org/kingdom-israel


Chegando em Midiã encontrou Jetro, um sacerdote semita que lhe deu as chaves para a compreensão dos mistérios caldeus, no entanto, a Caldeia é outro nome para se referir aos que habitavam Ur.


http://www.free-minds.org/kingdom-israel

Jetro era um sacerdote que professava a nova religião de Ur, trazida pelas migrações indo-arianas, tal qual Abraão, e assim como ele, se colocava contra a adoração de ídolos {leia-se, contra os símbolos relacionados à Grande Mãe}, promovendo a crença no DEUS ÚNICO. Na caldeia, as divindades eram predominantemente femininas, porém, com a chegada da nova religião, que promovia os valores masculinos da conquista pela força, dominação e poder, os símbolos femininos foram usurpados.

fonte: http://arturjotaef-numancia.blogspot.com/2013/09/os-deuses-da-caldeia-inana-nana.html

Criado no caldo cultural que integrava a Caldeia, Canaã e Egito, Moisés seguia os preceitos de uma vertente que há muito vinha promovendo uma guerra religiosa contra o feminino. O objetivo estratégico desta guerra foi construir o patriarcalismo, com ajuda do monoteísmo, que são as duas faces da mesma moeda. Esta guerra contou com duas táticas: destruição dos símbolos da Grande Mãe {daí a quebra dos ídolos} e sua substituição por outros {Touro pelo Carneiro} e criação de leis que subordinassem a mulher ao homem, como as Lei de Eshnunna, o Código de Hamurabi e depois a Lei Mosaica.


A elaboração e instituição do monoteísmo não aconteceu de forma pacífica. A partir de um contexto politeísta, a centralidade em Yahweh foi um processo violento, proibindo e demonizando o diferente como uma ameaça. Um processo nítido de intolerância religiosa e destruição da cultura anterior. A supressão do culto, dos ritos e da imagem da Deusa trouxe consequências profundas, afetando em especial as mulheres, que tinham nela uma possibilidade de representação do feminino no sagrado. Assim, a religião judaica foi sendo constituída em torno de um Deus masculino, sustentado por uma sociedade patriarcal.

http://exegeseoriginal.blogspot.com/2015/02/

O conteúdo do Gênesis, assim como os relatos atribuídos a Moisés permanecem obscuros. Isto porque as chaves para sua correta interpretação foram perdidas na poeira do tempo, diz Èdouard Schuré (1841-1929) em sua obra Os Grandes Iniciados.


Segundo ele, não é possível interpretar os textos bíblicos atribuídos a Moisés, sem compreender os fundamentos das religiões egípcia e babilônica das quais ele foi discípulo e iniciado. Além disso, os próprios escribas judeus escreveram sua história depois de terem ficado exilados na Babilônia, época em que floresceu a literatura rabínica, marcada pela desolação e saudade da terra distante.


Os livros básicos do judaísmo, assim como a ciência da arqueologia dos anos 1950, fazem um grande esforço para justificar a existência do povo judeu e da ocupação de um território que eles julgam lhes é devido desde os tempos dos Patriarcas, entretanto, estudos recentes afirmam outra coisa. Estudiosos como Israel Filkenstein não confirmam a existência de um povo judeu. Para piorar a situação, os estudos comparados de literatura estão reunindo mais do que evidências de que Moisés foi um egípcio. Para Freud, o problema que os rabinos que escreveram a Torá tiveram que enfrentar foi justificar o injustificável: Moisés era, na verdade, um príncipe egípcio! Como isso não podia ser admitido por aqueles que estavam redigindo a Torá, foi criado o artifício das duas mães, uma judia e a outra uma princesa egípcia.


Durante o Exílio na Babilônia os rabinos conheceram a milenar história do nascimento de Sargão da Akkadia e, provavelmente, esta lenda foi tomada de empréstimo para recontar a saga do nascimento de Moisés. Sargão, adotado por um jardineiro foi um plebeu que veio a se tornar rei. Já Moisés, tudo indica que nasceu príncipe e teve que se tornar um plebeu para justificar a estruturação de sua lenda como patriarca do povo hebreu. Utilizar a conhecida lenda do nascimento de Sargão, adaptando-a para Moisés, foi a estratégia encontrada para mascarar o fato de Moisés, sendo um egípcio, ter se transformado em Patriarca dos hebreus, algo desconfortável para os encarregados de registrar a história dos judeus.


Porém, como dizem Freud, Otto Rank e outros, essa história sempre soou estranha! Como já havia o precedente histórico de Sargão, criar a lenda do bebê hebreu recolhido por uma princesa egípcia foi a melhor maneira para justificar o nascimento egípcio de Moisés fazendo-o originário de uma modesta família de levitas e depois adotado pela casa real. Esta explicação é improvável, pois os costumes da época não permitiriam que uma princesa do Egito, sendo solteira, adotasse uma criança e menos ainda que esta fosse educada como príncipe, diz Osman. {pág. 25}


Segundo Ahmed Osman, a compilação de leis e lendas hebraicas, o Talmude, escrito nos primeiros séculos depois de Cristo, contém alguns detalhes interessantes não encontrados na Bíblia.


De acordo com o Talmude, que concorda que Moisés foi trazido ao palácio do faraó, foi obrigado a fugir do Egito depois de uma visita que fez à região de Gósen {delta do Nilo}, ocasião em que matou um egípcio que estava agredindo um israelita. Entretanto, ele não fugiu para Midiã, no Sinai, como diz o Antigo Testamento, mas para a Etiópia. O Talmude continua e relata que naquela ocasião a Etiópia estava em uma guerra interna que durou 8 anos e que Moisés lutou ao lado do rei, tornando-se respeitado pelos companheiros e favorito do governante. Com a morte deste, Moisés tornou-se seu sucessor. De acordo com o Talmude Moisés foi feito rei 157 anos depois de Israel ter descido para o Egito. Os etíopes colocaram Moisés no trono e a coroa em sua cabeça e deram-lhe a viúva do rei como esposa. Esta afirmação também é feita por Flávio Josefo, para quem Moisés foi rei em Sabá. Apoiado em Maneto, Josefo descreve Sabá como uma cidade real, murada, que Cambises II teria chamado de Meroé. Ainda segundo Maneto, a conquista de Sabá teria trazido grande fama a um jovem príncipe egípcio chamado Moisés.{pág 34 - grifos nossos}


O Livro Juízes começa relatando uma guerra contra os cananeus:

E sucedeu, depois da morte de Josué, que os filhos de Israel perguntaram ao SENHOR, dizendo: Quem dentre nós primeiro subirá aos cananeus, para pelejar contra eles? E disse o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei esta terra na sua mão. Então disse Judá a Simeão, seu irmão: Sobe comigo à minha herança. E pelejemos contra os cananeus, e também eu contigo subirei à tua herança. E Simeão partiu com ele. Juízes 1:1-3

Neste livro aparece a figura de Otniel. Quem foi ele?


Estas, pois, são as nações que o SENHOR deixou ficar, para por elas provar a Israel e a todos os que não sabiam de todas as guerras de Canaã. Tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas soubessem (para lhes ensinar a guerra), pelo menos os que dantes não sabiam delas. (…) Habitando, pois, os filhos de Israel no meio dos cananeus, dos heteus, e amorreus, e perizeus, e heveus, e jebuseus tomaram de suas filhas para si por mulheres, e deram as suas filhas aos filhos deles; e serviram aos seus deuses. E os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, e se esqueceram do Senhor seu Deus; e serviram aos baalins e a Astarote {e a luta contra a Deusa Mãe continuava}. Então a ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos. E os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor levantou-lhes um libertador, que os libertou: Otniel, filho de Quenaz, irmão de Caleb, mais novo do que ele. Juízes 3:1-9


Tertius Chandler, historiador e escritor norte-americano, professor Berkeley e conferencista, especializou-se em Moisés. Traçando um paralelo entre o Livro Juízes e as lutas travadas no período turbulento de Akhenaton, Chandler observou que, curiosamente, em 1329 aC- justamente quando Tutankhamon abandonou Amarna - um novo juiz chamado Otniel foi nomeado. O Livro Juízes nos diz pouco sobre Otniel, exceto que ele era, supostamente, filho de Quenaz e que ele recebeu a filha de Caleb em casamento por ter derrotado o rei da Mesopotâmia, e que ele libertou os israelitas do controle dos mitanianos. Esta é uma informação esparsa para uma figura central em um ponto crucial na história dos israelitas. No entanto, existem também divergências significativas sobre as identidades de Otniel, Kenaz e Caleb, na forma como a história foi contada no Tanakh, no Talmud, no Alcorão e em Flávio Josefo. Estas narrativas divergentes sugerem que os escribas estavam tentando justificar algo que não podia ser dito claramente. Então, quem era o verdadeiro Otniel?

Segundo Chandler, “Otni” é a forma combinatória de Aton+El, onde El é o Supremo Deus Criador cananita cultuado pelas tribos hebraicas que se assentaram no norte da Palestina. Portanto, Otniel é a contração dos nomes de duas divindades, uma egípcia e a outra cananita. E para alguém com um nome atenista ser colocado no comando, precisamente quando os atenistas foram exilados de Amarna, certamente não foi uma coincidência. A inferência inevitável é que Otniel era um dos sacerdotes de Aton.


Ocorre que o culto a Aton praticado por Akhenaton havia excluído a intermediação dos sacerdotes e era praticado exclusivamente pelo faraó. Sendo Moisés o membro mais notável, ele era o candidato mais provável para o cargo de juiz. A própria Torá identifica Moisés como o primeiro juiz. (Atos 7:35 e Êxodo 2:14) "E ele libertou os israelitas do controle dos mitanianos." Ocorre que alguém de ascendência mitaniana não poderia livrar ninguém do controle mitaniano. Otniel tinha que ser alguém de fora daquele clã. Se Otniel era Moisés, ele de fato era um egípcio, assegura Chandler.

http://qdl.scs-inc.us/2ndParty/Pages/5678.html


E a discussão não termina aqui. Em 1323 aC Tutankhamon morreu e sua esposa Ankhesenamun desapareceu pouco depois. Em Juízes, é dito que Otniel recebeu a mão de Aksah em casamento.


Mas, quando clamaram ao Senhor, ele lhes levantou um libertador, Otniel, filho de Quenaz, o irmão mais novo de Caleb, que os libertou. O Espírito do Senhor veio sobre ele, de modo que liderou Israel e foi à guerra. O Senhor entregou Cuchã-Risataim, rei da Mesopotâmia, nas mãos de Otniel, que prevaleceu contra ele. Juízes 3:9,10


É possível que Ankhesenamun não estivesse interessada em Ay (ou vice-versa ) e optou por se casar com o vizir de Akhenaton, Ramose (que também pode ter sido chamado Otniel ou Moisés), e a partir de então ela ficou conhecida por seu apelido “fontes superiores e inferiores” {Juizes 1:15 e Josué 15:19} uma referência para identificá-la como uma ex-rainha do Egito. Talvez tenha sido este o casamento cuxita que Aarão e Míriam criticaram, e não o seu casamento com Zípora. Um pedaço da tradição judaica publicado pela primeira vez em 1.552 da era comum (isto é, antes de os hieróglifos egípcios serem decifrados e antes de Amarna ser desenterrada) concorda que a esposa cuxita de Moisés era uma ex-rainha, que se casou com Moisés depois que o rei morreu. Esse relato é consistente com Ankhesenamun casando com Moisés após a morte de Tutankhamon. Passou a dar seu nome – Adoniya - Adonith - que era um nome atenista, sugerindo que ela tinha sido uma rainha em Amarna. Se estamos procurando uma rainha em Amarna, de ascendência etíope, cujo marido faraó morreu depois de 1329 aC, Ankhesenamun é a única candidata.

https://medium.com/discourse/could-moses-have-been-the-pharaoh-akhenaten-ff650eec590a


Inúmeras teses e dissertações sobre o enigmático Moisés estão sendo feitas mundo afora. Jayne Margaret Vine defende em sua dissertação Moses son of Akhenten? A study of archaeology and textual perspectives {Moisés filho de Akhenaton? Um estudo de arqueologia e perspectivas texuais – tradução livre}, de fevereiro de 2015, a hipótese de Moisés ser filho de Akhenaton, sendo sua mãe biológica uma princesa mitaniana, tendo Nefertiti como madrasta. Várias semelhanças entre Akhenaton e Moisés são discutidos ao longo do estudo. Jayne M. Vine e outro arqueólogo pesquisam a tumba do escriba-chefe de Akhenaton eles encontraram hieróglifos mostrando o faraó segurando algo que se parece com tábuas de pedra sobre sua cabeça. A imagem parece estranhamente familiar às representações de Moisés segurando as Tábuas da Lei. Muitos historiadores acreditam que Akhenaton transferiu a capital para Amarna para minar os sacerdotes de Tebas, mas outros insistem que Akhenaton foi forçado ao exílio e fugiu para o norte com o exército tebano em perseguição. Se esta versão estiver correta, soa muito como o relato bíblico de Moisés conduzindo seu povo ao Êxodo.

http://uir.unisa.ac.za/bitstream/handle/10500/19239/dissertation_vine_jm.pdf?sequence=1&isAllowed=y


Outro autor moderno que se debruçou para explicar as complexidades dos eventos que deram surgimento ao monoteísmo foi Jan Assmann. Ele demostra como o judaísmo negou aos egípcios qualquer parte na origem de suas crenças e os condenaram como idólatras politeístas, iniciando o ciclo em que toda religião que se estabelecia como verdade, denunciava as anteriores como falsas.

Jan Assmann, "Moses the Egyptian: The Memory of Egypt in Western Monotheism"
https://academic.oup.com/ahr/article/104/3/1039/49805


Wikimedia Commons

Os estudiosos antigos e modernos trazem à luz o malabarismo feito por aqueles que escreveram os livros sagrados para tratar como inédita e original a vida dos primeiros patriarcas, sobretudo a vida de Moisés. Embora arqueologicamente não comprovada, a existência de Moisés é uma das mais enigmáticas do mundo antigo e está profundamente relacionada com a história do herético Akhenaton, que provocou a maior revolução religiosa do Egito.


Ambos nasceram na região do Gósen, no nelta do Nilo. A religião estabelecida por Moisés durante as peregrinações no deserto foi, na verdade, uma interpretação pessoal da religião solar do Templo de Om, em Heliópolis. O Baixo Egito, foi governado durante séculos pelos Hicsos, também chamados de “Reis Pastores” que trouxeram o culto solar no qual Moisés foi instruído quando era um jovem príncipe da casa real. E se Moisés não fosse um hebreu, mas de fato um egípcio de nascimento nobre, certamente envolvido com o sacerdócio da época? E se Akhenaton, que também cresceu no Gósen, era de fato um descendente dos israelitas que viveram secularmente no delta do Nilo? Que segredos mais eles guardam?




Talvez nunca se saiba se estes personagens foram essencialmente um, contudo, certamente é possível chegar a uma conclusão sobre o tipo de monoteísmo que cada um professou e instituiu. O monoteísmo de Abraão e Moisés é patriarcal e excludente, as mulheres não podem ter qualquer papel que não o da total submissão. As três religiões que descendem de Abraão excluem a mulher de suas estruturas. No entanto, Akhenaton elevou a mulher, sobretudo sua esposa Nefertiti, ao papel de estadista e grã sacerdotisa. Aliás, os documentos de Amarna evidenciam que sua mãe, Tiye, já desempenhava sobejamente esse papel, assim como o de outras mulheres da 18ª Dinastia. Do ponto de vista da participação da mulher, estes dois monoteísmos são muito diferentes. Se os resultados são opostos, como podem esses dois personagens terem sido o mesmo?


Para entender as diferentes narrativas sobre Akhenaton e Moisés e suas concepções religiosas é preciso entender a época em que eles viveram, bem como colocar em paralelo o que dizem os chamados livros sagrados com as recentes referências científicas que têm vindo à tona após as escritas cuneiforme, demócrita e hieroglífica terem sido decifradas. Apesar de já se saber muito, apenas uma pequena parte foi decodificada. À medida que novas informações venham à tona, certamente a história será reescrita. É hora de estudar e aprofundar o conhecimento com olhos do século 21, e talvez se descubram histórias diferentes das narrativas que foram propagadas e, dispondo de mais fontes que simplesmente a fé, se possa chegar a outras conclusões.




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